Olho de Tigre

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Persiana se levantou com um salto e olhou em volta tentando se recordar do que acontecera. Ela estava em seu antigo quarto na Base, e incrivelmente nada havia mudado desde a época em que deixou a Terra da Geada.
Mas o que a fizera acordar não foi isso. Ela havia sentido algo brevemente familiar na mente, algo de que gostava, mas não conseguia dizer o que era...

Anastácio deixou que o dragão negro cheirasse sua mão, e lentamente pegou a faca que Misaki, a empregada de quarto, lhe dera, começou a cortar a rede. Zimäh observou fascinado como a pequena e delicada faca, que mais parecia um enfeite, cortava facilmente os fios de aço como se não fossem nada.
A garota fechou os olhos sentindo a tontura dominá-la quando viu o sangue escorrendo de uma das feridas do dragão, e umas dez flechas pretas e estranhas cravadas em seu ombro. As escamas em volta das flechas estavam não lisas e brilhantes como o resto do corpo, mas ásperas e com um brilho estranhamente roxo.
   —Zimäh, isso...
Sim, eu também vi, são as flechas dos Citras. Só eles têm flechas envenenadas...
Anastácio se lembrou do que Zimäh tinha começado a falar antes, sobre os quartos na Base, e poções mágicas...
   —Zimäh, você poderia voar para a Base e pegar uma poção de cura! Seria bem mais rápido do que buscar ajuda.
O dragão hesitou, não queria ser visto nem ver algum Cavaleiro estúpido, mas Olho de Tigre precisava de ajuda. Então de repente ele se lembrou: Olho de Tigre, o dragão negro e temido, sempre visto com o dragão prateado e Ivan, cujo Cavaleiro era uma garota de menos de 15 anos de cabelos azuis. Persiana.
Zimäh levantou vôo com um rugido e desapareceu sob a copa das árvores. Anastácio tentava acalmar o dragão de qualquer jeito, e suas palavras pareciam surtir algum efeito.

Edward olhava para Jack, imaginando se o aprendiz poderia ter tomado algo que o faria delirar.
   —Jack, nossas fronteiras são protegidas, a não ser que tenha permissão, nenhuma criatura maior que um dragão poderia entrar sem que nós fôssemos avisados.
   —M-mas mestre... Nós ouvimos os rugidos! Anastácio também ouviu! —ele disse com mais entusiasmo. —Anastácio estava lá comigo!
Poderia ser tanto mentira quanto verdade, e seria melhor ir ver o que era do que arriscar a floresta, ignorando a questão. Edward acenou com a cabeça e bateu no ombro de Jack.
   —Chame Syla. Vamos ver o que é desta vez.

Anastácio não queria que Jack voltasse com os Cavaleiros antes de Zimäh, mas o tempo passava e seu dragão não chegava. Poderia ter acontecido algo?... Mas logo ouviu um rugido conhecido, e a sombra de Zimäh cobriu a clareira.
Ele soltou um frasco de vidro todo babado na grama, e Anastácio olhou para a coisa gosmenta com hesitação. Bllrrg...
Ela pegou o frasco com as pontas dos dedos e tirou a rolha enfeitada com desenhos e escritas minúsculas, sentindo um cheiro forte de flores e ervas desconhecidas.
   —Você tem que tomar isso Olho de Tigre. Senão não vai melhorar!
O dragão não respondeu, então Anastácio derramou metade do líquido em sua boca, praguejando ao deixar bastante escorrer para a grama.
Anastácio, é só um pouco! Se for demais... Mas já era tarde, e o dragão abriu os olhos repentinamente, soltando uma rugido ensurdecedor. Anastácio recuou assustada e Zimäh a agarrou pelos braços com as garras dianteiras, quando uma aura azulada começou a se formar envolta de Olho de Tigre, queimando a rede de aço, e suas feridas começaram a cicatrizar com enorme velocidade.
Zimäh levantou vôo ainda segurando Anastácio e começou a se afastar, quando o dragão negro soltou uma onda de fogo azul pelo corpo e voou para fora da clareira, os olhos faiscando.
   —Zimäh, me seguraaaa!!! —Anastácio berrou, aterrorizada com a visão da floresta a dezenas de metros de distância e sem nem ver Zimäh, só sentindo suas garras fortes nos braços.

Edward ouviu o rugido e encarou Jack, dizendo:
   —Isso não me parecia um pedido de socorro.
Antes, na Base, o garoto havia repetido o que Anastácio disse, e agora falou:
   —Ahn, é... A-antes parecia...
Eles chegaram à clareira, mas estava vazia, a não ser de um vidrinho quebrado no chão e uma dezena de flechas negras e grosseiras, que só podiam ser de Citras.
Ouviram um rugido, que agora estava bem mais perto e nítido, e Edward sentiu uma pontada de dor na cabeça.
   —Vamos. —Disse e montou novamente, olhando para o vidrinho quebrado e para as árvores, balançando. —Eu estou com um péssimo pressentimento.

Persiana levantou tonta e colocou uma roupa adequada, o estômago roncando, mas não sentia vontade de comer, a estranha sensação de que deveria se lembrar de algo dominando sua cabeça.
Quanto tempo ela estivera desacordada? Provavelmente a missão havia terminado a poucas horas. Ela andou trôpega até a porta, mas não chegou até lá antes de uma pontada de dor na cabeça fazê-la se ajoelhar, sentindo ânsia de vômito e o chão girava sob seus pés.

O que tá acontecendo...? Por que eu estou tão... Sei lá, eu devia ter mais energia do que isso...

Olho de Tigre era muito rápido, mas não mais rápido que Zimäh, que apesar de ser maior que o dragão negro, disparava como um raio, seja por floresta ou céu, e logo alcançaram-no, cortando seu caminho. Anastácio se viu pendurada entre os dois dragões, sujeita a virar churrasquinho a qualquer momento, caso o dragão preto decidisse atacar Zimäh com fogo. Mas com a mesma agilidade que a velocidade de Zimäh, Olho de Tigre desviou-se deles e continuou em direção à Base.
   —Zimäh, vamos atrás dele? —ela gritou contra o vento que uivava em seus ouvidos e fazia-a comer cabelo. Mas ele negou com a cabeça e começou a descer em direção à floresta.
Agora eu entendi o que ele quer e de onde veio. Vou te explicar tudo daqui a... Ele começou, então viu dois pontos vagamente familiares no horizonte, um vermelho cintilante e um branco e grande...
Pensando bem, acho que me deu vontade de segui-lo!
   —IIiiiiaaaaahhaaaaaaawaaa!!! Anastácio gritou desesperada quando o dragão prateado aumentou a velocidade de um segundo pro outro, passando a voar ainda mais rápido que antes e Anastácio sentiu o coração quase pular pela boca.
Tenho que me acostumar com isso... Acho que vou vomitar.

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Hey queridos leitores (as)!
Espero que estejam gostando, continuem lendo e curtam, isso ajuda minha história a ser descoberta e me incentiva a não parar de escrever! ;D Até o próximo capítulo!

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