Capítulo 20

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Dannine chegou à nossa casa num momento em que eu e Marcus vivíamos o auge da nossa relação de pai e filho. A morte de minha mãe foi bastante dolorida, mas já tínhamos tapado nossas feridas e estávamos começando a ditar nossas novas regras de convivência. Tínhamos percebido que nós dois poderíamos SIM ser uma família de verdade.

Portanto, achei mais do que natural o fato de eu não gostar de me relacionar com ela. Pensei que era porque meu casulo estava sendo invadido e não porque Dannine agia de um jeito meio pedante quando estava comigo.

De cara eu simpatizei com meus irmãos adotivos e eles também colaram em mim, pois se sentiam muito carentes da ausência da mãe. Dannine era uma figura muito frágil e precisava ser sempre amparada, paparicada, ou seja, colocou nas costas dos dois filhos as funções que deveriam ser dela. Posso dizer que aguentei essa pressão toda porque Randy e Gigi preencheram minha vida.

Nos primeiros anos essa atração que Dannine sentia por mim era praticamente imperceptível. Ela vivia me comparando com o próprio marido, mas, juro, não havia malícia naquilo. Ou não parecia.

Certa vez eu voltei de uma corrida com meu pai e fui tomar um banho e me preparar para o jantar. Estava com muita pressa porque tinha marcado um compromisso com uma garota para logo depois da refeição e, obviamente, não queria me atrasar.

Eu já estava completamente nu e joguei minhas roupas em cima da cama imaginando como seria a noitada com a gata que tinha me dado uma canseira até aceitar o convite para sairmos. A verdade é que eu já tinha desistido da menina, mas percebi que ela estava fazendo joguinho comigo, porque quando parei de procurá-la ela então começou a me importunar.

Não percebi a entrada furtiva de Dannine. Mas me assustei quando ouvi sua voz atrás de mim.

- Como é bonito o filho de Marcus Alexander – falou com uma voz emocionada e até meio chorosa.

Que palhaçada foi aquela?

- Dannine, você me dá licença? – respondi meio revoltado e me dirigi ao banheiro achando que ela deveria estar bêbada. Mas, depois disso, enquanto vivi naquela casa nunca mais deixei meu quarto destrancado.

O encontro com a menina foi um fiasco. Ela era uma chata, não parava de me contar as fofocas dos nossos amigos e, o que era pior, seu cabelo era muito parecido com o da minha madrasta. Só conseguia me fazer lembrar daquela esquisitice que enfrentei no meu quarto mais cedo. Na primeira oportunidade, eu inventei uma desculpa para a garota e a levei embora. "Meus pais estão viajando, Antony." Lembro que ela instigou quando estacionei. "Mas hoje realmente não dá." Respondi indo embora para sempre. A moça ainda me rondou por uns seis meses, mas depois cansou.

Ainda bem. Eu já estava com problemas demais. Quanto mais eu tentava me afastar de Dannine, mais ela tentava se ocupar com a minha vida. Sempre arrumava uma desculpa para ir às festas que eu frequentava para conseguir conhecer minhas namoradas, me fazia visitas inesperadas no escritório e, quando resolvi sair de casa para morar em Manhattan com a desculpa de me adequar à rotina da faculdade, ela quase teve um chilique. Mas percebeu que não teria como questionar.

A esta altura do campeonato a situação já estava muito clara para mim. Se eu desse mole, minha madrasta tentaria ficar comigo. Seu desejo era aparente e eu até ficava bolado de os outros perceberem a energia sexual que ela emanava quando estava comigo. Mas tudo indica que só eu conseguia enxergar o seu desvio.

Quando eu fiz 31 anos meu pai me chamou para uma conversa e anunciou que o casamento dele tinha terminado. "Sei que você e Dannine são ligados e farei de tudo para não afastar a família. A decisão do rompimento foi dela, mas eu concordo plenamente com a separação. Como marido e mulher já não dava mais. Não quero que se ressinta comigo, meu filho." Essa preocupação me fez ter certeza que meu pai jamais desconfiou dos impulsos de sua mulher.

Óleo de PrímulaOnde histórias criam vida. Descubra agora