Cavaleiros de Dragões

Kady & Shilamir

Mais tarde, já de noite após a reunião, Kady e Shilamir foram se sentar um pouco no jardim e olhar as estrelas.
Shilamir ainda não estava exatamente em condições de andar, por isso só mancava de muletas por aí e muito menos podia montar um dragão, o que o deixou profundamente deprimido.
Kady se sentou ao seu lado no banco do jardim, e disse depois de um tempo em silêncio:
   —É, então... Eu estive observando os aprendizes ultimamente, ver como estavam se saindo..
Shilamir a olhou de lado. A luz da lua e das centenas de milhares de estrelas se refletia em seu cabelo loiro e o rosto branco, deixando-a com uma aparência de deusa. Na verdade, pensou o Cavaleiro agora, ele nunca reparara na beleza da companheira antes, ela nunca se importou com isso, era a guerreira forte e destemida que sempre andava com meia armadura por aí que ele lutara tantas vezes ao lado.
   —Shilamir, você está me ouvindo?— Kady balançava a mão na frente de seu rosto.
   —Ah claro. O que você estava dizendo?
Kady deu um suspiro.
   —Sinceramente... Eu estava falando da estranha aura de poder da Anastácia. Você não reparou no dia da Busca? Ela emana um poder estranho, possivelmente muito forte.
Ela deu de ombros e prosseguiu quando viu que tinha a atenção de Shilamir:
   —Quem sabe não seja até magia das trevas.. Certamente ela nem sabe que tem algum poder.
Shilamir pensou um pouco sobre aquilo, mas não estava a fim de se preocupar com alguma coisa, só queria aproveitar que estava melhorando e que a missão fora um sucesso, apesar da morte de um dos jovens encontrados, o de Sam e Pikan.
Enfim ele se recostou no banco olhando as estrelas.
   —Eu não me preocuparia agora, Kad. Acabamos de voltar da Busca, ela foi um sucesso e... —Ele deu de ombros e a olhou. —Eu estou com você. É o que importa pra mim.
O Cavaleiro sorriu e Kady desviou o olhar corada.
   —Talvez seja melhor mesmo...
   —A propósito... —Shilamir vasculhou os bolsos e fez uma careta de dor ao flexionar demais o ombro, e Kady o ajudou.
   —O que está procurando? Tira a mão, eu procuro pra você.
   —Eu acho que está naquele bolso ali, perto do joelho.. Isso, aí mesmo.
Ela tirou um embrulho amarelado do bolso e deu um grito quando uma serpente minúscula azul-real saiu do mesmo bolso, abriu pequenas asas e voou para o banco.
   —Ah, desculpe essa é a Bisk.. Ela é um occamy.
   —Pelos deuses.. —ela murmurou e lhe entregou o embrulho. Ele apontou pro pacote falando:
   —Não, não, abra o pacote, é pra você.
Ela abriu surpresa e arregalou os olhos com a pequena estátua de cobre em suas mãos quando tirou o papel amarelado. Ela segurava um pequeno dragão de asas abertas, perfeitamente moldado, com pequenas esmeraldas no lugar dos olhos. Cada detalhe era tão perfeito que Kady não podia acreditar que fora feito por alguém.
   —Bem, eu fiz antes da Busca, mas... Não tive coragem de dar pra você.. Olhe mais de perto.
Ela o olhou incrédula e examinou a peça mais uma vez, reparando só então a pequena figura de cabelos longos entre as asas do dragão, montada numa minúscula sela de cobre com uma espada embainhada na cintura e vestida de meia armadura.
   —Não acredito.. Sou eu?!
Shilamir sorriu e abraçou seus ombros tomando coragem. Imaginando que ela o socaria no próximo segundo ele ficou surpreso quando ela o olhou com aquele sorriso meio travesso e infeminino que raramente mostrava, a não ser para os amigos, no caso os Cavaleiros.
   —É linda.. Assim, não eu, a estátua obviamente.
Ela riu do próprio comentário e Shilamir sorriu, soltando seus ombros e segurou a mão dela.
   —Você também é. Muito mais linda do que na estátua. Mesmo que às vezes seja meio rude ou agressiva...
Ela sorriu e voltou os olhos cinzentos pra ele. Shilamir passou a mão em seu cabelo, esquecendo por um momento a dor das feridas, e beijou-a delicadamente. Por um longo tempo queria confessar seus sentimentos por ela, mas nunca teve coragem nem de olhá-la nos olhos. Irônico, pensou, Tenho coragem suficiente para enfrentar monstros e inimigos sozinho, mas não de me confessar à mulher que amo.
Kady sorriu vermelha como um tomate e apertou a mão dele com tanta força que Shilamir encolheu e disse:
   —Ei Kad, lembre-se que eu estou ferido, okay?
   —Ai, foi mal... —Ela soltou sua mão, olhando pra baixo e sorrindo boba. Shilamir levantou uma sobrancelha quando ela começou a rir do nada, e ficou rindo igual doida por alguns minutos e se deixou cair em seu colo sem forças, rindo.
   —Você é demais... —Shilamir balançou a cabeça sorrindo.