Capítulo 53

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  Assumo o Hing novamente, sobre aplausos que obviamente não eram destinados a mim, mas sim ao King Kong. Lição do dia: nunca escolher um codinome tão brega.

-Escolham seus adversários!

     Me posiciono em frente ao campeão, que sorria provocante. Seus olhos me atingem, e por um segundo, vejo neles a surpresa. Agora fora minha vez de corresponder as provocações.
      O sinal é dado, e a disputa começa. Sem maiores demandas, seus punhos traçam o caminho até o meu rosto, no entanto, graças a sua falta de agilidade, desvio fácilmente de suas investidas. Acho que isso vai ser mais divertido do que pensava.
     Desfiro um chute em sua costela, movimento​ do qual foi feito com um certo esforço, pois sua estatura era bem maior. Apesar da força que o atingirá, ele permaneceu lutando, como se nada tivesse acontecido.
     Novamente me esquivo de suas tentativas falhas de me acertar, gerando o alvoroço do público, que se animavam mais no decorrer da luta.
      Corro até as redes elásticas que demarcam o limite do hing, tomando impulso para saltar e pousar sobre os ombros do grandalhão. Enrolando as pernas no seu pescoço para sufoca-lo.
          Essa tática até funciona durante alguns minutos, o vermelho da sua cabeça o delata, mas logo depois, sou lançada contra as redes.
       Sinto algo quente escorrer pela minha testa, transmitindo uma sensação de esquisita.
         Furiosa inicio uma sequência de socos e chutes nos seus "Países baixos". Porém logo recebo uma rasteira , e atinjo o chão novamente.
         De relance vejo-o  subir nas redes pra saltar com todo o seu peso sobre mim. Antes disso,  rolo para o lado e sinto o chão tremer com o impacto deste contra o chão. Aproveito  seu corpo jogando, e o imobilizo com as pernas.
     Por mais que ele possua força, seria quase impossível escapar do meio das minhas pernas novamente. Um pequeno truque aprendido com o Jack, que agora agradeçia.
          Socos e beliscos não me faziam desistir, continuava apertando, casa vez mais.
         Depois de alguns minutos, sua cor já não era a mesma, ouso suas batidas no chão, que anunciam o fim da disputa. Levanto, vendo que Diogo já terminara sua luta, juntando-se a platéia na algazarra.
       Apesar dos meus ossos sentirem que foram mutilados e do cansaso que começava a tomar conta do meu corpo, não podia evitar estar feliz.
     
-Nós ganhamos! -grita.

      Um homem vestido de branco aparece, erguendo nossas mãos pra cima para anunciar os novos vencedores.
    Novamente a grande gritaria se espalha, percebo uma movimentação estranha em um dos cantos, de caras que pareciam não estar satisfeitos com os resultados. Provavelmente um dos apostadores.

-Acho melhor nós descermos... - cochicha Diogo.

      Concordo, e nos dirigimos diretamente ao vestiário. Precisávamos sair, e quanto mais rápido, mais seguro estaremos.

-Aqueles caras não pareciam felizes por termos ganhado. - murmuro.

-Eles fizeram uma aposta grande na vitória do King Kong, mas pelo visto sairam perdendo.

- Vamos limpar isso em outro lugar, você está horrível.

-Valeu pela sinceridade...

-Foi mal, acho que você cortou seu supercílio.

-Droga! Maldito macaco!  - irrito, passando as mãos sobre o corte. - Você não esta tão diferente de mim, seus lábios estão inchados.

     Ele toca nos lábios, fazendo caretas de dor. Marica.

(•••)

-Argh! Isso dói!- protesto.
 
    Diogo me ajudava a desinfetar o corte, mas o único que tinha era álcool.

-Deixa de reclamar, você tem sorte  de não estar inchado, apenas cortado.

      Depois de longas sessões de tortura, Diogo nos guia à sala de pagamento, onde receberiamos o nosso prêmio. O plano era sair, pra depois nos limpar, mas o meu corte começava a dar sinal vida, com pontadas, e isso não era bom.
   O galpão já tinha esvaziado, e apenas alguns lutadores circulavam por alí. Era uma pequena sala, com uma mesa e duas cadeiras, no entanto tudo ali se resumia a sujeira. Um homem de barba branca sentado do outro lado da mesa, conferia o conteúdo da maleta. Seu rosto não me inspirava confiança.
     
