Vinte♥

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Boa Leitura!

A noite estava estrelada. A igreja que Karen e Ryan iam casar era a mesma que Monick e Harry casaram cinco anos antes. Mas o local estava incrivelmente diferente. As cores que prevaleciam eram alegres, diferente do casamento de Harry.
Havia passado o dia com ela, depois de deixar meus pais em casa. Eu já tinha algo em mente e faria logo mais no dia seguinte, mas aquele também era o dia de Karen, minha prima e melhor amiga. E neste dia ela estava incrivelmente sorridente e brilhante. Radiante é a palavra. Estava fez que sua vida estava tomando jeito. Ryan era um bom rapaz, e eles descobriram que se amavam, eles sabiam que se amavam.
As madrinhas e os padrinhos entraram e logo em seguida Karen entrou, com o seu sorriso inconfundível. E foi tudo lindo, tudo perfeito.
Nas últimas fileiras estava Harry, Monick e Joah. Ele parecia não estar ali. Simplesmente o seu pensamento estava em outro lugar.

~

A recepção foi na fazenda da nossa avó. Todos estavam no acontecimento. Em todo o momento sorri, fiz o papel de boa dama que quer ver a amiga feliz. E acho que no fundo eu também estava feliz pela sua felicidade. Fiz questão de não contar a ela o que havia acontecido naqueles dias. E eu fiz certo. Era o seu casamento, era o seu dia. Tentei ficar o máximo de tempo que conseguia e quando ela e Ryan saíram, resolvi que era a hora de ir para casa também. Perguntei ao papai e mamãe se eles queriam ir e eles disseram que iriam dormir na fazenda. Pegaria a estrada sozinha.
Mas ultimamente eu até preferia dirigir sozinha por aí. Então caminhei até o carro, fumei um cigarro antes de entrar e depois peguei o caminho rumo a minha casa. O casamento fora lindo, mas eu não estava em clima de festa. Queria que minha mãe se curasse, e logo. E era a única coisa que pensava no momento.

