Capítulo 4

1.7K 240 45
                                    


Tenho certeza de que aquele cachorro vai tomar chá de sumiço de novo. Mas isso não me impede de acordar na manhã seguinte e fazer uma maratona de vestir e tirar todas as minhas melhores roupas. Isso me consome um tempo enorme e corro para pegar o metrô e não chegar atrasada ao trabalho. Optei por um vestido verde água que tem uma leve transparência nos ombros eno colo e um enorme decote nas costas. Joguei uma blusa preta por cima para compor um visual escritório.

Deixei a cabelada solta - dane-se a louca da chefe – e rumei para o trabalho sem desgrudar os olhos do telefone. Após uma longa manhã com o celular mudo, um arrastado almoço na mesma situação e um princípio de choro ao telefone com Tulio à tarde,eis que o aparelhinho toca. Do outro lado aquela voz incrível e pausada.

- Andrezza. Antony. Animada para logo mais?

- Boa tardeeee. Claro que sim– e bota animação nisso.

- Onde te pego?

- Olha, estou no trabalho e sairei direto daqui. Encontramos no restaurante.Ou então você vai lá em casa levar umas porradas do meu filho.Só preciso do endereço.

- Ótimo. Espero que se divirta muito essa noite - e desliga após me dar as coordenadas.

Ahh, meu querido. São quase dois anos sem transar. Eu tenho certeza de que vou me divertir muito essa noite. Percebo que já abri mão de qualquer tentativa de me fazer de difícil.

Não é para menos. Já faz um tempão que não vivo esse sentimento de sentir um milhão de borboletas no estômago. Eu abandonei meu casamento, mas a instituição não saiu da minha vida. Meu ex-marido orbitou à minha volta até bem pouco tempo e com isso me deixei levar pela facilidade de ter alguém por perto para levar o carro para consertar e trocar a resistência do chuveiro.

Claro que tive namoricos esporádicos ou então relações do tipo "sexo para desopilar". E há alguns anos até ensaiei uma coisa mais séria com um carioca que conheci num evento do trabalho. Naquela época eu ainda morava em São Paulo e pensava que o único empecilho era o fato de estarmos em cidades diferentes. Com o tempo a máscara dele caiu e descobri que o problema era maior do que uma ponte-aérea.

O filho da mãe era casado e estava com uma bebê recém-nascida em casa. Ele conseguiu me enrolar durante um ano com essa lenga-lenga. Ou seja, enfrentou bravamente a gravidez da esposa me tendo como válvula de escape.

Deixo de lado as histórias do passado e resolvo me concentrar para o programa que terei logo mais. Passo o resto do expediente ensaiando um jeito de transformar o nosso jantar numa coisa legal, mas também esclarecer para meu acompanhante o mal entendido anterior e explicar para ele que o cara da boate não era um simples mitigador de fluidos de mulheres de meia idade.

Chego à Estação de Metrô 28th Street com um misto de vergonha, excitação e determinação de sentar na frente dele e abrir o jogo de uma vez. Vai ser pedir o cardápio ou um táxi.

Mas, quando entro naquele ambiente aconchegante, cheio de personalidade nova iorquina, vislumbro o homem mais bonito do local, elegantemente vestido com um terno na cor carvão super cool, blusa também muito escura e nada de gravata. Congelo na cena para admirá-lo e sinto um frisson ao me dar conta de que ele está simplesmente aguardando a minha chegada.

Decido deixar o dramalhão de lado para desfrutar uma noite ao lado desse garoto tão bonito, tão poderoso, tão distante da minha realidade.

Quando me aproximo,Antony se levanta e me assalta com um beijo rápido,mas bastante íntimo. O gesto é completamente destoante daquele clima sério que nos cerca, mas, para variar, ele não fica nada acanhado e eu praticamente viro uma ameixa roxa.

Óleo de PrímulaOnde histórias criam vida. Descubra agora