Capítulo 21

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Thor ignorou o sinal que indicava o final do almoço e inicio do segundo período de aulas. Costurou entre alunos, empurrando-os quando estes não abriam caminho a tempo e galgou as escadas rumo ao andar dos laboratórios.

Sif dissera ter trancado Loki no laboratório sete, um dos inutilizados.

Tentou imaginar seu irmãozinho trancado lá desde sexta-feira, data em que sumira e deixara de dar noticias.

O pensamento era suficiente para Thor sentir uma forte tentação em abandonar seus princípios e acertar uns tapas na loira. De onde Sif tirara a idéia de que Thor se preocuparia com sua imagem?

Ou de que ele escolheria seus amigos por status, reputação ou fosse lá qualquer um destes requisitos que satisfariam meramente uma demanda social? Thor nunca se prendera a um desses papeis.

Ele aproximava-se das pessoas por afinidade, criava vínculos quando sentia sinceridade, companheirismo, confiança. Não andaria com pessoas em quem não pudesse acreditar, com quem não pudesse contar.

Por isso alimentava a amizade com alunos de outros anos, pessoas divertidas, animadas, dignas. Pessoas que não brilhavam sob os holofotes que apontavam as "estrelinhas" da escola.

Por isso andava com Loki.

Mentira. Thor tinha que assumir que, quando pensava em seu irmãozinho, os sentimentos eram um pouco diferentes. Ou melhor, muito diferentes.

Nunca experimentara um fascínio tão grande ao conhecer alguém. Jamais em sua história desenvolvera um apego tão rapidamente. O moreno tinha uma personalidade marcante, irritável, desconfiada e arredia. Mas, aos olhos de Thor, era um jeitinho incrivelmente sedutor!

Como Sif podia achar que causar mal ao garoto alegraria Thor?!

Pois era justamente o contrário. Cada pensamento focado em Loki era seguido de preocupação, cuidado. E, não poucas vezes, ciúmes e posse.

Era a primeira vez que Thor dava nomes aos fantasmas que o assombravam desde os primeiros dias de aula, quando notara o moreninho novato que não se misturava, ficando sempre isolado. Que rechaçara seus contatos iniciais quase com medo e praticamente fugira dele. E mesmo acercando-se da forma mais sutil que conhecia – afinal ainda era Thor e a palavra sutileza parecia riscada de seu dicionário com duplo grifo – Loki ainda não demonstrava confiar fácil.

Pouco a pouco se aproximara, estabelecera contato, ganhara a confiança do garoto com certa dificuldade. Então vinha Sif com suas conclusões absurdas e punha tudo a perder. Só de relembrar isso, sentia ganas de voltar os próprios passos e ensinar aquela garota a cuidar do próprio nariz.

Só não seguia esse desejo porque o instinto de ir ao resgate de Loki era muito maior e era a única meta a guiar seus passos no momento.

Foi um alívio finalmente chegar ao corredor e alcançar a porta do laboratório. Thor estava preparado para tudo, até mesmo precisar arrombar a porta. Só não estava pronto para encontrar o local destrancado. Se a passagem era livre por que Loki não fugira? Ou ele fugira e não queria entrar em contato? Milhares de dúvidas bombardearam a mente de Thor naqueles breves segundos em que levou a mão à maçaneta e a puxou para baixo.

Controlou a respiração ofegante e com certo receio abriu a porta.

A claridade bateu em cheio no garoto sentado no chão, encolhido contra o armário e tentando secar lágrimas que desciam abundantemente pela face pálida e assustada.

– Loki...

O chamado atraiu a atenção do caçula, que só fez chorar mais ao ver que finalmente fora encontrado. E justamente por quem...

– Thor...

Em passos velozes, o loiro estava se abaixando em frente ao garoto. Os olhos azuis cravaram-se na algema que o prendia e se arregalaram de espanto pelo ferimento coberto de sangue seco.

Sem dizer nada, colocou as mãos no chão em busca de apoio e esticou a perna acertando um golpe violento no pé do armário, forte o bastante para soltar um pouco o parafuso que fixava o pé ao móvel. Um segundo chute arrancou a barreira que mantinha Loki preso.

No instante seguinte o puxava para seus braços, abraçando o moreninho como se não houvesse amanhã.

Havia tanto a se dizer, muitas coisas que Thor queria dizer ao garoto que chorava em seus braços, mas o estado de fragilidade do moreninho era tal que não seria apropriado conversar com ele.

Precisava acalmá-lo, garantir que tudo ficaria bem. Antes de mais nada, tinha que tirá-lo do colégio... saindo pelo lado contrario do corredor, poderia usar as escadas de emergência do fundo do prédio e escapar pelo pátio. A maioria dos alunos devia estar em sala de aula e Thor nem temeu encontrar com um professor. Pretendia fugir com Loki sem que fossem pegos.

– Está tudo bem, irmãozinho – o loiro levantou-se trazendo o caçula nos braços – Vou cuidar disso. Vou cuidar de você.

Loki não disse nada, talvez porque não confiasse na firmeza da própria voz, talvez porque ainda estivesse abalado demais com tudo o que passara. Acabou meneando a cabeça e concordado.

Então voltou os olhos verdes para Thor, envolvendo-o num mar de entrega e abandono, com toda a confiança que o loiro não esperava descobrir no garoto. Ele agia como se esperasse, ou melhor, desejasse aquele resgate.

Foi uma sensação que funcionou através da troca de olhares, como o magnetismo entre pólos opostos de um imã.

O loiro sentiu-se magnetizado, atraído pelo olhar úmido de sofrimento.

Num ato mais instintivo do que racional, Thor abaixou a cabeça e tomou os lábios de Loki em um beijo feroz, impossível de não se corresponder.

O "deus do trovão" exigiu toda a entrega incondicional que moldava as íris esverdeadas. E, ao corresponder ao beijo, o "deus-mago" deixou evidente que entregaria qualquer coisa que o mais velho lhe pedisse.

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Se eu demorar pra responder comentários é por causa do trampo. Acho que só vou conseguir responder direito amanhã, mas não se acanhem :D

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