-Ai estão os meus campeões!

-Senhor Caul... - cumprimenta Diogo.

-Essa moça, quem é?

-Natasha. - respondo.

-Bem Natasha, parabéns, nunca vi uma mulher lutar tão bem.

-Obrigada.

    Apesar dos elogios prestados, continuava seria, algo nele delatava sua falta de caráter.

-Bom, aqui está o dinheiro de vocês...- murmura estendendo a maleta para Diogo, mas faço questão de  pegá-la antes.

      Abro e verifico se está tudo certo.

-Podemos ir.

   (•••)

      Como sempre, fui a última a acordar. Sara e Mari já tinha descido para tomar café. Confesso que essa noite foi um pouco difícil de pegar no sono, a dor nos meus ossos não me deixavam em paz.
       Verifiquei os armários do banheiro, em busca de algum remédio que milagrosamente curasse a minha dor. Três cápsulas seriam suficientes.
        Meu reflexo não havia melhorado naquela manhã, continuava com a mesma cara de morta do  o dia anterior. Meu supercílio agora estava inchado, e o canto dos meus lábios inchados, mas isso era quase imperceptível.
      Procuro por Band-aid mas pelo visto já não tinha mais nenhum ali guardado. O jeito era fica assim, e inventar a melhor das  a desculpas.
       Desço em direção ao refeitório, mas antes esbarro propositalmente em Diogo, afinal eu deixei o dinheiro com ele, com certeza teria de cobrar. Ele parecia adivinhar a razão de estar ali.

-Amanha atarde vou sair, e deposito na sua conta, é só me passar o número .

-Pode deixar.

-Por que não usou um band-aid nesse treco?!

-Infelismente acabou.

         Seguimos juntos até a mesa para o café. Esperava que meus amigos não  percebessem o nosso estado, assim não precisaria contar mentiras desnecessárias.

-O que aconteceu com vocês dois?!- indaga Sara.

-Eu cai da escada.- minto me sentando ao lado dela. - Mariana deixou de novo suas botas lá.

-Não lembro de ter...

-E eu mordi meu lábio sem querer... - interrompe Diogo.

-Que espécie de ser morde o lábio sem querer? - questiono recebendo um olhar irritado.

-E que espécie de ser cai da escada? - contra ataca.

-Qual é, vocês não me enganam! - diz Simon, preocupado.

-Natasha, você não tem mais motivos para estar assim. - continua Simon, se referindo ao fato de ter saído da OSCU - Não precisa mais lutar.

      Diana e Agus apenas observavam a cena, conversando enquanto comiam, mas podia ver a preocupação nos olhos dele.

-Parabéns Sherlock Holmes, descobriu o mundo... - debocho.

-Deixem de pegar no nosso pé, já falamos o que aconteceu. - pergunta Diogo.

-Só acho suspeito. - diz Sara

-Concordo com a Sara. Natasha, você está com as coxas roxas de tantos hematomas!

-Primeiro que não são tantas assim. - Rebato.

-E segundo, desde quando você olha as coxas dela?! - questiona Mariana, enciumada.

-Briga! - diz Diana, abrindo pela primeira vez, a boca.

-Você ficou linda de verde Natasha ! - elogia Simon, tentando mudar de assunto, mas estraga mais ainda a coisa.

-Nossa amiga! Você tá de verde! - se impressiona Sara.

-Gente é só uma cor. - reviro os olhos. - Nem parece que você é boa em observar os detalhes.

    Minha cor preferida de uniforme era o laranja, raramente utilizava o azul, ou até mesmo o verde. Mas hoje, simplesmente decidi inovar. Às vezes isso faz bem.
    
-Admito que ficou diferente. - diz Diana.

-Acho melhor nós irmos...  já está quase na hora de começar a aula.

  

Agente MorganOnde histórias criam vida. Descubra agora