Capítulo 3

61 7 4
                                    


Comecei a apressar o passo. A rua estava deserta, nenhuma alma viva. Apenas eu e meu companheiro indesejado perambulávamos por alí.

"Droga...Só queria não estar zonza de tanto beber", resmunguei apertando com mais força minha bolsa contra o corpo.

"Mas e se ele estiver apenas andando na rua, assim como eu?", pensei com os meus botões. Afinal, eu ficava um tanto paranoica quando bebia demais.

Para testar minha desconfiança, resolvi deixar cair, discretamente, meu anel no chão para que quando fosse pegá-lo, pudesse avaliar a situação e ver se o estranho iria passar direto ou se realmente estava à me perseguir.

Sentindo que o indivíduo estava à alguns passos atrás de mim, soltei o anel e falei um "cacete" baixo mas que desse para ele ouvir, parando assim que proferi essas palavras para me dar um pouco mais de tempo.

Me abaixei devagar para apanhá-lo, demorando-me mais um pouco naquela posição, fingindo procurar o objeto e ver no que ia dar. Tateei o chão em busca do anel. 

- Onde será que caiu? - falei rabugenta, sabendo muito bem que ele estava bem debaixo dos meus pés.

Assim que peguei o anel, olhei por sobre o ombro disfarçadamente, como quem quer nada e vi que a pessoa já não estava mais no meu encalço.

Me levantei devagar para não perder o equilíbrio e soltei um suspiro pesado de alívio, ainda olhando para trás.

- Que ridícula - dei um meio sorriso para minha insanidade.- Tenho que deixar de ser paranoica. - sacudi a cabeça. 

 - E parar de assistir O Diário de Bridget Jones. - murmurei para meu consciente.

Quando virei para frente, fui surpreendida por uma mão cobrindo minha boca, sendo jogada impiedosamente logo em seguida contra a parede mais próxima.

Tentei me soltar, arranhando e chutando o homem que estava me prendendo com cada vez mais força.

- Shuuuuu...Quietinha gostosa.- falou sibilando grotescamente no meu rosto.- Se não for boazinha, não serei bonzinho. - disse passando a outra mão livre por meu corpo com um olhar vulpino*.

Nunca aconteceu algo comigo como o que estava para acontecer. Já fui assaltada uma vez e, inclusive, passei pelo famoso episódio da "sarrada" dentro do metrô lotado, mas jamais sofri um estrupo.

Ainda tentando me livrar daquele cara alto pra cacete, sem muitas opções, utilizei minhas pernas e fui com tudo com meu joelho em direção à sua virilha.

"É o ponto fraco de qualquer homem. A única forma para me defender no momento", pensei. Tinha que tentar.

Prevendo o meu movimento como se estivesse lendo minha mente, ele desviou e, com uma força absurda, usou os joelhos para manter minhas pernas abertas e imóveis. Soltei um ganido abafado de dor por debaixo de sua mão.

Se divertindo do meu desespero, ele me encarou com os olhos maldosos e deu um sorriso nada amigável.

- Tsc, tsc, tsc - estalou a língua.- Você não tá facilitando gracinha...- fungou meu pescoço. - Eu gosto disso.- disse lambendo-o, trilhando do meu colo até a ponta do meu queixo.

Minha agonia aumentou ainda mais e senti sua mão descendo pelo meu corpo, levantando meu vestido até a cintura e  indo em direção à minha intimidade.

Soltei um grito de socorro abafado, me sacudindo inutilmente. 

"Isso só pode ser um pesadelo!" pensei enquanto gritava com todas as minhas forças, acompanhada por minhas lágrimas que jorravam por cima da mão daquele monstro.

Comecei à rezar em silêncio no meio daquela tortura que estava para acontecer.

Fechei meus olhos com toda a força quando ouvi o barulho do zíper do cara sendo abaixado.

Naquele momento, eu já havia perdido as esperanças e tudo o que eu mais queria era que terminasse logo e pudesse sair com vida dalí. 

Depois de alguns segundos, fui solta, caindo flácida no concreto frio. Eu não sabia se sentia alívio pelo  homem finalmente ter tido  piedade de mim ou se aquilo fazia parte do estupro.

Sem forças, meu corpo todo tremia e para piorar, minha tontura aumentou absurdamente.

Pude ouvir barulhos estranhos e alguém me chamando com a voz distante. Levantei o rosto dolorido devagar para ver quem me chamava.

- Rodrigo? - murmurei com a voz rouca e fraca, piscando algumas vezes para ver se realmente era ele.

Ele me olhou com extrema urgência e começou à falar algumas palavras sem sentindo. Meu ouvido estava zunindo altamente.

Ainda confusa, olhei ao redor à procura do filho da puta que ia me estuprar. Estava caído no chão com o rosto todo ensanguentado. 

Automaticamente olhei para as mãos de Rodrigo que, por sua vez, estavam esfoladas.

- Sua mão...- sussurrei esticando minha mão para  a dele, minha cabeça girando cada vez mais depressa.

De repente, uma luz forte cobriu a silhueta de Rodrigo por completo, seguida por alguns homens saindo de dentro de um carro e a sensação de estar sendo erguida do chão.

Apaguei com o misterioso "carregador" me olhando e Rodrigo dizendo meu nome, sua voz sem emitir um único som. 


Nota: *olhar vulpino: o olhar da raposa. No caso, seria o olhar negro de uma raposa em plena caça.

Minha Querida Jane - My Dear Jane Onde histórias criam vida. Descubra agora