Capítulo 39

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- Seu cabelo está no caminho, - ele disse em certo ponto. - Você não está apenas bloqueando sua visão periférica, você está correndo o risco de deixar seu inimigo buscar apoio.

- Se eu estivesse mesmo numa luta, eu usaria preso. - Eu resmunguei enquanto empurrava a faca por entre as "costelas" do boneco.

Eu não sabia do que esses ossos artificiais eram feitos, mas eles eram uma merda para desviar. Eu pensei sobre minha mãe de novo e adicionei uma força extra no golpe.

- Eu estou apenas usando solto hoje, só isso.

- Isa,- ele disse preventivo.

Ignorando ele, eu empurrei de novo. A voz dele veio mais afiada da próxima vez que ele falou.

- Isa. Pare.

Eu me afastei do boneco, surpresa por encontrar minha respiração difícil. Eu não tinha me dado conta que estava trabalhando com tanta força. Minhas costas bateram na parede. Sem lugar pra ir, eu olhei pra longe dele, direcionando meus olhos para o chão.

- Olhe para mim, - ele ordenou.

- Eduardo-

- Olhe para mim.

Não importava nossa história de proximidade, ele ainda era meu instrutor. Eu não podia me recusar a obedecer uma ordem direta.

Devagar, e relutante eu me virei para ele, ainda colocando minha cabeça um pouco para baixo para que o cabelo ficasse do lado do meu rosto.

Se levantando da cadeira dele, ele andou para perto e parou na minha frente.

Eu evitei seus olhos, mas vi sua mão se inclinar para frente para tirar meu cabelo do resto.

Então ele parou. Assim como a respiração dele. Nossa atração meio vivida tinha se enchido de perguntas e reservas, mas uma coisa eu sabia com certeza: Eduardo tinha amado meu cabelo.

Talvez ele ainda amasse. É um ótimo cabelo, eu admito. Longo e macio e Claro. Ele costumava encontrar desculpas para tocá-lo.

A mão dele pairava sobre ele, e o mundo parou enquanto eu esperava para ver o que ele faria.

Depois do que parecia uma eternidade, e deixou sua mão gradualmente cair ao seu lado.

O desapontamento queimou e se apossou de mim, e, no entanto, ao mesmo tempo, eu entendi algo. Ele hesitou. Ele tinha ficado com medo de me tocar, o que talvez, apenas talvez significasse que ele ainda queria. Ele teve que se segurar.

Eu devagar inclinei minha cabeça para que pudéssemos fazer contato visual. A maior parte do cabelo saiu do meu resto, mas não todo. As mãos dele tremeram de novo e eu esperei de novo que ele a inclinasse para frente. A mão se firmou. Minha excitação diminuiu.

- Dói? - ele perguntou. Ele estava serio, e parecia não gostar do que via.

O cheiro daquele pós barba, misturado com seu suor, se apoderou de mim. Deus, eu queria que ele tivesse me tocado.

- Quem fez isso com você? - Perguntou trincando o maxilar.

Eu me mantive em silencio olhando para o chão, quando uma lagrima involuntária desce sobre meu rosto.

Quando percebi Eduardo já estava na minha frente segurando a lateral do meu rosto me fazendo encara-lo.

Eduardo

Quem poderia ter machucado a minha Bella. Quem quer que seja vai pagar muito caro. De qualquer forma ainda tenho que manter o controle.

Nos ainda estávamos muito próximos eu não conseguia me afastar dela. Eu não queria me afastar dela. Eu tentava buscar aquele autocontrole, mas nada. Ele não vinha. Foi quando ela fez o que eu estava prestes a fazer. Ela me beijou. E eu correspondi, eu não podia impedir aquilo, era o que eu mais queria.

Sentir novamente os lábios dela, ali doces e quentes, despertou em mim aquele desejo que eu tinha trancado. Eu a trazia para mim e parecia que quanto mais apertava meu corpo contra o dela, não era o bastante. Minha outra mão percorria seus cabelos, aqueles cabelos que eu tanto adorava tocar. Como eu queria ela para mim.

Aquele pensamento me fez para e recuar, dando alguns passos para trás. Eu perdi todo o meu controle. Eu só podia estar louco.

- Você, não deveria fazer isso - falei duramente. - Isso é errado.

- Mas-

- Não faça mais isso - a interrompi.

O olhar dela ainda me deixava bastante tonto, eu lutei para restabelecer meu controle para tentar fazer parecer que não tinha acontecido nada demais.

Eu fechei os olhos e respirei fundo. Meus pensamentos em russo saíram em palavras, sem que pudesse impedir.

- Eu sou um idiota, um idiota fraco.

Tudo que eu queria era voltar para ela e continuar a beijando. Mas não posso. Sai dali antes que eu perdesse o controle novamente.

Cheguei ao meu quarto com todo aquele sentimento me dominando. Um sentimento que eu conhecia bem e que sabia que era difícil de guardar quando ele se manifestava. Meu Deus, como eu a amava, como eu queria poder ficar com ela.

Sentei na cama, ainda com a respiração alterada, era como se pudesse ouvir meu coração batendo dentro de mim. A vontade que eu tinha era de voltar para aquele ginásio e beija-la novamente e novamente. Deixar tudo de lado e me entregar a ela.

Eu não podia ignorar aquele beijo. Desta vez não. Foram só os nossos próprios desejos. O pensamento de que Isa também me queria, de que ela também sentia o mesmo, não ajudava nada naquela batalha interna que eu estava travando. Mas ela sentia e isso tinha ficado bem claro. Ela não teria uma reação tão forte daqueles se quisesse apenas me expor.

Eu deitei na cama ainda com aquele turbilhão de pensamentos dentro de mim. Fiquei ali em um tempo determinado até sentir minhas emoções se normalizando.

Finalmente quando eu consegui pensar coerentemente, decidi que tinha que me afastar dela. Mesmo que fosse provisoriamente.

Era isso. Eu devia repensar a minha vida, pensar na proposta de Natasha, e a presença de Isa só me influencia para seguir somente um caminho.

Fui até a escrivaninha e puxei uma folha de papel. depois de pensar várias desculpas, eu escrevi um pequeno e indiferente bilhete para Isa. Se ela acha que é só mais uma aluna para mim era assim que eu iria trata-la de agora em diante.

Isa,

Devido aos festejos de natal e os preparos para a viagem a Idaho, estou cancelando os treinos dos dois próximos dias. Apenas aulas deste ano da Academia estão mesmo para acabar, parece razoável tirarmos uma folga dos nossos treinos.

Eduardo.

Quando saí do quarto, deixei o bilhete com a inspetora do prédio de Isa para ser entregue a ela. Evita-la parecia ser a atitude mais sensata agora. Eu realmente não sabia como iria reagir se a visse novamente, principalmente quando a sensação daquele beijo era ainda recente em mim.

Eu podia ser beijado por muitas mulheres no decorrer da minha vida, mas nenhuma era como Isa, nenhuma tinha causado em mim tanta sensação de perda de sentidos como ela.

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