Octavia

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- Um Donuts de chocolate e um café reforçado saindo agora! - Emma anotou meu pedido e se dirigiu ao balcão.

Olho pela janela as crianças brincarem, de galochas e capas de chuva, elas pisam nas poças d'água. Um pequeno infinito de alegria.

Parou de chover a meia hora atrás, tempo que levei para vir andando até aqui, meu novo Canto de Refúgio Para Dias Nem Tão Bons Assim.

O tempo está mais frio agora, mesmo em North Rivers, o que é uma coisa bem estranha. Faz sol pela manhã, de tarde chove, a noite esfria, ou acontece todo o contrário. Parece até que o tempo sabe quando as coisas não estão indo bem e resolve desabar junto. É como ter alguém com quem dividir a dor, é perceptível, papável.

Encaro o guarda-chuva preto do outro lado da rua e o dono dele.

Harry entra pelas portas do café fazendo o tilintar da campainha preencher o local. Ele está de casaco preto hoje, os cabelos ruivos tem as pontinhas molhadas pela chuva, as mãos formam concha perto do rosto, tentando se aquecer.

Sinto sua presença me acalmar quando ele finalmente se senta a minha frente.

Estou encostada no vidro frio, posso sentir seu olhar em mim, aquela pergunta permanente marcando o seu semblante "Você está bem?".

- Sabia que te encontraria aqui - ele tenta sorrir, algo está o chateando e eu posso ser o "algo" - você tem fugir de mim nos últimos dias.

Então é isso. Penso em como dizer para ele que estou destruída, que tia Olívia tinha sido minha mãe desde que me conheço por gente, em como estou tentando não chorar ou simplesmente quebrar algo por pura frustração, porque, pela manhã ela não irá nunca mais acordar.

Mas essa dor, tudo isso não é motivo para machucá-lo, Deus sabe como tento desesperadamente parecer que estou bem.

- Eu...

- "Eu estou bem, eu só estive ocupada", eu sei que você iria dizer isso O - ele não está com aquela expressão de dor que eu imaginei que criaria se o machucasse, e para provar que está aqui para curar qualquer ferida, ele sorri, simplesmente sorri - você não precisa aguentar o mundo O, não que eu seja o melhor exemplo, o melhor cara do mundo, mas sabe... eu estou aqui por você.

Não resisto e puxo sua mão para os meus dedos entrelaçando-os. Posso sentir sua respiração, ele espera por uma resposta, algo que não o faça pensar que estou me afastando.

- Eu não sou tudo isso Harry, você sabe, não é? - tento ser forte, mas quem é forte em uma hora dessas? - eu posso ser a pior pessoa do mundo, ou a melhor, quem sabe? - respiro fundo - o que eu estou tentando te dizer é que...

- Eu sei O.

Olho-o espantada, mas ele tem sinceridade no olhar, algo tão puro e verdadeiro que me sinto coagida.

- Você está me dando um fora?

Eu o que?

- Eu não sei... eu não te sinto realmente aqui, entende? Até parece que está me evitando, ou tentando não chegar nesse assunto. - Ele desvia os olhos para qualquer outro ponto, Emma nos vê e volta com meu pedido para trás, talvez ela tenha percebido, talvez todos do mundo tenham percebido - você não sente o mesmo por mim, não é? Porque, naquele dia, quando cheguei no hospital... eu... eu te vi com o Theo e...

- E o que? - pergunto como num sussurro - me viu chorando e...

- Eu vi o jeito que ele te olhava, você perdeu tudo e ele também. Era como se... como se eu estivesse sobrando O... eu me senti um empecilho - ele fala com tanta naturalidade que chega a doer - você sente algo por ele, não é?

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