Prova

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Kassandra olhou com um sorriso para o público da arena, guardas, empregados, nobres e guerreiros com suas esposas, a rainha se impressionava como gostavam de assistir àquele tipo de coisa, mesmo sendo apenas uma prova para avaliar os aprendizes dos Cavaleiros de Dragões.
Bem.. Pensou ela. São os Cavaleiros de Dragões afinal de contas.
A arena do castelo era grande o suficiente para que dois dragões pudessem lutar livremente dentro dela, e o público nas arquibancadas era protegido da luta por barreiras mágicas. Naquele dia estava bem frio, e o camarote reservado para a família real era suficientemente preenchido com travesseiros e pelos de animais exóticos.
Kassandra se levantou e andou até a frente da pequena varanda do camarote, levantando a mão para que fizessem silêncio. Quando tinha a atenção de todos, disse em voz alta:
—Gostaria de dizer mais uma vez: este não é um festival, cavalheiros e damas, portanto peço que não pressionem os competidores, afinal é apenas uma avaliação dos jovens aprendizes Cavaleiros de Dragões!
Os presentes aplaudiram e quando se fez silêncio novamente, Kassandra sorriu e disse:
—Portanto, quero que os jovens tenham como se concentrar para que possam ser avaliados adequadamente pelo mestre de guerra, Sir Yuzai! —até então sentado ao seu lado, o alto guerreiro se levantou e fez uma curta reverência, tirando mais aplausos do público, e disse com entusiasmo:
—Convido o comandante dos Cavaleiros de Dragões, Sir Edward, a iniciar as batalhas!
O público pareceu contagiado pelo entusiasmo do guerreiro, e Kassandra sorriu vacilante. Novamente aquilo estava parecendo um festival, e a voz retumbante do mestre de guerra não ajudava. Enfim o enorme dragão branco Garra de Prata entrou na arena, com seu Cavaleiro de meia-armadura em cima das costas, e fizeram uma reverência na direção do camarote de Kassandra e seus conselheiros. Os outros Cavaleiros entraram e saudaram a rainha um a um, até que Dina foi a última, e depois que saiu Kassandra reparou em alguns murmúrios do público, se perguntando onde estaria o último Cavaleiro e seu dragão.
Sinto muitíssimo, cavalheiros e damas.. Pensou a rainha com amargura. Mas o Cavaleiro Sam não pôde comparecer...
O primeiro a entrar na arena foi Jack, um garoto alto de cabelo castanho ondulado até pouco acima dos ombros, com seu dragão fêmea vermelho, Syla. O garoto reverenciou-a, assim como o dragão, e Kassandra acenou positivamente para Yuzai ao seu lado. O guerreiro fez um sinal para o soldado na arena lá embaixo, esperando ao lado de um enorme portão de ferro, o sinal de seu superior.
Assim que recebeu o sinal, o portão de ferro se abriu com rangidos e estalos, e pela fresta que se abria podiam ouvir chiados altos e furioso saindo da escuridão, até que a criatura ali escondida foi completamente exposta, e Jack desembainhou a espada. Por alguns segundos houve um silêncio aterrorizado no público, mas então a luta começou.

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Anastácio fez sinal de "joinha" para Jack quando este foi para perto das grades de ferro do portão da arena, e montou nas costas de Syla. Seu nervosismo era óbvio, e após algumas palavras de Edward com o rapaz que Anastácio não ouviu, o portão de grade foi aberto e Syla trotou para a luz do dia na arena aberta.
As gêmeas e Patrick chegaram para perto de Anastácio, agora parada rente à grade, e Kenny disse quase num sussurro:
  —Anastácio.. Você acha que vai ficar tudo bem?
Quando a garota lhe lançou um olhar confuso, Jenny apontou discretamente para Edward, parado a alguns metros de distância dos quatro, olhando sério para a arena.
—Edward parece nervoso desde que fomos nos arrumar para a prova. Eu o vi falando com Shilamir mais cedo, e os dois pareciam seriamente preocupados... 
Anastácio olhou assustada para o mestre, realmente parecia que ele estava nervoso, a mão esquerda apertava o punho da espada pendurada na cintura, e os olhos de Edward estavam fixos no enorme portão de ferro do outro lado da arena. A garota ruiva lentamente voltou o olhar para a arena, para o portão que se abria, e para a criatura que aparecia na escuridão.
Anastácio arregalou os olhos e deu, instintivamente, um passo para trás, colocando a mão na frente da boca. O monstro que saía da jaula dentro do portão de ferro, tinha o corpo, pelo menos, tão grande quanto de um cavalo forte de batalha, tinha pele coreácea e espinhos brancos saindo das costas, que iam até o rabo, em cuja ponta havia uma bola com espinhos do tamanho de grilhões. A criatura andava sobre duas pernas grossas e escamadas e tinha braços longos que iam até mais da metade das pernas, com garras esbranquiçadas como osso. No lugar de olhos tinha órbitas vazias que soltavam fumaça negra, e sua boca era repleta de dentes tortos e pontudos.
—O que é... Isso...— a garota sussurrou, encarando o monstro que Jack estava prestes a enfrentar. Anastácio sabia que os Cavaleiros não deixariam a luta prosseguir se a situação ficasse realmente perigosa, mas ainda assim não queria ver Jack enfrentar aquilo. Anastácio encarou Edward perplexa e perguntou agitada:
—M-mestre! Como podem fazer a gente enfrentar uma coisa dessas?! Eu achei que isso era uma prova, e não um jogo de sobreviver!!
Edward não a olhou, ficou com os olhos fixos em Jack e o monstro que se rodeavam na arena.
—Não fique brava comigo, Anastácio. Não foi uma escolha minha ou de qualquer outro Cavaleiro. A rainha sempre faz esse teste para se certificar de que estamos treinando bem nossos aprendizes. E ela quer ver o máximo que vocês podem dar, por isso sempre escolhe os piores monstros para testar os aprendizes. Eu mesmo tentei convencê-la várias vezes de que isso era perigoso demais, mas é inútil.
Anastácio passou a mão na juba ruiva, nervosa, e olhou para Kenny, Jenny e Patrick atrás dela. Kenny balançou a cabeça, pedindo que não discutisse mais e Anastácio voltou a olhar para a arena.

O coração de Jack estava acelerado enquanto não desviava o olhar das órbitas vazias da criatura, que chiava com os dentes amarelados e pontudos à mostra, rodeando Syla, ambas as criaturas rosnando desafiadoras.
Num movimento repentino, Jack puxou a faca de caça do cinto, lançando-a na direção da cabeça do monstro, e um segundo depois saltou da sela quando uma rajada de espinhos disparou em sua direção, ao mesmo tempo que a faca se cravou na testa do monstro.
O público gritou empolgado quando o garoto desviou dos espinhos envenenados com um salto mortal, parando no chão e já iniciando uma luta perigosa com a espada quando Syla confundiu a criatura com um jato de fogo.
Enquanto enfrentava o monstro com Syla, as palavras de John passavam pela cabeça de Jack:
O teste não é como os treinos, Jack. É uma prova em que você precisa vencer para sobreviver.

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