~

- Oi?
Meu coração pulou dentro do meu peito. Achei que a qualquer hora teria um infarto ali mesmo, sentada em minha cama. Sabia que fazia tempo que não falava com Richard. Na verdade eu nem tinha tanta certeza de como a vida dele estava. Ele poderia estar casado, viajando, namorando, talvez nem lembrasse de mim.
- Richard?
Ouvi apenas o silêncio do outro lado da linha. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Eu estava fazendo aquilo pela minha mãe, pelo que ela representava em minha vida. Não queria, de forma alguma, que meus pais perdessem tudo que haviam construído durante todos aqueles anos. Estava desesperada. Então tive uma ideia de ligar para Richard e pedir sua ajuda.
- Lexi? Lexi, é você?
- Oi. – Percebi um sorriso se fazendo em meus lábios. – Sou eu sim.
- Nossa... – Ele parecia contente e eufórico. – Eu não acredito que depois de tanto tempo você ligou!
- Mas você reconheceu minha voz.
- Eu nunca esqueci sua voz...
Senti meu estômago revirar. Não havia esquecido o quanto havia gostado de Rich.
- Fico feliz que se lembre de mim.
- Eu sempre esperei que você me ligasse. Nunca liguei porque você poderia...
- Richard, infelizmente gostaria de conversar com você, saber de sua vida. Mas eu lamento dizer que eu liguei porque estou um pouco desesperada.
Como eu esperava, Rich ouviu tudo com atenção e depois disse que poderíamos contar com ele e sua família.
Minha mãe viajaria para a Alemanha o mais rápido possível e ele os receberia no aeroporto e depois deixaria os dois em sua própria casa, como hóspedes. Eu não iria, não de imediato. Ainda tinha o resultado das provas e a segunda fase. Mas estava combinado que logo eu iria ao encontro deles.
- Eu não tenho palavras para te agradecer, Rich. Você é maravilhoso como sempre.
-Lexi, por favor. Não precisa agradecer. Você ainda é muito importante pra mim. Tudo que vivemos, a forma como os seus pais me trataram aí é de uma forma que nunca esquecerei.
- E eles nunca esquecerão de que você está fazendo, e nem eu.
Percebi que ele riu do outro lado da linha. Pensei em seus lábios.
- Eu sei que você está preocupada com seus pais, mas como você está? Sua vida?
- Bem, eu te contei que tenho minhas provas da Ordem. Mas eu não contei que morei na Austrália.
- Sério? – Ele pareceu surpreso e feliz. – Me conta.
- Bem, foi interessante. – Então vi que aquela vontade de contar o que havia acontecido comigo era maior do que eu poderia imaginar. – É diferente muitas coisas, mas a minha prova é uma especial. Eu me sinto lisonjeada por ter tido tamanha oportunidade de viver em outro país, com pessoas diferentes de mim, com pensamentos um pouco antiquados as vezes.
- Visitou a maior igreja de lá?
- Hillsong Church?
- Isso! Uma igreja protestante.
- Visitei sim, me encantei. Pra ser sincera eu até frequentava sempre.
- Ah, aqui nós prevalecemos no protecionismo, você sabe.
- Eu sei...
Então um silêncio se refez e estava se tornando um pouco incomodo.
- Eu não te liguei porque queria que você refizesse sua vida. Meu pai morreu tem um ano. Até pensei em entrar em contato com você. Te liguei algumas vezes mas sempre desistia antes de chamar. E da vez que tive bastante coragem, o seu celular estava desligado.
- É, eu mudei de número. – Falei um pouco apreensiva. Não sabia nada daquilo. – Mas salvei seu número. Eu vou ser sincera, eu queria mudar, esquecer. Mas o seu número nunca saiu da minha agenda. E hoje eu percebi que seria um desastre se isso tivesse acontecido.
- Eu fico feliz que tenha me procurado. Feliz que tenha me dado tamanha credibilidade.
- Rich... – hesitei um pouco antes de falar. – Eu vou ter que ir. Apesar do resultado não ter saído, preciso estudar.
- Ah... - Tudo bem. –Então só me avise os horários do voo que eu vou me organizar.
- Tá bem. Beijo e obrigada por tudo.
- Eu quem agradeço. – Ele deu aquela risada inconfundível e senti meu coração falar “muda de ideia, pede pra ficar, pede pra voltar”. – Bem, então até mais.


Os dias foram de preparativos. Avisei aos meus pais que a única coisa que eles deveriam se preocupar era com a passagem e com todo o tratamento. Por enquanto eu poderia ficar a frente da empresa deles. Mesmo que só para administrar. Minha mãe ainda estava triste por causa de Harry, e o encontro que eu promovi dos três foi tenso. Harry parecia não querer perdoá-la, e isso a deixava mal, pior. Mas ele ainda não sabia do câncer. Conversei com meus pais e pedi para que eu contar quando ambos tivessem viajado. Harry logo voltaria para Inglaterra e nada iria fazer tanto sentido.
O dia que mamãe e papai viajaram estava estranhamente cinza e chuvoso. O voo deles atrasou duas horas e pedi para que eles me ligassem assim que chegar lá. Liguei para Rich para avisar o horário que eles chegariam.
- Como o voo atrasou, provavelmente eles vão demorar umas duas a três horas a mais para chegar.
- Tudo bem, eu estarei lá.
- O que sua família falou? – Perguntei apreensiva.
- Eles gostam de receber gente. E quando falei que eles haviam me recebido bem e que eram os seus pais, então eles quiseram recebê-los. Ora, Lexi, nossa casa é grande. Tem espaço até para você.
Ri um pouco e percebi que ele havia falado aquilo para me alfinetar.
- Agora eu preciso ir. Tenho muita coisa pra fazer.
- Ainda a mesma Lexi apressada.
- Mudei muita coisa, Rich. Mas na essência sou a mesma.
Ele suspirou do outro lado da linha. Senti que sua respiração estava bem próxima ao meu pescoço.
- É sério, tenho que ir.
- Tudo bem. – Ele riu um pouco. – Eu ligo quando encontrá-los, tudo bem?
- Ah, obrigada.
Dei o número do voo e então desliguei.

