Reviravolta

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Anastácio não era muito boa na escola, na maioria das matérias suas notas eram razoáveis, exceto história, que eram muito boas. Sua matéria preferida era mitologias onde apareciam elfos, dragões e outros seres místicos.
Ela não entendia muito bem, mas apareciam coisas em sua cabeça sobre esses seres que o professor nunca tinha passado. Ela simplesmente pensava nisso como se sempre soubesse.
No intervalo Anastácio foi encontrar Persiana e a achou sentada isolada num banquinho do pátio, como sempre ficava quando a garota ruiva a via. Foi até lá e se sentou ao lado da garota de cabelo azul, ajeitando a saia do uniforme.
—Por que sempre está sozinha?— perguntou e ela deu de ombros.
—As pessoas daqui não gostam de mim. Também não preciso de companhia.
Neste momento apareceu uma das garotas exibidas da sala ao lado e olhou Persiana com um sorriso maldoso, depois de lançar um rápido olhar desinteressado para Anastácio.
—O que você tem aí, alienígena?
Persiana não reagiu e nem olhou para o rosto dela. Levou um empurrão no ombro e a garota disse:
—Anda logo, eu sei que você tem dinheiro!
—Deixa ela em paz!— disse Anastácio com raiva e se levantou, provocando risinhos nas outras garotas que acompanhavam a primeira.
—E o que você vai fazer?
Ela levou um empurrão de outra garota fazendo com que tropeçasse para o lado, e a patricinha fez Persiana levantar, tirando uma nota de cinco reais de seu bolso.
—Só isso alienígena?
Anastácio borbulhava de raiva quando via Persiana passar por aquilo sem nem revidar. De repente o extintor de incêndio no muro estalou e começou a tremer fazendo as garotas gritarem quando um jato de gororoba branca disparou para cima delas. Elas correram gritando e o extintor girava e disparava para todos os lados enquanto os alunos ali olhavam assustados para Anastácio, que ainda estava de pé do lado do banquinho. Ela olhou confusa para o extintor e sua raiva foi substituída pelo susto, ao mesmo tempo a coisa parou de disparar gororoba branca. O pátio estava em silêncio, alguns alunos começaram a murmurar olhando para Persiana e Anastácio, outros riam das meninas que foram atingidas pela gororoba branca antes de o extintor parar de rodar a baiana.
Anastácio olhou lentamente para Persiana, que ainda se recuperava do susto, até que esta respirou fundo e disse, já andando na direção do prédio da escola:
—Vem comigo, rapidão.

—Como você fez aquilo?!— Persiana perguntou de olhos arregalados quando chegaram no banheiro.
—Mas eu não fiz nada...
Persiana a encarou por um tempo, aparentemente tentando decidir se acreditava ou não. Mas a expressão de Anastácio parecia tão confusa quanto a sua, então Persiana disse após um suspiro:
—Você consegue matar aula hoje?
—Quê?!
—É uma emergência. Você precisa saber agora.

