Capítulo 6

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Lá se vão três dias desde a "virgindade perdida" (não estou contando o final de semana senão serão cinco) sem um único novo contato, email, mensagem de voz, sinal de fumaça. Cansei de refazer mentalmente todos os passos da nossa noite para ver se identifico algum aborrecimento que esclareça esse silêncio.

E eu sei muito bem detonar minha autoestima quando preciso. Mas mesmo tentando fazer uma análise fria e sem romantismo daquele encontro concluo que nós dois nos divertimos muito um com o outro. Não só na cama – isso é fato – mas a conversa foi ótima. Teve liga.

E esse cara me pegou pelo sexo. Não tem como negar. Eu passei a vida tendo o que agora começo a qualificar de orgasmos improvisados. Ou seja, o tesão era tanto que uma hora o gozo vinha. Claro que o jeito de tocar, de excitar, era bom, mas havia um quê de amadorismo nos homens que me possuíram.

Mas com o Antony eu senti uma pegada forte. Ele sabe tocar uma mulher e não sei se é a experiência que faz isso com um cara ou se é um dom que já vem no pacote. Em vidas passadas esse garanhão já deve ter trabalhado como gigolô para sobreviver. Só isso para explicar tamanho conhecimento de causa.

De qualquer forma eu não sou a melhor pessoa para este tipo de análise. Tive uns oito namorados/casinhos em toda a vida. Neste bolo conto até o malho que dei numa prima porque foi a iniciação sexual, aquela fase que algumas mulheres passam, mas não admitem nem para o terapeuta.

Mas afinal por que rolou essa coisa legal e agora o completo vazio? Pode ser que Antony não queira envolvimento com uma pessoa que vai entrar para a ficha de pagamento da sua empresa. Pode ser que ele tenha enfim refletido sobre nossa diferença de idade e se intimidou. Pode ser que tenha se dado por satisfeito com uma única trepada. Pode ser que tenha se convertido a monge budista. Pode ser. Pode ser. Para não enlouquecer vou adotar a versão monge budista.

E Tulio não ajuda muito, pois me ofereceu uma visão tão crua dessa situação que me fez piorar ainda mais:

- Ele queria te comer desde a boate e os seus sentimentos eram bem parecidos. E então rolou. Por que o drama?

- Quem você conhece que consegue viver uma história tão intensa e sair ileso da sua vida rumo a uma próxima caçada? – retruco.

- O Antony talvez?

- Eu poderia te arranhar por causa dessa provocação - e encerramos a ladainha rindo porque percebo que ele não aguenta mais falarmos sobre esse assunto.

Ao chegar ao trabalho naquela manhã gelada de uma terça-feira avisto minha chefe à distância e percebo que o dia vai ser longo. A mini bruxa chegou cedo e, portanto, teremos um upgrade de aporrinhação. Meu celular toca e atendo com o pensamento ainda focado nos relatórios que terei que levar para ela.

- Olá!!!!

- Antony. Você sempre aparece quando menos espero.

Ele é lindo. Ele está vivo. Ele está na minha. Controle-se Andrezza. O cara estava desaparecido.

- Vamos almoçar juntos. É uma conclusão, não um convite. Tenho um compromisso perto do seu trabalho e poderemos nos ver – fala ele.

- Poxa Antony, infelizmente não posso te encontrar hoje – respondo. E infelizmente não posso mesmo porque minha chefe já tinha me agraciado com a suspensão do meu almoço para adiantarmos um trabalho que, diga-se de passagem, não estava atrasado.

- Não aceito uma negativa como resposta. Eu vou te ver hoje de qualquer jeito. Cancelarei um compromisso logo mais e jantaremos.

E o boneco pensa que a vida é fácil desse jeito? Ele não poderia ter ligado num dia pior. Hoje eu realmente estou com a agenda tomada, pois terei que dar aula de dança.

Óleo de PrímulaOnde histórias criam vida. Descubra agora