Vinte.

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Dia 41- Depois do apocalipse.


Eu estava na boca do fogão, mexendo uma panela de sopa. Luana descobriu que a sopa rendia mais, e dava para mais dias, para mais pessoas comerem, desde então, ela não cozinhou nada que não fosse líquido.

Não era difícil ver as mudanças no rosto de todos. A Colômbia passou quase despercebida na nossa rota, apesar de ser linda.

Entramos no Panamá as duas da tarde. Mudei oficialmente o mapa que ficava no painel, para sempre seguirmos o plano.

Eu voltei a dirigir ontem. Assumi com prazer o volante, já que eu amo dirigir. Minhas pernas já não doíam quando eu andava, e isso deixou bem fácil dirigir.

Estava de madrugada, a única pessoa acordada era Lara, e estava bem ao meu lado.

André dormia deitado no banco nas minhas costas, com uma almofada e um cobertor.

Bruna deitava no chão a sua frente, um pouco longe de suas irmãs, que estavam perto do gerador, o que ela não costumava fazer.

Marina se remexia no colchão, provavelmente tendo um pesadelo. Isso me fez ter vontade de acorda-la, e abraçar minha irmã. Marina era minha gêmea, e agora que eu conhecia ela, parecia que comecei a sentir o que ela sentia. Já ouvi que isso acontecia com gêmeos, e a Mari era minha gêmea.

_ E então? Como estão as coisas?_ Lara puxou papo._ Faz tempo que não conversamos só nós duas. Na verdade, desde o apocalipse. Costumávamos ter conversas intermináveis em São Paulo.

_ Isso é verdade. Faz mais ou menos um mês._ Eu dei uma risadinha._ Acho que está tudo bem. Não tinha quase zumbis na Colômbia, foi fácil atravessar?

Era uma pergunta, mas Lara demorou um pouquinho para entender.

_ Foi relativamente fácil. A estrada não tem luz, e algumas nem asfalto. Mas gostei até. Consegui melhorar minha hablidade de direção._ Ela respondeu, olhando pela janela. Estava escuro, e eu não conseguia ver muita coisa além da lua que iluminava o oceano._ Mas não é só isso que eu queria saber. Seu relacionamento está indo bem?

_ Está._ Me senti corar. Eu não deveria corar quando me perguntassem sobre o André. Não é como se tivéssemos namorando escondido.

_ Já tiveram alguma DR?

_ Não. Por enquanto está tudo um mar de rosas. Mas as rosas sempre tem espinhos não é?

_ Nossa, desde quando você é dramática e sentimental?_ Lara riu._ Onde está a Hanna forte que carrega uma espingarda, e sobreviveu a descobrir que é adotada, tem uma irmã gêmea, e possivelmente é órfã?

_ Eu posso não ser órfã dos meus pais biológicos._ Rebati, um pouco mais ríspida do eu eu gostaria.

_ Desculpa. Eu sei, mas isso não deixa de ser uma opção. Estou meio que te preparando._ Lara me olhou nos olhos, e eu fiz o mesmo. Ela tinha olhos castanho claros.

Suspirei.

_ A Mari precisa de mais apoio do que eu.

_ Mas eu não sou a irmã dela, você é. Como vai poder apoiar a Marina se ninguém te apoiar?

_ Não preciso de apoio.

_ Precisa sim!

_ Não preciso.

_ Você nunca foi mentirosa Hanna. Por que começar agora?_ Lara colocou tédio na vós. Eu ODIAVA a vós de tédio dela!_ Também nunca foi orgulhosa. O orgulho tomou conta do seu corpo, depois de achar sua irmã.

_ Isso não é orgulho. É ser forte._ Olhei para frente. A estrada estava um breu total.

_ A linha entre o orgulho e a força é muito fraca. Mas você atravessou ela a muito tempo, para o lado do orgulho._ Ela continuava a falar com a vós de tédio. Eu estava ficando irritada.

_ Para de falar assim._ Disse trincando os dentes.

_ Assim como?_ Ela carregou mais o tédio na vós. Eu estava quase tendo um ataque.

_ Essa vós! Me irrita e você sabe disso._ Estava quase dando um soco no vidro

_ Sorry._ Ela riu, voltando a vós normal._ Mas você sabe que é verdade.

_ Huuuuuuuuuuuuuum... Eu sei, mas não gosto de admitir.

_ Hehehehehe._ A risada da minha melhor amiga era estranha. Eu ri disso.

Em menos de três segundos, nós duas estávamos tentando segurar a risada para não acordar ninguém. Falhamos miseravelmente. As gargalhadas ecoavam, mas felizmente, ninguém acordou (mesmo a Clara se remechendo muito no colchão).

Quando finalmente conseguimos parar de rir, eu disse.

_ Você sabe que sempre foi minha melhor amiga._ Ela se espantou um pouquinho, mesmo sempre sabendo que era verdade.

_ Você foi minha única amiga por anos. Eu devo mais da metade da minha vida a você Hanna._ A gratidão estava implícita na vós da Lara._ E quando eu precisei, você fugiu comigo.

Fiquei em silêncio. Os meus olhos diziam tudo o que eu queria falar.

_ Por que tá quieta.

_ Cansaço._ Eu disse.

_ Ok... Vou deixar você com seus pensamentos._ Ela saiu para a parte de trás, adormecendo.

De manhã, as coisas começaram a esfriar na perua. Uma ventania calma, mas fria, batia nos meus cabelos.

_ Queria que essa estrada não fosse tão esburacada. Está me deixando de estômago embrulhado._ Clara reclamava na parte de trás da perua.

_ Desculpa Aninha, mas eu não posso mudar o asfalto._ Eu dei uma olhadinha pelo espelho, vendo a garotinha fazer bico e chacoalhar enquanto eu dirigia._ E estou dirigindo o melhor que posso.

_ Nhe...

_ Prometo que vai melhorar, tem uma cidade ali, o asfalto parece ser melhor._ Avistei casas de tijolo, algumas rebocadas, mas a maioria apenas com paredes de tijolo normal. Acho que ficaria devendo bons asfaltos desta vês.

Entramos na cidade, e melhorou um pouco, muito embora quase nada. Dei um risinho sarcástico.

Ouvimos um barulho. Quatro na verdade. Quatro barulhos de tiro.

_ A não... Ferro._ André disse._ São milícias...

Os pneus murcharam. Eu não consegui mais andar, a perua estava parada.

Vinte e poucas pessoas, saíram das casas, ruinhas e vielas, que estavam aparentemente vazias. Todos tinham grandes armas nas mãos.

_ Parar ahora! Estás rodeado!*_ Não era muito difícil entender que estávamos cercados._ Salgan con las manos em alto!*

Devagar as pessoas abriram as portas da perua, de onde nós saímos com as mãos para o alto.

_ Q-quem são vocês?_ perguntei baixo para a pessoa a minha frente.

_ Oh! Los brasilenos! La gente es tan curioso! Somos la Milicia Esmeralda niña.*

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Oieee Pipocos! Vou botar aqui a tradução em português de tudo o que eles disserem okay? Okay.

* Parem agora! Estão cercados! Saiam com as mãos para o alto!

* Oh! Brasileiros! São pessoas tão curiosas! Somos a milícia Esmeralda garotinha.

Like e comente. Espero que gostem. Tia Jujuba. ;-)

Hanna Contra O Apocalipse Zumbi.( Concluído e EM REVISAO)Onde histórias criam vida. Descubra agora