Seis♥

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Estava calma. Completamente sedada. Não chorava, gritava ou ao menos demonstrava toda aquela dor que sentia em meu peito. Não conseguia ao menos chorar.
Aquela manhã amanhecera com um sol lindo no céu, como de propósito. Harry permaneceu ao meu lado durante todo o velório e sepultamento. Luan e alguns outros primos vieram me abraçar, assim como meus tios e minha vó, que também estava sedada como eu.
Meu avô era meu segundo pai, eu o amava muito e ele já havia cansado de dizer que eu era sua neta favorita por ser a mais nova.
Quando eu vi que o caixão estava sendo abaixado, escondi meu rosto no peito de Harry e comecei a chorar. E ali foi o único momento que consegui chorar durante aquele dia.
- Eu gostaria de tê-lo conhecido melhor... – Harry falou enquanto dirigia. Eu havia me enterrado na poltrona do carro e olhava para minhas mãos. – Você o amava muito, não era?
Não respondi. Não precisava de respostas. E eu também sabia que ele não esperava nenhuma resposta minha.
Chegamos em casa e fui para meu quarto. Dormi durante todo o dia e noite. Queria esquecer tudo aquilo. Queria acordar e sentir que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Que quando acordasse teria minha vida. Teria minha vida de volta.

...

- Como se sente?
- Bem... – falei após tirar o termômetro da boca.
- É... – Harry olhou para o aparelhinho e sorriu. – A febre passou. Agora você precisa se alimentar.
- Eu estou sem fome.
- Eu sei, mas você vai ter que comer alguma coisa. Não pode ficar doente. Não temos dinheiro para enterrá-la agora.
Ri um pouco.
- Vem, vamos descer e comer alguma coisa... – Ele estendeu a mão e sorriu maroto. Hesitei um pouco, mas acabei aceitando.
Harry havia feito uma canja que cheirava da escada. Então finalmente senti minha barriga reclamar da fome. Fomos à cozinha e sentei. Coloquei um pouco de canja em meu prato e comecei a comer. Ele se sentou de frente para mim e ficou me observando comer.
- Eu falei com nossos pais. Eles estão tristes. Queriam até cancelar a viagem. Mas eu os convenci a não fazerem isso.
- É, eles tão certos de não cancelarem. Eles têm que se divertir. Fazia tempo que eles não tinham tempo para eles mesmos. Eles precisam descansar independente do que aconteceu aqui. Não podem ser fracos como eu.
- Ah, Lexi, não é fraqueza você amar quem é importante para você. Isso só mostra o quanto você é humana e o amava. E eles não voltam porque sabem que não podem fazer mais nada.
- Eu acho que tenho que te agradecer por esses últimos três dias... E te pedir desculpas...
- Não é o momento de agradecer ou pedir desculpas. Você sempre será minha irmã. Minha irmã mais nova.
Não disse nada. Não tinha nada pra dizer, na verdade. A trégua fora estabelecida naqueles dias. E por mais que quisesse odiá-lo, eu não conseguia.
Porém, cada vez que eu o olhava, ou ele simplesmente me tocava, eu sentia algo dentro de mim que não sabia explicar. E a única certeza que eu tinha era que não era um sentimento fraternal.
E ao final daquela noite eu me deitei, me virei sobre meu travesseiro e tive a plena certeza de que ele me olhava da mesma forma

...

A escola chegava a ser insuportável e as tardes sem o Bruce também. Porém, quando Harry chegava em casa à noite, eu sentia aquela alegria estranha. Passamos a conversar mais e descobri muitas coisas sobre ele. Ele adorava a Europa - tinha costumes europeus, como ser pontual, seco feito uma madeira e super ligado à política.
- Qual o lugar mais lindo que conheceu?
- É difícil escolher um... – Ele pensou um pouco, passando o guardanapo pelos lábios. – Mas a Nova Zelândia é de tirar o fôlego. Quero que minha lua-de-mel seja lá.
- E sua namorada? Como é?
- A Monick é encantadora. Às vezes ela é meio empolgada demais com as coisas. Mas ela é ótima. Eu a conheci no curso de medicina.
- Ah, ela também é médica?
- Sim, sim... Ela também é recém-formada, como eu.
- Eu fico feliz por você. – Sorri e ele retribuiu o sorriso.
- Quer ver filme?
- Qual?
- Eu aluguei alguns, vou pegar lá em cima...

