Inimigos à vista

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   —Que tal um vôo até a floresta?
   —O perdedor volta à pé! —disse Jack com um sorriso, dando um assobio ensurdecedor, e logo Syla veio e pousou ao seu lado, cumprimentando Anastácio com um rugido feliz. Enquanto Jack montava nas costas de seu dragão, Zimäh se aproximou velozmente e agarrou Anastácio com as patas da frente, sem pousar, e voltou a voar para o alto, deixando Jack para trás, boquiaberto.
Anda Syla! Eles vão ganhar de nós!! Reclamou Jack, e Syla levantou vôo disparada em direção às árvores. Enquanto Zimäh ia pela floresta tão rápido quanto em vôo livre, logo chegaram no começo da floresta e avistaram um lago com uma cachoeira parecida com a de casa, na Base. O dragão pousou na pedra mais alta, esperando Jack e Syla, que chegaram algum tempo depois.
     —C-como vocês fazem iss-... —Jack não teve tempo de terminar a frase, Anastácio havia lhe lançado um sorriso triunfante e incrivelmente irritante e se lançou das costas de Zimäh para a cachoeira, aproximadamente dez metros abaixo.
O garoto ficou olhando, a juba ruiva de Anastácio aparecer na água cristalina depois de Zimäh pular atrás, pensando no quanto ele era insignificante comparado à ela, tão natural e confiante, havia aprendido a voar em poucas horas com um dragão selvagem, se tornava um só com seu dragão no ar, deixando seu corpo ser levado pelo vento sem medo. Syla deu uma fuçada rude em seu Cavaleiro ao ouvir tais pensamentos.
Idiota. Pare de se comparar à ela. Cada um tem seu jeito, Jack, assim como ela você tem coisas tão notáveis quanto cada guerreiro tem, cada ser tem sua marca, e a dela é ser selvagem, ser livre. Você ainda não sabe, mas logo vai descobrir o que é capaz de fazer.
Antes que e ele pudesse pensar a respeito ou falar qualquer coisa, o rabo vermelho do dragão raspou o chão e Jack levou uma rasteira, sendo chutado para baixo logo em seguida com um berro. Anastácio riu deliciada lá de baixo quando ele caiu de cara na água e seu dragão pulou logo atrás, apesar de abrir as asas no último pedaço.
Mas de repente Zimäh agarrou Anastácio com a pata da frente e mergulhou para trás da cachoeira, fazendo com que Jack segurasse o punho da espada em alerta, mas Syla fez o mesmo que Zimäh.
   —O que foi..? —Anastácio perguntou confusa, e logo viu do que se tratava quando olhou pela cachoeira, para a beira das árvores. Uma senhora de idade saiu de lá, olhando desconfiada para os lados.
Anastácio reprimiu um grito quando a velha se transformou numa criatura encouraçada com garras e chifres brancos como osso, e a boca arreganhada com dentes tortos e afiados. Era assustadora, e quando finalmente se foi, os dragões saíram da água e levantaram vôo com seus Cavaleiros, indo em direção ao castelo.
O que foi aquilo? Anastácio perguntou ainda aterrorizada, e Jack respondeu preocupado:
Era um dos servos de Saguhr. Aquele tipo de monstro, Kankyr, é capaz de se transformar em qualquer humano que tiver visto o rosto durante sua vida, por isso é um dos mais perigosos...
Zimäh estava em silêncio, mas Anastácio reparou a mudança em seus movimentos, o dragão queria voltar e matar a criatura, caçar todas que ousassem aparecer diante de si. O ódio por terem matado seu Cavaleiro ainda não desaparecera, e não ia desaparecer tão rápido.

Edward olhou sério para os dois aprendizes. Parecia ser verdade, considerando o fato de Anastácio estar pálida como papel. Afinal, ela ainda era humana, em seu mundo não existia nada fora do comum e a visão de um Kankyr era ainda pior para ela por isso.
   —Isso não é nada bom.. —disse Dina, sentada numa cadeira ao seu lado. Estavam todos no grande Salão depois de ouvir a notícia de um servo de Saguhr naquela região. Sam olhou ainda incrédulo para Jack, e disse insistente:
   —Mas nossas fronteiras são protegidas pela magia dos dragões!
Isso não significa que estamos protegidos de tudo e todos. Disse Seth de repente, o dragão azul de Dina. Saguhr provavelmente tem algum aliado mago, e certamente enfraqueceram nossas fronteiras. Mesmo se não tivesse nenhum usuário de magia ele daria um jeito de acabar com a barreira mágica.
   —Nossa sorte são os dragões. —disse Sam agora, alisando a barba rala grisalha e olhou para Edward.  —Eles podem matá-los com facilidade.
   —Temos que conversar com Luana. —argumentou o líder dos Cavaleiros, e depois de olhar para Anastácio mais uma vez, dispensou todos e foi pedir para conversar com a Princesa. 
Seth ficou a observar seu líder sair, e disse a Dina:
Certamente a luta contra os Kankyrs não seria fácil. Luana vai ordenar às tropas reais que cuidem deles.
Não podemos deixar isso... Concordou Dina pensativa e olhou para os outros. Temos que fazer isso nós mesmos.
     —Galera. —Dina chamou e os outros a olharam. —A princesa vai ordenar às tropas reais que cuidem dos kankyrs, se é que existem mais deles aqui. Não vai dar certo. 
Anastácio encarou a Cavaleira, pensando no que ela estava planejando e perguntou:
   —E o que faremos então?
   —A questão, —interrompeu Kady nervosa, ignorando Anastácio. —É quantos deles tem aqui e se daremos conta. Mas que droga...
   —Vamos falar com Edward e Luana. Rápido. —Shilamir se levantou da mesa e foi em direção à porta, acompanhado dos outros Cavaleiros, e os aprendizes ficaram parados, confusos, esperando uma ordem ou qualquer coisa.
   —Parece que ficamos àtoa de novo... —murmurou Jack e se sentou numa cadeira.
Kenny sorriu largo e se largou ao seu lado, dizendo:
   —Ainda bem! Eu não gostaria de lutar contra esses bichos, ainda mais sem experiência nenhuma.
Recebeu olhares sem graça, mas não se deixou abalar, mantendo o sorriso travesso de sempre. Jenny sorriu de modo desculpante e deu de ombros, olhando para a porta, como se esperasse ver um Kankyr a qualquer instante.

   —Eu estou os enviando para uma missão de reconhecimento. As ordens são: Ir e voltar sem lutar, a não ser que seja inevitável. —Luana encarou os seis Cavaleiros à sua frente.    —Edward, deixo você no comando de Kady e Shilamir. Persiana com John e Dina. Se dividam e procurem possíveis sinais de inimigos nas redondezas e avisem as vilas próximas, assim que encontrarem inimigos enviem uma mensagem a mim com o relatório.
Os Cavaleiros concordaram e saíram depois de uma reverência rígida, preparando os dragões para ir à floresta. Luana chamou os aprendizes para a sala do trono para que pudessem conversar um pouco e se conhecer, enquanto esperavam o resultado da missão.
Enquanto isso, Persiana voava à frente de John e Dina, se separando do grupo de seu pai. 

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