Capítulo 10 - Daqui Pra Frente

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Quando Diego voltou com a pizza, eu já estava mais ou menos vestida de novo – por mais que o clima ainda estivesse claramente presente, não havia motivo algum pra que eu jantasse sem camiseta. Nos sentamos no sofá da sala e comemos, conversando sobre amenidades.

Volta e meia, o assunto voltava para a vida dele naqueles anos em que estivemos separados. Não era algo feito de propósito, eu sabia – alguém que tinha morado seis anos em outro país dificilmente poderia manter uma conversa de horas sem citar uma coisa ou outra que lhe aconteceram enquanto ele estava por lá.

Mesmo assim, cada menção era como uma ferroada nova no meu peito, um lembrete de que a vida do Diego tinha continuado sem mim. Quanto dele eu não conhecia? Quantos anos tinha perdido, e agora não estava certa se poderia recuperar?

Mas a maior questão, a que realmente ficava, era: será que era possível, seis anos depois, recuperar esse tempo perdido?

Eu já estava muito quieta até terminarmos de comer, e sabia, sem precisar falar nada, que Diego tinha percebido. Me deu um certo senso de conforto e familiaridade, saber que ainda conseguíamos nos comunicar em silêncio. Fiquei sentada e não me pronunciei enquanto ele levava as coisas pra cozinha, deixando a louça suja na pia e guardando os restos da pizza no micro-ondas, tão à vontade ali como se aquela fosse sua própria casa.

Então ele voltou e se sentou ao meu lado. O clima, tão carregado de tensão sexual até meia hora atrás, tinha mudado; havia tensão, sim, mas agora era muito mais um suspense, uma expectativa.

- Você acha que algum dia vai conseguir me perdoar? – ele me perguntou, de repente, depois do que me pareceu uma eternidade de silêncio.

- Perdoar pelo que? – perguntei, sentindo a boca seca.

- Por ter ido embora. Por ter escolhido outra coisa além de você.

- Não tenho que te perdoar por ter sua própria vida. – virei o rosto e fiz um gesto de "deixa isso pra lá", mas a verdade era que eu me importava sim. E ele sabia disso.

- Eu pensei em você todos os dias, sabia? – Diego continuou. De canto de olho, eu o vi cutucando um furo no tecido do sofá, a mão perigosamente perto de mim.

- Até quando estava namorando outra? – resmunguei, a voz muito mais amarga do que eu pretendia. Para a minha surpresa, ele riu.

- Principalmente quando estava com ela. – confessou, e isso sim me fez olhar pra ele. Diego me encarava diretamente, um sorriso no rosto e um brilho nos olhos que derreteram toda a raiva e toda a mágoa em mim em questão de segundos – É engraçado isso. Eu passava o tempo todo encontrando defeitos nela e não entendia por que. Só depois eu fui perceber que o que eu procurava nela... era você.

Ele se aproximou até estar com um braço sobre os meus ombros e o outro passando pela minha cintura. Estremeci como se aquele fosse nosso primeiro contato. Me perguntava se algum dia meu corpo pararia de reagir assim a ele, como se todo toque fosse o primeiro.

- Eu sei que nós ainda temos muito pra conversar. Sei que você provavelmente não confia mais em mim. – ele disse, a voz baixa, quase num sussurro – Mas eu não vou embora dessa vez. Vou ficar aqui até que você me ponha pra fora.

Queria dizer a falta que o cheiro dele tinha me feito todos esses anos. Que estar assim, tão perto, quase me fazia esquecer de tudo que tinha acontecido. Queria dizer que, se dependesse de mim, nós ficaríamos ali pra sempre, eu e ele, presos naquele único momento.

Mas não disse. Decidi fazer o que meu coração mandava, em vez de ouvir minha cabeça. Mandei o cuidado pros diabos e resolvi viver o momento.

Foi muito súbito; num segundo, ele falava, e no instante seguinte, estávamos nos beijando. Bastou sentir a boca dele na minha pra que o desejo aflorasse, falando mais alto que tudo. Passei a mão em seu rosto, entrelacei meus dedos em seu cabelo, e o beijei com toda a força, a vontade e a saudade que eu podia.

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