- Som, som. - escuto através das minhas orelhas que estavam tampadas devido a alta microfonia.
- Que susto! - resmunguei mas logo dei um sorriso e prestei atenção ao nosso apresentador da noite.
- Boa noite! - cumprimenta e a platéia responde de volta - Hoje daremos sequencia à mais um clássico dos cinemas e dos livros. Espero que gostem! Um bom filme! - terminou saindo de frente da tela branca e nos deixando em pleno mistério. Olhei para Rodrigo e minha expressão de animada desvaneceu na mesma hora.
Ele estava parado, literalmente, olhando para o vazio. Acenei na frente do rosto dele mas não obtive nenhuma reação, parecia estar em choque. Sem tocá-lo, chamei por seu nome diversas vezes, que parecia estar ouvindo mas não respondia uma única palavra, até murmurar baixinho algo que não compreendi.
- Drigo? O que está dizendo? - me virei por completo para que pudesse enxergá-lo melhor e tentar ler seus lábios. Ilíada. "Por que ele estava citando uma obra de Homero do nada?" Dei um leve beliscão em seu braço numa tentativa de tirá-lo do transe, o que funcionou.
- O que aconteceu? - perguntou com os olhos meio arregalados e confusos. Toquei seu rosto levemente para acalmá-lo.
- Eu que pergunto. O que houve? - acariciei-o, sentindo a tensão de seu rosto em minhas mãos e sua testa criar um nó entre as sobrancelhas. - Você ficou suspenso por segundos e logo depois disse a palavra ilíada. Teve algum tipo de lembrança? - perguntei com cuidado para não chocá-lo mais ainda, agora me olhava fixamente, procurando entender o que se passou.
- Não sei... Me veio a lembrança de uma pessoa e esta palavra veio à boca subitamente. - consegui ver as engrenagens se movimentando em sua mente, parecia estar tentando achar uma relação entre os fatos. - Não compreendo por que isso vem acontecendo comigo ultimamente. - levou a mão à cabeça, parecia sentir dor.
- Tudo bem não compreender. Não se esforce... - massageei suas têmporas. - Isso parece te causar dor. Podemos conversar sobre isso mais tarde, se você quiser. - dei-lhe um beijo em sua testa. - Sabe que pode conversar comigo sobre qualquer coisa. Você quer um analgésico? - volto para minha posição anterior, de costas para ele e alcanço minha bolsa, tirando a cartela de comprimidos.
- Não, tudo bem. Vai passar logo. Obrigado, Lena. - ele vira meu rosto delicadamente, seu olhar mostra estar realmente agradecido - Obrigado por sempre estar presente na minha vida. Sou uma pessoa de sorte. Sério mesmo. - dou um beijo meio tímido em seus lábios e os sinto frios. Terminado o beijo, ele me abraça apertado, enterrando o rosto em meu pescoço. - Eu poderia ficar assim o dia inteiro, sabia?
- Eu não. - soei séria
- Por quê não? Você me odeia tanto assim? - ele morde minha bochecha e eu acabo cedendo com um sorriso.
- Há tantas coisas que gostaria de fazer com você. Essa é apenas uma delas. Há muito o que se ver e fazer - confessei mordendo o lábio de Rodrigo suavemente e logo corei. Comecei a me sentir inacreditada das minhas atitudes recentes. "Como você anda sendo descarada Helena! Quem diria que a boa moça está apresentando ser uma tremenda de uma safada!?" Logo me veio uma vozinha de Roberta dizendo 'Eu já sabia. Santa, só Maria', sorrio ao ter tal pensamento.
- Você anda sendo bem cruel comigo. - disse ao pé do meu ouvido - Cuidado, Helena. Estou sendo muito generoso com você. Não vá se arrepender mais tarde. - sinto sua voz ofegante, me arrepiando de imediato, fico nervosa ao sentir seus lábios roçando minha orelha. Para minha surpresa, ele dá um beijo estalado nela, fazendo meu ouvido zunir baixinho.
- Você tem sempre que me zoar, né? - falei meio irritada mas gostando de ele ter tirado meu nervosismo. Do jeito que ando me descobrindo, não sei o que faria após receber aquela provocação. "No mínimo ia pular nele e agarrá-lo. Tarada...", minha mente recriminou. Rodrigo soltou uma risada tão jovial que me deixou dispersa, só olhando para ele e àquele sorriso lindo.
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Minha Querida Jane - My Dear Jane
RomanceHelena é uma mulher apaixonada por livros, em especial por clássicos. Conduzida pelo amor à leitura, ela resolve fazer faculdade de Literatura, indo contra todos os planos que sua mãe a havia reservado. Sua admiração pela escritora Jane Austen...