Estava deitada no sofá com a cabeça nas pernas de Harry. O filme acabou e começou a passar os créditos finais. Fechei os olhos, estava com um pouco de sono. Mas não dormi. Harry passou a mão pelo meu cabelo e depois pelo meu rosto. Abri os olhos e nos fitamos. Ficamos um bom tempo assim, ele olhando para dentro de meus olhos. Foi quando sua outra mão pegou em meu rosto.
Ele levantou bruscamente e acabei caindo e batendo forte meu braço na mesinha de centro.
- Ah, Lexi, me desculpa... – Ele se abaixou para me ajudar e nosso olhar se encontrou. E fiz algo que nunca pensei que faria: eu o beijei. A princípio, tinha certeza que ele ia corresponder, mas ele me afastou bruscamente. – O QUE ESTÁ FAZENDO?
Eu não sabia o que dizer. Eu o havia beijado. Meu irmão.
- Nunca mais faça isso! – ele falou levantando e saindo. Fiquei alguns segundos parada no chão. Então vi que meu cotovelo sangrava. Levantei e fui à cozinha. Liguei a torneira da pia e deixei a água escorrer em cima do machucado. Fiquei olhando a água abundante descer e pensando em como eu podia ser tão ridícula a ponto de beijá-lo.
Foi quando senti seu toque em meu braço. Ele fechou a torneira e colocou um kit de primeiros socorros em cima da mesa. Ele me sentou na cadeira e começou a fazer o curativo. Eu não o olhava e nem ele a mim.
- Isso logo vai ficar bom se você souber cuidar.
- Eu vou saber.
- É bom, porque não vou poder cuidar de você pra sempre.
Senti uma raiva fora do normal invadir meu corpo. Eu não havia pedido sua ajuda e ele estava jogando na minha cara tudo que tinha feito por mim. Puxei meu braço bruscamente.
- O que foi? Eu não terminei!
- Não precisa, eu sei me cuidar.
- Pára de ser infantil!
- Pare você de me aturar! – Levantei da cadeira e ia andar para meu quarto, só que ele foi mais rápido e pegou em meu braço forte. – Me solta!
- Deixa eu terminar de fazer esse curativo – ele falou entre os dentes
- Pra você me jogar na cara? Não, obrigada. Prefiro morrer!
- Parece que vai voltar tudo de novo!
- Não, Harry, vai voltar tudo normal! Se está assim por causa do beijo, eu...
- Lexi, aquilo foi você! Você induziu.
- Ah, tá certo! E você ficar me olhando fixamente como se fosse me beijar não é nada, não é?
- Espera aí, você não está dizendo que a culpa é minha?
- É sim! Agora me solta!
- Eu sou seu irmão!
- Então, irmão, eu vou subir! – Me desvencilhei dele e saí da cozinha correndo escada acima. Fechei a porta do meu quarto e fui ao banheiro fazer o curativo. Voltei para o quarto e deitei na cama, abraçando meu macaco de pelúcia.

...

- Pra você – uma menina da minha sala sussurrou e me passou um papelzinho no meio da aula.
- Obrigada – agradeci sorrindo e virei, abrindo o papel com cuidado para o professor não ver.

Sábado vai ser meu aniversário e vai ter uma festinha.
Vamos?
Joss.

