Capítulo 10

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- Primeiro: Abaixa essa garrafa? - ela diz com um olhar especulativo, torcendo o nariz - Você pretende me bater com ela ou me servir um café? - indaga sarcástica, abaixo a garrafa e espero ela continuar.

- Só isso? - pergunto.

- Segundo - ela inspira pesado - : Temos que conversar.

"Pronto, lá vem", toda vez que minha mãe dizia isso, coisa boa, com certeza, não estava por vir. A encarei por alguns segundos desconfiada de qual motivo a faria estar na porta do meu apartamento em pleno domingo. Minha mãe não tinha esse costume de me visitar e ter uma conversa comigo, a menos que se tratasse de algo de interesse próprio. Interesse esse que sempre me envolvia de alguma forma, precisando de mim para realizar alguma tarefa em específico.

- Pretende ter a conversa aqui no corredor mesmo, se expondo aos vizinhos com seu pijama e pantufas glamorosos e com cara de quem está pronta pra ir em um desfile do tapete vermelho ou, vai me deixar entrar e me servir uma xícara de café para que possamos dialogar de maneira, ao mínimo, descente e sem possíveis espectadores? - sorriu irônica, abri passagem para que ela entrasse.

Deixei-a na sala e voltei para a cozinha para buscar o café. Pude sentir minha mãe analisar cada centímetro quadrado da minha casa e já pude imaginar, e esperar, que ela fosse fazer comentários agradáveis pois eu sempre os recebia toda vez, que não foram muitas, que ela vinha para cá.

Peguei a toalhinha e forrei a mesa, busquei frutas, açúcar, adoçante, torradas, pão, manteiga, queijo e presunto, coloquei o café fresquinho dentro da garrafa térmica e me sentei na mesa sem fazer muita cerimônia. Minha mãe ficou me olhando, esperando eu dizer algo. Apontei para a cadeira, num gesto óbvio, ela se sentou ereta e com o queixo levantado.

- Estranho. - comentei

- O que? - perguntou sem muito interesse se servindo de café, colocando duas medidas médias da colher de chá. "Certos hábitos nunca morrem"

- A senhora não ter feito nenhum comentário - falei dando de ombros enquanto passava a manteiga no pão - como o fato de achar um absurdo eu não ter empregada, de não ter equilibrado as cores das paredes com os móveis, entre outras coisas. - ela continuou em silêncio - Está sem criatividade hoje? - brinquei.

- Não estou aqui para discutir isso. - ela foi direta - Estou aqui para saber como você está. - ela me olhou com verdadeira preocupação nos olhos, e isso me desarmou.

- Estou bem, mãe. - respondi com a voz um pouco mais suave - Não tem com o que se preocupar. - a tranquilizei.

- Então por quê não atendeu minhas ligações? - ela disse meio chorosa e revoltada - Sabe como fiquei preocupada?

Fiquei em silêncio. Como podia dizer a ela o que havia acontecido na sexta? "Ela iria ter um colapso... Se não, um infarto!" , não posso contar. Definitivamente não.

- Eu não ouvi. - ensaiei - Estava resolvendo alguns problemas da faculdade e do trabalho. - peguei uma maçã e dei uma mordida para ocupar minha boca por mais tempo, me evitando de falar.

- Mas o dia inteiro?! - ela retrucou desconfiada, é claro que ela sabia que era mentira minha.

- Desculpe, mãe. Não fiz de propósito, acredite. - afirmei sincera, isso ela viu que era verdade.

- Não sei seus motivos para estar mentindo para sua própria mãe, que é um pecado assim como mentir para Deus - ela diz dramática - , mas fico aliviada de ver que minha filha, minha única filha, está bem. - sorri e dá mais um gole no café.

- Obrigada, agradeço por isso. - retribuo o sorriso.

- Seria bom eu saber o real motivo? - ela indaga se empertigando na cadeira.

Minha Querida Jane - My Dear Jane Onde histórias criam vida. Descubra agora