~

- Oi, Harry, podemos conversar? – Liguei para ele e fui logo ao assunto.
- Ah, Lexi, não é um bom momento.
- É urgente.
Ele hesitou um pouco mas concordou em ir almoçar comigo em um restaurante perto da nossa casa. Quando cheguei ao local, ele ainda não havia chegado. Mas não demorou muito e ele apareceu. Estava com um rosto estressado e percebi que estava ali contra sua vontade.
- Eu espero que seja sério.
- E será, e não vou demorar. Eu sei que você está com raiva dos nossos pais, mas eles estão passando por um problema sério.
- Eu imagino.
- Não seja um cético idiota. Será que dá pra me ouvir sem me interromper, porra?
- Ok, ok.
- Nossa mãe está com câncer.
Ele olhou para mim e não piscou o olho. Não demonstrou emoção, não demonstrou tristeza ou preocupação.
- Não vai dizer nada?
- Não, o que eu posso dizer? Lamento?
- Você é um imbecil?
- Não sei, acho que você responder isso pra mim.
- Vai se danar! Nossa mãe...
- SUA mãe. Apenas sua!
- Não seja ingrato. Ela te vê como filho. Ela te criou como um.
- Ela não me criou como um filho! Você esqueceu que ela me mandou para Inglaterra??
- Será que você não percebe que ela te ama? Ela fez isso porque te ama e te quer bem!
- Ela simplesmente me jogou lá, como um filho adotado e você diz que ela me ama? Ela teve você e se livrou de mim!
- Como você pode ser capaz de ser tão imbecil, Harry? Por que você virou uma pessoa tão mesquinha?
- Eu andei pensando e realmente não me encaixo nessa família.
- Você é um babaca.
O garçom veio perguntar se queríamos alguma coisa e eu, sorrindo para ele, falei que não. Que iria me retirar. Levantei da mesa e andei em direção a rua.
Era fato. Eu e Harry não servíamos nem para sermos irmãos mais. Então chorei. Chorei mais do que imaginava poder chorar. Eu estava bem na Austrália. Era só voltar para NJ que tudo voltava a ser como antes.
- Lexi, espera! – Ouvi a voz de Harry e olhei para trás. Ele estava correndo e atravessando a rua. – Lexi...
- O que você quer? Hum? Eu estou cansada de você, do quanto você consegue ser mesquinho.
- Eu quero conversar com você.
- Eu acho que eu não tenho nada pra conversar com você. Mamãe e papai estão a caminho da Alemanha agora. Se você quiser o contato deles... – Eu mal conseguia falar. – Você não parece médico. Você não tem humanidade, não pensa nos outros, você vive a vida toda pensando em si mesmo. Nem um filho fez você mudar isso! Tomara que vá embora para o seu país, a sua esposa e o seu filho. Você só é feliz longe da gente e...
Como num impasse, ele segurou meus braços e então aproximou o seu rosto do meu.
- Lexi, cala a boca. Por favor.
- Eu estou tão cansada de você, tão cansada dessa estória. Eu pensei que estávamos resolvidos. Eu pensei que, finalmente, poderíamos conviver. E você simplesmente estraga tudo. Tudo. – Senti as lágrimas caindo facilmente de meus olhos.
Ele então fez algo impensável que me pegou de surpresa. Me deu um beijo. Eu não sabia como reagir, então o empurrei de forma brusca.
- QUAL É O SEU PROBLEMA?! – Limpei a boca e saí andando, sentindo o frio em meu rosto. Eu estava cansada dele, de tudo que vinha dele.
O amor que sentia por Harry se transformou.
E eu o odiava.

Continua...
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