Capítulo 10

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Se meu namorado se lembrar da conversa que tivemos ontem juro que simularei um choque anafilático e cairei dura no chão. Tudo para não enfrentar a vergonha de encará-lo depois de um mico desses.

As dúvidas se dissipam quando o vejo sair do banheiro todo cheiroso e ele me presenteia com um beijo caliente-hálito-refrescante sem se importar com o bafo de onça que eu devo estar exalando. Caminhamos até a cozinha apetitosa de Angelina e comento neste trajeto:

- Hoje minha chefe me mata. Já passam das 9h30 e ainda tenho que ir para casa colocar uma roupa.

- Você poderia começar a desfrutar o título de namorada do chefe, que tal?

- Pretendo desfrutar o motorista do namorado para chegar o quanto antes no escritório – respondo ao mesmo tempo que sento na cozinha. Dou um sorriso para a fofa empregada que está com uns bobs enormes no cabelo.

- Tenho um encontro hoje à noite – ela explica, fazendo cara de peixe morto do tipo "não me aluguem por causa dos meus bobs".

- Pule no pescoço do cara igual a Andrezza fez comigo. Te garanto que é o segredo para conquistar o seu macho - fala Antony em tom irreverente enquanto eu estico a língua para ele.

- Não seja bobo. É o encontro das organizadoras do bingo da minha igreja. Você só tem essa coisa na cabeça? – reclama ela.

- Angieeee...você deveria pensar em ter outros tipos de encontro. Esse bingo não tá com nada – resolvo dar o meu pitaco também, mas interrompo a brincadeira para enviar uma mensagem para Henrietta. No texto, explico que irei me atrasar, mas pretendo compensar o horário se ela achar que preciso.

Mal mal encaminho a mensagem e ela me liga de volta.

- Andrezza, que mundo você está vivendo minha filha? – descarrega a dita assim que atendo.

- Bom dia, Henrietta. Te mandei uma mensagem explicando o atraso.

- Essa mensagem não diz nada e também não resolve nosso problema, concorda? Eu já tinha te interfonado duas vezes. Cheguei às 7 horas no escritório.

- Me desculpe um aparte, mas nós não temos tido muito o que fazer nesta semana. Com a migração, as coisas estão muito paradas, mas, mesmo assim, tenho me esforçado para manter nossos prazos, apesar de tanta indefinição.

- O que você pensa que entende a respeito dessa fusão e da nossa empresa, minha querida? Esteja na sua mesa o quanto antes, pois, se não tiver nada para fazer, é porque provavelmente não terá função a desempenhar quando nos tornarmos um braço da MacMillian.

Não tenho como voltar a argumentar porque ela bateu o telefone na minha cara.

Volto a prestar atenção em Antony, que está com a cara mais perplexa e irada do mundo:

- Os berros que ouvi eram de Henrietta?

- Pois é – Angie entra na conversa – que tipo de pessoa grita desse jeito no telefone? Quase fiquei surda daqui. Que moça mal-educada. Esse mundo está perdido e ninguém acredita.

- Ela é um cão que só sabe latir, gente. Já virou uma lenda.

- Eu estou simplesmente possesso.

- Eu também estou possessa – reforça Angie, mas dá para perceber que ela não sabe direito o que a palavra quer dizer.

- Não vou estragar nosso café por causa desse telefonema desagradável – continua Antony - Vamos comer esse banquete para 300 convidados que Angelina preparou. Frank ficará contigo hoje.

Óleo de PrímulaOnde histórias criam vida. Descubra agora