Olhei para ela e sorri fazendo um “joinha” com a mão.
Após a aula fui à casa de Karen dar uma olhada no lugar e depois fui para casa de Ryan.
-Você está bem? Está com o rosto triste – ele falou me dando um copo com água. – Fiquei sabendo do seu avô. Eu sinto muito.
- Eu estou bem.
- E o irmão?
- Eu sei lá daquela peste. Quero distância.
- Opa! O que ele deve ter feito você deve ter gostado muito ou odiado muito.
- Ele voltou para NJ, só isso. Ele é insuportável, completamente impossível e totalmente retardado. É impossível ter paz com ele por perto.
- O que foi que aconteceu?
- Estávamos até nos suportando. Mas ele conseguiu estragar tudo, aquele filho de uma mãe!
- Deixa eu adivinhar: você o beijou e ele ficou com raiva.
- E ele ainda jogou na minha cara tudo que fez por mim.
- Típico.
- Mas tanto faz! Eu pensei que ele fosse diferente.
- Ele está morrendo de tesão por você, eu sei.
- Ele não tá nada por mim. E não inventa nada. Como ele pode estar envolvido?
- Ele não quer aceitar o que realmente quer.
- Então ele vai morrer seco, porque eu não quero mais.
- Ah, você queria?
- Para! – Ri. – Idiota.
- Tem certeza que não quer?
- Tenho. Ele é um idiota.
- Isso não quer dizer nada.
- O que eu quero... – pensei um pouco – é me vingar dele.
- Se vingar?
- É, pra ele aprender a não brincar comigo.
- Eu tenho uma idéia infalível, mas requer de você um pequeno esforço.

...

Ouvi o barulho do carro de Harry e olhei pela janela. Ele saiu do carro e olhou para a janela do meu quarto. Me afastei um pouco para ele não ver que eu estava olhando ele. Fechei a cortina e me olhei no espelho. A roupa era um short e uma blusinha super curta que tinha ganhado de Karen. Eu nunca tinha usado aquilo por que não gostava de andar nua pela casa. Não sem um motivo de verdade.
Abri a porta do quarto e o ouvi subindo as escadas. Fechei novamente a porta e me escorei nela.
- Vamos lá, Lexi, calma.
Repassei mentalmente tudo que tinha que fazer. Então o ouvi fechando a porta de seu quarto.
Saí do meu e desci as escadas. Fui em direção à cozinha. Abri a geladeira e peguei a poupa de fruta e depois peguei o liquidificador no armário.
Comecei a fazer o suco e o senti entrando na cozinha. Sentia seu olhar em minhas costas. Olhei para trás e o vi parado. Voltei a olhar para frente e sorri de lado.
Abri o armário e tentei pegar o açúcar que havia colocado propositalmente em um lugar impossível para que eu pegasse sem uma cadeira.
- Vai ficar parado aí? Me ajuda aqui – falei e ele em silêncio e vagarosamente começou a caminhar até mim. E por trás de mim pegou o açúcar roçando em meu corpo. Agradeci sorrindo de lado.
Foi quando ouvimos a campainha.
- Eu atendo – falei e fui até a porta da sala e a abri. Era o entregador da pizza. Ele me olhou dos pés a cabeça e eu sorri. Harry observava tudo.
- Boa noite. – O entregador sorriu ao me ouvir. – Quanto é a pizza?
- Não precisa pagar. Pra você é de graça. – Ele piscou.
- Ah, que meigo de sua parte. – Sorri.
- Não, mas eu faço questão de pagar! – Harry falou com uma voz grave e passando a mão em sua calça, tirando sua carteira.
O entregador ficou todo errado e recebeu o pagamento, saindo logo em seguida.
- Ele havia me dado. Você pagou de idiota que é.
- É, né, Lexi? A custa de quê? Aposto que ele teria ficado se eu não estivesse aqui. E teria ido pra cama com você.
- E qual o problema, hein? Eu que iria,não VOCÊ!
- Você não existe.
- Existo! – Soltei uma gargalhada de desdém e voltei para a cozinha.
Começamos a comer, mas existia algo estranho. Era como se algo me mandasse partir para cima dele e beijá-lo. Mas o que fiz apenas foi provocá-lo. E ele estava irritado com aquilo, mas não deu o braço a torcer. E foi dormir com ódio.
A primeira parte estava tendo êxito. Agora faltava a segunda parte. Que era muito, muito mais interessante que a primeira.

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