Capítulo 1 - Identidade Secreta

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Eu penso muito sobre como as coisas deram errado na minha vida. Não tipo "oh meu deus, tudo está uma merda gigante", mas mais tipo "cara, em que momento exatamente eu deixei o caminhão da minha vida correr desgovernado desse jeito? "

Como a maioria das pessoas, eu adoraria ter a resposta para essa pergunta. Mas diferente da maioria das pessoas, eu tenho.

Acho que tudo começou naquele dia 24 de Janeiro, véspera de feriado em São Paulo e, coincidentemente, véspera da minha folga. Eu tinha direito a uma mísera folga durante a semana, e graças às minhas excelentes conexões (lê-se: já ter saído com meu chefe) eu tinha conseguido uma folga bem pro dia do feriado, onde eu supostamente deveria trabalhar em dobro.

Olhando em retrospecto, acho que no fundo o Michel (meu chefe) me deu essa folga na esperança de que eu saísse com ele de novo.

Digamos apenas que não foi bem isso que aconteceu.

Eu estava lá na livraria, onde já trabalhava há três anos, trabalhando no caixa como em basicamente todas as noites da minha vida. Dentre todas as funções que eu já tinha exercido na loja, acho que ficar no caixa só perdia para ficar no estoque. Eu gostava mesmo era de atender clientes e xeretar livros, mas acho que nada pode ser perfeito nessa vida.

Então lá estava eu, contando os vinte minutos para o meu turno acabar, quando esse cara maravilhoso chegou com um livro desses de culinária para comprar. Ele era alto e sarado e tinha cabelos louros compridos, na altura do queixo. Parecia uma versão à brasileira do Thor. Uma perdição. Sorri assim que bati meus olhos nele.

- Boa noite. – peguei o livro da mão dele, e fiquei me perguntando como seria aquele homem na cozinha. Ou na sala. Ou em basicamente qualquer cômodo da casa onde ele quisesse me levar – Encontrou tudo que queria?

- Agora sim. – ele disse, sorrindo. Ok, o sorriso dele não era maravilhoso (os dentes eram meio tortos) mas eu dificilmente queria ver o sorriso dele, certo?

- Culinária. – olhei o livro, fingindo estar interessada – Sua namorada deve ter sorte.

- Você acha? Estava pensando em conhece-la hoje.

Eu ri, sem nem fingir que não tinha entendido. Depois que você passa dos 25, percebe que esse negócio de se fazer de difícil é uma farsa que te contam na adolescência pra você sofrer sem necessidade.

- Bom, você pode conhece-la daqui a... – chequei o relógio no canto da tela do computador – Quinze minutos. Se valer a espera.

- Acho que vale. – foi tudo que ele disse.

E foi assim que, uma hora mais tarde, eu vim parar na casa de um desconhecido.

Agora, vamos fazer uma pausa.

Você provavelmente está aí lendo isso e se perguntando "mas que diabos acabou de acontecer? Cadê o Diego? Quem é você e o que fez com a Lolita?"

Primeiro: sexo casual. Se acostume.

Segundo: juro que isso vai ser explicado.

Terceiro: ainda sou eu, só que, sabe como é, dez anos e tal.

Voltando.

Eu sei que você possivelmente está mentalmente me chamando de vários nomes que questionam a validade da minha sexualidade (pare de ser machista) mas se faz com que você se sinta melhor, não foi tipo "oi, vamos pra sua casa". Foi tipo "vamos ali tomar um café", "vem cá me dar um beijo", "vamos pra outro lugar", e foi aí que chegamos. Num curto espaço de tempo, mas tudo bem.

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora