Capítulo 13

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Rodrigo

Saí do apartamento de Helena e senti o ar fresco que a chuva deixou junto ao cheiro de terra molhada e alguns resquícios da recente tempestade se abater sobre mim. Apesar do clima do lado de fora estar incrivelmente agradável, a temperatura do meu corpo estava elevada demais para ser abaixada pela brisa úmida. Meu corpo simplesmente não queria se acalmar.

"Olha o que ela faz comigo" , sorrio quando viro a esquina, pensando no momento incrível que tive agora a pouco.

Sentir Helena em meus braços me despertou um desejo desesperado de poder protegê-la de tudo e de todos. Ter seus lábios sobre os meus foi como sofrer uma morte súbita e acordar no paraíso.

"Mas lembre-se Rodrigo: Helena é tanto anjo quanto demônio. Ela não é fácil!" , minha mente me alerta e acabo por rir desse pesamento pois sei que prefiro que ela seja desta forma. Afinal, foi o que mais me chamou a atenção por ela. Sua personalidade difícil.

Após fechar o meu pequeno debate mental pego um táxi e vou para casa.

Assim que tranco a porta atrás de mim, já tiro minha blusa úmida e caminho para o banheiro. Tomo um banho longo e frio para aliviar meu corpo quente mas a sensação que tenho da água sobre minha pele é de uma temperatura morna.

Quando percebo que a água fria não está ajudando em nada saio do chuveiro, enrolo uma toalha na cintura e me jogo na cama. Sentindo ainda um calor terrível, ligo o ar-condicionado do quarto e fico pensando o que tenho para fazer amanhã enquanto espero o cômodo gelar.

Repassando uma lista imaginária em minha mente, percebo que não há muito o que fazer amanhã.

- Certo. Tenho que entregar uma pintura para um professor da faculdade, levar meu carro para um lava-jato e ir visitar Lena na biblioteca. - enumero as tarefas em voz alta.

"Ela ficará surpresa ao me ver lá e saber que ainda me lembro das suas leituras infanto-juvenis na biblioteca.", imagino ser agredido com o susto que darei a ela.

Eu sempre a visitava nos fins de semana. Sempre ouvia-a contar as histórias, só que nunca falei e nem me mostrei presente. Menti para mim o tempo todo. Não queria admitir que estava na biblioteca, não porque queria consultar algum tipo de livro para um trabalho específico, e sim, para vê-la.

Agora que tenho certeza de meus reais sentimentos, tudo o que mais quero é fazer com que Helena seja a mulher mais feliz ao meu lado. Quero que ela sinta segurança e veja que eu não sou apenas mais um cara egoísta e que tem falsos sentimentos por ela. Poder amá-la é tudo o que me importa agora. E sua felicidade, é o meu principal objetivo.

"Só espero conseguir passar isso tudo para ela. Que minhas intenções são nobres e sinceras."

Após refletir sobre isso, imagino minha programação para amanhã logo depois de buscar Lena na biblioteca. Alguns dias atrás, havia visto na internet que em uma praça, não muito longe, fará uma sequência de filmes antigos à noite. Tenho certeza de que Lena gostará disto tanto quanto eu.

Pego meu celular e digito o nome da praça e o evento na busca. O evento é gratuito pois se trata de um projeto em homenagem à terceira idade, incentivando também os jovens desta época a descobrir como eram os filmes de antigamente e terem esta experiência ao ar livre. O mistério do evento é que no site não diz qual será o filme de cada noite.

"Melhor assim. Será mais divertido.", penso e deixo meu celular no criado-mudo ao lado da cama e começo a me sentir sonolento.

Confiro a hora no relógio de parede e vejo que já passam das 01:40 da manhã. Vou até a gaveta do meu armário e pego uma cueca qualquer, a visto e volto pra cama. Meu sono chega de trem bala e quando menos imagino, já estou sonhando.

No sonho, me vejo dentro de um carro, sentado no banco de trás, olhando pela janela fumê do veículo. Ao observar com mais atenção a paisagem lá fora, percebo que conheço este trajeto mas não consigo dar nome ao local que estamos passando.

Olho em volta e vejo que além de mim há mais duas pessoas, o motorista, que aparentar ter uma certa idade, e um homem sentado ao seu lado. Tento me inclinar para poder ver o rosto de ambos porém sinto como se estivesse grudado no assento.

Sem poder me mover, tento escutar com atenção o assunto da conversa que os dois desconhecidos trocam com a voz minimamente baixa. Com dificuldade, consigo pescar algumas palavras e ao que parecia, os dois estavam falando sobre alguém estar planejando uma sabotagem contra o homem que estava sentado bem na minha frente.

- Muitos eventos estranhos estão acontecendo, meu senhor. Isso já não é de hoje. - diz o motorista e ao ouvi-lo com clareza, reconheço sua voz. Me esforço para lembrar de onde o conhecia mas minha cabeça começa a latejar com extrema força e um zumbido alto rugi em meus ouvidos.

Ignorando a dor para poder focar no rumo que aquela conversa estava tomando, abafado pelo som gritante em meus ouvidos, escuto o passageiro dizer algo como "proteger Otávio" e "comprar passagens".

A conversa é interrompida com minha visão ficando turva e um último zumbido estridente antes de minha visão ser preenchida com a negritude e meu corpo cair no banco de couro.

Acordo com falta de ar e meu rosto molhado de um suor frio e pegajoso. Me levanto da cama e caminho até a cozinha para tomar um copo d'água, meu coração se acalmando aos poucos à medida em que dou longos e demorados goles. Na pia, abro a torneira e, com as mãos em concha, jogo uma água no rosto, sentindo a pele dar uma refrescada.

- Que sonho louco foi esse? - questiono confuso - Nunca tive um sonho desses...

Realmente, nunca tive tal sonho antes. Pior que eu tinha reconhecido a voz do motorista, mas a do passageiro não pude ouvi-lo com detalhe devido ao alto barulho em minha cabeça. Mas, sem dúvida, o mais estranho de tudo foi ouvir o nome de Otávio nele.

" O que isso quer dizer? Por quê disseram o nome dele?" , minha cabeça estava girando de tanta confusão.

Uma coisa era inegável: o sonho parecia uma lembrança.

" Será que era uma lembrança mesmo? Sinto que sim."




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