Capítulo 2

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Sabe a sensação de quando você está debaixo do cobertor e resolve sair dele e beber um copo d'água na cozinha? Sabe aquele frio que bate no seu corpo de forma repentina, fazendo você se estremecer por completo? Foi assim que eu me senti com aquele estranho falando em meu ouvido.

Girando meu corpo rígido devido ao susto, virei o rosto para encarar meu estranho e senti alívio e irritação ao mesmo tempo. Era só o babaca do Rodrigo.

- Seu filho da puta!- falei batendo com meu guarda-chuva nele. - Que susto!

- Tinha que ver sua cara! - ele disse entre uma risada descontrolada.

- Já acabou com a graça? - falei irritada.

- Espera. - ele disse com o indicador e inspirou um pouco de ar para normalizar a respiração. - Agora sim.- sorriu satisfeito.

- Que ótimo. Fico feliz que eu tenha animado sua noite. - falei com azedume e fui direto para a mesa de Roberta.

Quando cheguei, ela já havia pedido uma bebida por mim e os aperitivos jaziam por sobre a mesa com um cheiro que me fez lembrar o quanto estava com fome. Me sentei de frente para ela, tentando amenizar minha irritação. Ela me olhou com uma sobrancelha arqueada em expressão interrogatória.

- Ah, esquece. - abanei uma das mãos enquanto dava um bom gole em minha bebida. - Ele é um completo idiota.

- Disso eu sei, ele sempre te enche. - ela apoiou os cotovelos sobre a  mesa.- O negócio é: Onde você estava? - perguntou curiosa.

-Bem, estava falando sobre minha decisão com minha mãe. - olhei para as gotas que deslizavam pelo copo.

- E? - disse impaciente. - O que foi que ela disse?

- Você pode imaginar.- revirei os olhos. Roberta me conhecia desde os tempos de colégio, então já tivera contato com minha mãe diversas vezes.

- Adivinhei. - disse e se fez silêncio por alguns minutos.

- Só espero que minhas decisões não me levem para um caminho incerto.- murmurei entre pensamentos. Minha mãe, de certo modo, me afetou com sua condenação.

- Você tá de sacanagem né?- falou com a voz um pouco alterada. - Helena, você ganhou uma bolsa!- disse arrastado com as sobrancelhas arqueadas.- Para a melhor faculdade! Você pirou? Tomou seus remedinhos hoje? - disse fingindo verificar minha temperatura em meu pescoço com um olhar de falsa preocupação. - Se não tomou, esquece bebida! Não vou ser responsável por uma doida varrida destruindo sonhos por aí. - franziu o nariz.

Com as caretas que ela fez e o jeito engraçado dela de falar aquilo, me fez rir até me sentir totalmente exaurida de preocupação.

Ficamos bebendo e conversando até tarde e quando me dei conta, já passava da meia-noite.

Saímos do bar e fomos seguindo pela rua de pedras, as duas de braços dados, uma tentando ajudar à outra a se equilibrar. Quando chegamos a um ponto, chamei um taxi para Roberta e a coloquei dentro, falei o endereço para o motorista e o paguei, até porque ela estava mais bêbada do que eu, talvez até tivesse se esquecido de como falar português.

Fechei a porta do taxi e acenei um tchau para ela. Assim que perdi a visão do carro, retomei minha caminhada para casa.

Depois de alguns minutos andando pela rua deserta, percebi que estava sendo seguida.

Minha Querida Jane - My Dear Jane Onde histórias criam vida. Descubra agora