Capítulo 9

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Correndo correndo, senhora atrasada – falo quase que em voz alta para mim mesma. Antony já ligou quatro vezes perguntando onde estou e, na última, ameaçou mandar o motorista me pegar para eu chegar mais rápido.

Não sei como me enrolei tanto. Não fiz nada o dia inteiro e o domingo passou voando. Quando me dei conta já eram praticamente quatro horas da tarde e o encontro com os músicos seria dali a uma hora.

Comecei a me arrumar e vi que meu filho passava pela porta do quarto já escapando em direção à sala. Tomei coragem para pedir sua ajuda:

- Que tipo de roupa se usa quando o cara que você está saindo te convida para assistir ao ensaio da banda dele?

- Você está namorando um astro do Grammy Award? – pergunta curioso.

- Ahahah. Até poderia ser. Combina com ele, mas não é nada disso.

- E???

- Ele é empresário. Nos conhecemos ao acaso e depois descobrimos que minha empresa tem negócio com a empresa dele. Não é surreal?

- E onde entra um ensaio de banda nisso tudo?

- Um hobby que estava esquecido e que agora ele resolveu retomar. Segundo meu pretendente, o estímulo ressurgiu depois que ele resolveu fazer uma apresentação para mim – resumo a história sem muitos detalhes.

- O cara tá na sua, hein.

- É...parece. Mas filho...eu quero te contar uma coisa que está me martirizando.

- Todo ouvidos. Mas não enrola porque estou com pressa.

- Esse cara que eu comecei a sair ainda não sabe nada sobre minha família. Nem que tenho você.

- Ok...e?

- Você não está chateado?

- Com o quê, mãe? Você é reservada. Essa situação é nova. Não tem muito mistério. Mas acho que se você está percebendo que a coisa está esquentando a ponto do cara desencravar uma banda por sua causa então sei lá, né. Vai ter que dizer. Por hora eu até prefiro ficar no anonimato porque não sei quando vou querer começar a conviver com um gaiato aqui em casa.

- Ahhh, Thomas, eu te amo. Eu te amo – e encho ele de beijos por todo o rosto.

- Paraaaaaa mãe. Que melação. Tchau.

Acho que tirei 300 quilos das costas. É claro que ainda tem muito mais a ser dito para meu filho, mas para hoje, é o que temos, e está de excelente tamanho.

Eu estou me sentindo incrível por conseguir resolver as coisas com pelo menos um dos homens da minha vida. Mas o preço dessa conversa é que estou atrasadíssima. Entro no hall do prédio de Antony e atravesso o corredor aos galopes, avanço em direção ao elevador com uma velocidade semiolímpica para conseguir tomá-lo antes que a porta se feche.

Ao chegar ao apartamento, sou recebida com um sorriso angustiado.

- Diabinha atrasada. O pessoal está querendo me matar, pois não consigo me concentrar. Por que atrasou tanto? – reclama ele me enlaçando e dando um beijo gostoso de quem não está tão bravo assim.

Bebeu cerveja e está bem alegrinho.

- Eu sou uma enrolada!

- Você vai dormir aqui. Cadê sua mala?

- Nossa. Nem pensei nisso!

- Você é uma enrolada! – me imita ele.

Rimos e ele me conduz pela escada para chegarmos ao segundo andar. Eu nunca vim aqui, meu Deus. Minha vida nessa casa se resume aos prazeres primitivos. Alimento e sexo. O espaço é incrível, com um amplo deck, uma cozinha gourmet e a piscina ao fundo. O local permite uma vista de 360 graus para a cidade aos nossos pés.

Óleo de PrímulaOnde histórias criam vida. Descubra agora