Capítulo 8

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' Se os seus sentimentos ainda são os mesmos, diga-me de uma vez. Minha afeição e desejo não mudaram. Mas uma palavra sua me silenciará para sempre. Se, contudo, os seus sentimentos mudaram, eu devo dizer que você enfeitiçou meu corpo e alma e eu a amo, eu a amo, eu a amo. Anseio que não fiquemos separados a partir de agora.' , diz Sr.Darcy à Srta. Bennet.

Leio este trecho e minha mente viaja para longe com aquelas palavras e sinto um aperto no peito. Fecho meu exemplar de 'Orgulho e Preconceito' e lembro do dia que o ganhei. Otávio havia me mandado de presente pois sabia que me apaixonei pelo primeiro livro que ele me deu e pela escrita maravilhosa de Jane Austen.

"Queria ter uma resposta pra essa mesma questão, Sr. Darcy. Estamos no mesmo barco, meu caro."

Observo a chuva caindo lá fora, os carros passando pela rua e levantando as folhas secas que jaziam no chão solitárias. Suspiro profundamente, segurando meu delicado cordão entre o indicador e o polegar.

- Por onde você anda? - pergunto para o vazio esperando que o vento que entrava pela janela sussurrasse uma resposta.

Estava tão hipnotizada pelo som da chuva que nem ouvi minha avó, a passos trôpegos e os olhos pequeninos sonolentos, entrar na pequena área em que me encontrava.

- Você ainda está acordada menina? - disse com um sorriso acolhedor mas com um olhar demonstrando algum tipo de preocupação.

- Perdi o sono vovó. - sorrio fraco e desvio o olhar mexendo em meu livro, temendo que ela lesse meus pensamentos que transcorriam em meu rosto. Minha avó tinha esse dom.

Ela foi até mim e deu uns leves tapas em minha perna, se sentando ao meu lado.

- Não fique assim Leninha.- ela falou quase como um pedido. - Já faz tantos anos desde que ele se foi...Você não deve continuar nessa tristeza sem fim. Tem que viver filha. - acariciou minha cabeça, me fazendo relaxar de imediato.

- Eu sei. Quatro anos que não tenho mais notícias dele. - olho para a pequena chave - Ele nem me manda mais cartas.- o silêncio se prossegue de forma perturbadora com o fim de minhas palavras.

Antigamente, Otávio me mandava ao menos uma carta por semana, desde meus dez anos. Depois de algumas cartas, descobri que ele era quatro anos mais velho que eu.

Eu ficava ansiosa a cada fim de semana pois sabia que chegaria uma nova resposta para cada carta que eu mandava. Só que, com o tempo, a frequência das cartas foi se diminuindo. De uma semana passou a ser a cada duas, depois um mês e, após dois anos, parei de receber cartas, mas continuava a enviar uma todo mês relatando as novidades, o quanto sentia falta dele e como andava preocupada devido seu silêncio.

- Queria ao menos saber se ele está bem. - murmuro fazendo pequeno círculos na espiral do livro.

- Fica tranquila. Ele com certeza está, meu bem. - disse tocando os fios de meu cabelo e em meu ombro para que me virasse de costas para ela, assim o fiz - Ele só deve estar muito ocupado. Afinal, quantos anos ele tem agora?

- 20 anos. - respondo.

- Viu? Ele é um homem já...Deve estar já na faculdade e se bobear, trabalha. Talvez ele não tenha tempo. Então não se aflija. - justificou.

- Sim - sinto seus dedos frágeis fazendo uma trança em meu cabelo - A senhora tem razão vovó. - sinto minha mão sendo molhada por uma pequena gota de água salgada.

- Não se preocupe. - ela termina seu trabalho e esfrega com carinho meus braços - Logo vocês voltarão a se falar. - me animou.

- É aquele ditado: 'Que será, será' - minha voz falha, limpo as lágrimas que insistiam em cair.

Minha Querida Jane - My Dear Jane Onde histórias criam vida. Descubra agora