Óleo de Prímula

Capítulo 16

Completo as duas séries finais da aula e saio revigorada e animada da piscina. Ainda bem que resolvi enfrentar o frio, pois a aula foi ótima. Até bati o meu recorde hoje. Desse jeito eu vou para as Olimpíadas!

Além disso, hoje é a antevéspera do meu debute na sociedade ao lado de Antony, pois vamos juntos à festa da empresa. Para coroar a data, usarei o meu primeiro vestido de grife comprado com o rico dinheirinho que está brotando devido ao upgrade que recebi no contracheque.

Até meu filho, que não repara em nada que eu ponho, elogiou o vestido longo em estampa Xadrez Damier nas cores cinza, branco e vermelho, que está pendurado na porta aguardando para borboletear no evento Archer-MacMillian.

O dia não tem como ficar melhor!!!!

Meu celular está com oito ligações não atendidas e sete mensagens de voz. Uma delas é do meu ex-marido e as outras cinco (posso ousar?) do futuro.

A primeira da sequência é de Antony:

_ Andrezza, estou em frente à sua casa. Acho que vai ser bom para nós precipitarmos um pouco o encontro do final de semana. Seu filho já sabe sobre mim. Deve estar achando estranho que eu não tenha aparecido ainda.

A segunda:

- Andrezza, atende esse telefone, minha linda.

A terceira, desprovida de amor:

- Andrezza, pensava que o ex-marido também estava a anos-luz de distância!!

Ferrou. Eu sabia que este não era um assunto para ir empurrando com a barriga. O que me reserva a quarta mensagem?

- Andrezza – meu ex-marido – esteve aqui em casa um cara atrás de você. Saquei tudo num único lance. Cê ta namorando né...sinistraço, hein. O cara não é meio franguinho, não? Seguinte, você pode trazer picles? Vou fazer um cachorro-quente diferente hoje à noite. Não compra aquele com sementinha não, tá?

- Andrezza – de novo a fúria de Antony – atende esse telefone, por favor. Onde você se meteu?

- Tu tu tu – não se deu ao trabalho de dizer nada no sexto recado.

- Andrezza – sétimo – lembrei que deve estar na natação. Estou indo praí.

- Estou aqui na porta – oitavo e último.

Eu passo pela ducha em segundos e coloco a roupa apressada. Corro para a saída e, conforme prometido ou ameaçado, lá está o carro de Antony. Ele está do lado de fora encostado no capô com as mãos enfiadas no bolso do paletó. Capa Vogue, esse lindo.

- Já sei que você esteve lá em casa, Antony. Olha...eu não tinha a menor intenção de esconder o Alexandre. Mas pensei que o melhor seria que você conhecesse Thomas primeiro e, na sequência, falaria sobre o resto. Meu ex-marido veio visitar o filho, se instalou lá em casa e não saiu mais.

- Andrezza – a voz deixa claro que a explicação não ajudou muito – ouça com atenção o que vou te dizer. Eu já tive grandes decepções com o sexo oposto. Nunca fiz questão de namorar mulheres muito astutas porque isso me daria muito trabalho para administrar meus relacionamentos. Eu confesso que pensei que você seria uma dessas moças monitoráveis. A forma com que nos conhecemos me induziu a erro. Mas, desde a primeira vez que saímos, percebi que estava redondamente enganado. Você foi a primeira pessoa que tive na vida que está fora desse padrão meio covarde que estabeleci para mim. E tem sido melhor do que eu poderia supor. Eu te admiro pra caralho, entende? Pela sua inteligência, pela sua feminilidade, enfim, por tudo.