Victor

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Quando Emma entrou pela porta do quarto meu coração saltou do peito. Ela tinha nas mãos a cópia da chave que entreguei meses antes. Os olhos estavam muito vermelhos e seus lábios tremiam suavemente. Ela estava linda, com um vestido azul royal de alças finas e pregas na cintura. Me sentei na cama esperando que ela se pronunciasse, mas em vez disso, começou a abrir gavetas e puxar todas as roupas que pudesse. Notei tardiamente que se tratavam das roupas dela.

— Em? O que você está fazendo? — agora me sentei mais ereto, percebendo por fim, que ela estava me ignorando. Suas mãos ainda estavam em movimento dobrando e guardando numa mala tudo o que lhe pertencia.

Ela não me deu ouvidos e eu senti algo em mim se partir em milhões de pedaços. Ela estava indo embora. Que tipo de garota leva tudo o que é dela? O tipo de garota que quer ser esquecida, que está indo para sempre.

—Em? — Tentei mais uma vez não aguentando o clima tenso que se formava no ar — fale comigo, aconteceu alguma coisa?

Pela primeira vez, seus olhos encontraram os meus, os mesmos olhos que eu admirava todos os dias acompanhados de um sorriso bondoso ou de um bom-dia feliz. Agora eles choravam, me deixando preocupado, eu tinha medo que ela se machucasse.

Seus dedos foram até os cabelos presos num coque mal feito. Ela puxou uma mecha que lhe cobria o rosto para o lado e respirou fundo.

— Zac me beijou.

A encarei através da luz fraca que vinha da sala. Ela tremia por inteira. Tentei absorver a notícia, mas não pude deixar de achar impossível o que ela estava me dizendo. Emma não era sim. Ela não teria feito aquilo, então...

— Ele te forçou Em? — Me levantei depressa e segurei seus ombros, virando-a para mim, olhando em seus olhos.

Ela não me respondeu e eu tremi.

—Em? — Fechei os olhos tentando me controlar, aquilo não estava acontecendo, não podia ser — Só me diga uma coisa, tudo bem?

Ela acenou que sim, lágrimas teimosas ainda brotavam dos seus olhos.

— Você o empurrou? Você... você disse para ele parar, não disse? — Tentei soar confiante ao perguntar, mas meu rosto me denunciava.

Então ela negou e se afastou de mim, seguindo novamente para a mala, guardando suas últimas coisas. O zíper se fechou irrompendo o silêncio e seus passos seguiram até a porta. Eu permaneci parado onde estava observando-a partir e como um covarde, deixei que fosse.

— Adeus... — Suas palavras soaram tristes e distantes.

Meu celular vibrava em cima da mesa. Eu sabia quem era antes mesmo de olhar, havia evitado essa pessoa o máximo possível tentando deixar Emma feliz, mas agora o meu mundo estava de ponta cabeça e eu não tinha mais um motivo para não atender.

— Stella? — Perguntei.

— Oi Vivi, tudo bem? Tentei te encontrar desde que cheguei, mas você não atendia o celular! — A voz da minha ex soou, me fazendo pensar em como a voz de Emma era mais suave do que a dela e mais gentil sempre me deixando calmo. Balancei a cabeça tentando dissolver esse pensamento em pequenas partículas. — Vamos sair?

Olhei para porta visualizando Emma saindo minutos antes. Minha cabeça latejava e tudo o que eu mais queria era acordar desse pesadelo. Ela se foi, digo para mim mesmo. Ela se foi, cara. Pra sempre.

— Tudo bem, te encontro amanhã no café.

Rumo ao TopoOnde histórias criam vida. Descubra agora