Chegando na loja de ervas e chás da Sra. Cassilda, Anastácio e Persiana deixaram suas mochilas caírem na grama da pequena colina atrás da loja, e Persiana pediu que Anastácio esperassse um momento, descendo o pequeno morro até a construção.
—Como vou explicar... —Persiana pensou alto quando voltou, se sentando ao lado da ruiva com um frasco de vidro em formato de chifre de carneiro nas mãos contendo um líquido azulado.
—O que é isso? —Anastácio perguntou apontando para o frasco.
—Já explico. Primeiramente, sabe pra que sua mãe usa a erva da lua?
—Não... Você já me perguntou isso.
—Pois bem. Ela usa pra te esconder.
Anastácio ficou olhando para o frasco tentando fazer uma expressão neutra, mas era difícil com uma afirmação como a vinda de Persiana. Esperou o que viria em seguida, mas quando Persiana não disse nada, parecendo esperar uma reação, ela perguntou:
—Hein?Esconder de quem? E por que ou como uma erva deveria me esconder?
—Sim. Dos dragões da Terra da Geada. Eles estão aqui atrás de jovens como você, que não pertencem a este mundo. —Quando Anastácio fez uma cara confusa, Persiana revirou os olhos e começou:
—"Há muito tempo, os dragões queriam dominar todos os mundos e começaram uma guerra contra todos os outros clãs. Foi uma guerra violenta que durou quase um século e teria durado mais se uma garota chamada Kira não tivesse interferido. Ela se juntou com o dragão poderoso Shelin e provou que dragões e outras raças poderiam viver juntas. Desde então os Dragões sem cavaleiro escolhem seu cavaleiro depois de algum tempo, e os Cavaleiros do reino vão à procura deles."
Persiana terminou e girou o frasco na mão.
—Na verdade os dragões não escolhem exatamente seu cavaleiro. Eles têm muitas visões e mensagens dos deuses e quando chega a hora, o destino escolhe um cavaleiro pra eles.
Anastácio concordou devagar sem querer chatear Persiana. Não estava acreditando em nada daquilo, era um conto de fadas.
Espera... Pensou de repente. Talvez é isso que...
—E os dragões estão aqui no seu mundo agora, procurando por jovens como você, que foram tirados da Terra da Geada ou outro dos Quatro Reinos e trazida para o mundo mortal por algum motivo ou acidente. No seu sangue corre a magia dos Quatro Reinos. —Persiana disse antes que Anastácio pudess concluir o pensamento.
—Mas...Por que os Cavaleiros vêm buscar esses jovens...? Por que eles têm que ir pra lá sendo que já viveram toda a vida aqui?
Persiana desviou o olhar respondeu friamente:
—Por que uma hora a energia poderosa em seu sangue será libertada, e aqui não é lugar de magia. Os seres humanos tentariam fazer experimentos idiotas ou enlouqueceriam.
—E... E por que está me dizendo isso? —Anastácio perguntou, apesar de temer saber a resposta.
—Ora achei que já tivesse caído a ficha. —disse Persiana. —Por que você é uma desses jovens e sua mãe não quer que os Cavaleiros levem você. Ela sabe fazer algum encanto de ocultar magia com a erva da lua e assim os Cavaleiros não podem rastrear você.

Certamente uma pessoa em sã consciência desconsideraria tudo o que Persiana disse e levaria para o lado de conto de fadas. Mas Anastácio vivera toda sua vida tendo rápidos flashbacks de coisas que não faziam sentido fora do mundo faz-de-conta, e vivendo coisas que ninguém acredita a não ser vendo, como a cena do extintor na escola. Coisas pequenas, mas significativas, relacionadas às suas emoções; quando estava com raiva pequenos objetos quebravam ou tremiam, quando estava triste, algumas vezes viu pequenas luzes coloridas "consolando-a".
Anastácio não sabia como acreditar na reviravolta que sua vida faria caso aquilo fosse verdade.
Mas como? Sou a garota que mora na beira do rio da vila Abobrinha!
Persiana ainda a encarava esperando sua resposta.
Você largaria tudo para voltar para sua terra natal e ser a Cavaleira de um dragão que está destinado a se juntar a você pra sempre? Foi a pergunta que Persiana fez à garota ruiva com sardas no rosto à sua frente.
—E-eu não posso fazer isso! Minha mãe não deixaria eu ir ou não deixaria eles me encontrarem!
—Não é questão de permissão, garota.
Anastácio a olhou perplexa.
—De qualquer jeito você não pode ficar aqui. É perigoso demais, mais cedo ou mais tarde os inimigos do reino iriam encontar você, e seria o fim.
Persiana lhe entregou o frasco em formato de chifre de carneiro. Pela primeira vez Anastácio viu Persiana sorrir de verdade.
—Aqui os inimigos de Kassandra iam sentir sua presença no meio das pessoas normais. Na Terra da Geada estaria segura. Se você aceitar quem é de verdade, pode viver sua vida normalmente no nosso reino, sabendo que não está ameaçada. Agora que sabe o que esconde, você não está mais segura, tem que viver consciente de que a qualquer momento algo pode acontecer a você ou à sua família.
Persiana terminou olhando para os olhos verdes da garota, e apontou para o frasco em sua mão:
—Esta bebida não vai mais ocultar sua presença deles.
Enfim deu um último sorriso e saiu. Simplesmente deixou Anastácio sozinha com uma decisão difícil e uma história praticamente impossível de acreditar.

Gostaram? Bem, se gostar comente ou indique aos seus amigos que me ajuda muito. Talvez eu comece a aumentar mais os capítulos se vocês acharem que estão pequenos. Então boa leitura e obrigada àqueles que estão curtindo e comentando! ;D

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