O Diário (nada) Secreto - vol.4

Capítulo 14 - Amigas de verdade

Passei o dia inteirinho me sentindo uma pessoa diferente. Nunca o pseudônimo que eu usava na internet tinha pesado tanto sobre mim. Eu carregava um segredo único, uma novidade incrível, e estava morrendo de vontade de conta-la para o mundo inteiro — mas não podia. O acordo com a Ana Maria tinha sido bem claro: nada de espalhar a novidade antes que eles o fizessem. A gente havia até tirado uma foto bem legal de mim assinando o contrato, e o anúncio sairia em alguns dias. Até lá, eu tinha que ficar de bico calado.

Mas é claro que isso não incluía meus amigos e familiares, então a primeira coisa que eu fiz quando saí de lá foi tirar uma selfie com o contrato assinado e mandar pra minha mãe e pro Diego. Quase mandei para as meninas, mas acabei decidindo que, já que iríamos almoçar juntas, eu contaria pessoalmente.

O que, é claro, me trazia a um novo problema: contar todas as minhas novidades pra minha irmã, cuja vida estava mais ou menos virada do avesso.

Fiquei ensaiando maneiras de contar que estava noiva que não soassem como olha como minha vida está super melhor do que a sua, mas acabei desistindo. Eu não podia simplesmente anular minha felicidade porque as coisas pro lado da Marina não estavam tão bem. Não fazia sentido algum ficar medindo minhas palavras.

E foi mantendo isso em mente que cheguei pro nosso almocinho. Acabei me adiantando demais de tão ansiosa, e fiquei um tempão esperando elas aparecerem. Obviamente, a Lana foi a primeira a chegar.

Ela sorriu e acenou quando me viu, e só de ver a maneira como ela estava vindo na minha direção, meio correndo e meio pulando, eu já tive certeza de que algo estava errado.

— Meu deus, Lolita, parabéns! — ela disse, num gritinho agudo, se inclinando para me abraçar.

— Parabéns? — perguntei, confusa. Haviam pelo menos duas possibilidades passíveis de felicitações, e ela sequer deveria saber sobre elas.

— O Diego me contou! — continuou, sem explicar realmente nada — Eu sabia que vocês iam se acertar!

—Ah! Obrigada! — sorri, o rosto esquentando só de lembrar do meu novo status de relacionamento — Você não contou pra ninguém, né?

— Claro que não! — ela exclamou, em tom ofendido, enquanto se sentava na cadeira ao lado da minha — Meu deus, quero ver a cara das meninas!

— Falando nisso...

O assunto morreu assim que vimos Suellen chegando, e Marina entrou alguns instantes depois. Nos distraímos na confusão de beijos e abraços, e então na confusão de "o que nós vamos comer" que acabou tomando o dobro do tempo necessário. Quando, enfim, os pedidos já estavam feitos, meu coração já estava acelerado de nervoso. Mas não tive a chance de abrir a boca, porque Suellen foi a primeira a se pronunciar.

— Eu e o Daniel vamos nos separar.

Ela disse como se anunciasse o clima, com uma calma e uma frieza quase incompreensíveis. O choque foi tão grande que passamos um instante caladas antes de todas dizermos ao mesmo tempo:

— O que?

Suellen suspirou, passando os dedos pelos cabelos louros e bagunçados. Parecia exausta, e resoluta ao mesmo tempo, como alguém que demorou muito para encontrar uma solução para alguma coisa, mas que, uma vez decidida, não mudaria de ideia tão cedo.

— Eu só... — ela fez uma pausa, remexendo num pedaço de guardanapo — Eu não consigo mais. Parece que eu anulei dez anos da minha vida por uma família que não existe, sabe?