Capítulo 7

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Com pouco mais de três passos, alcanço Antony na beirada da pista. Abro um sorriso e digo animada:

- Você chegou muito cedo.

- Você disse que estaria aqui desde as sete. Pensei em fazer uma surpresa e eis que a surpresa foi minha.

Eu não acredito. Ele está com ciúmes. Mas claro que está. Eu estaria também. E Carlo só bota mais lenha com aquele jeito de macho alfa.

- Eu dou aula de dança, Antony.

- Acho que o rapaz não precisa de aula.

- Acho que você está com ciúmes.

- Estou louco de ciúmes para ser mais exato.

O plano foi perfeito demais para o meu gosto. Claro que estou jubilosa com o sentimento que despertei, mas agora não sei lidar com essa ira e não quero que ele fique chateado comigo. Algumas pessoas me abordam, cumprimentando efusivamente, o que torna a situação ainda mais difícil.

Carlo deve ter percebido tudo à distância, pois resolve tirar do armário toda a sua fantasia imaginária de Carmen Miranda e vem rebolando em nossa direção.

- Espero que tenha gostado. Essa mulher não é um l-u-x-o??? – diz ele, com trejeitos, beicinhos, piscadelas e o plus de uma apertadinha no ombro do meu convidado.

Antony olha meio desconfiado para aquela entidade purpurinada e continua bem carrancudo. Mesmo assim faz um cumprimento educado e indica a mesa em que está.

- Vamos sentar, Andrezza.

Eu solto um obrigada no ar para Carlo e sigo os passos rápidos do meu convidado.

- O cara é gay, é isso? – pergunta sem rodeios quando sentamos.

- Sim. É casado com meu melhor amigo.

- Porra! Você acha que foi fácil ficar te vendo colada num cara e ainda encarar uma sala onde todo mundo está querendo te comer?

- Me desculpe mesmo. Genuinamente. Eu estava querendo fazer uma dança para você, mas seria alguma coisa mais delicada. O Zouk é selvagem. Não é isso que eu queria mostrar. Feche os olhos e imagine a dança de novo agora sabendo a verdade. Melhora a situação?

- Vem aqui para eu te mostrar o que melhora a situação.

Ele engole minha boca abrindo os lábios com a língua dura e cheia de raiva. Aos poucos vai deixando o beijo mais solto e volta a me dar leves chupadinhas nos lábios abrindo espaço para que eu também chupe a sua boca. Já temos sintonia no beijo e na foda. Falta apenas acertar os 90% restantes.

- Avise a quem precisar que você já está indo embora – informa Antony e se levanta me dando a mão para que eu possa segui-lo.

Eu sou um gatinho domesticado de tão culpada. Peço um momento, vou até Carlo, ajeito as coisas com ele, dou um pulo no fundo do bar e pego minha bolsa.

Quando retorno, Antony está ao lado da porta me observando à distância. Saímos na noite e o carro dele já está a postos. Só que agora com um motorista a tiracolo.

Entramos no veículo e ele se limita a dizer: casa!

O motorista dá um boa noite polido e arranca rumo à toca do lobo. Antony volta a olhar para mim e fica naquele jeito enigmático até chegarmos ao Upper West Side , a parte de Manhattan à Oeste do Central Park.

O Upper West é a Nova York dos nova iorquinos. Muitas produções cinematográficas que retratam a vida na cidade são feitas nesse lugar. De cara, consigo me lembrar do filme Mensagem para Você e da famosa série Sex and The City.

Óleo de PrímulaOnde histórias criam vida. Descubra agora