Capítulo 12 - A Decisão

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Voltei para casa mais confusa do que tinha saído. Toda a minha vida parecia ter virado do avesso, e eu não fazia ideia de para onde correr.

Fiquei horas pensando no que mamãe me disse, sobre Diego e eu não sermos como ela e o meu pai. Ela tinha tocado exatamente na ferida. Vivi tantos anos com o estigma de ser filha de um relacionamento fracassado que acho que, de certo modo, meio que projetei isso como uma verdade absoluta sobre todos os relacionamentos. Amores acabam, casamentos terminam e pessoas se distanciam. Não tinha sido assim entre mim e Diego, afinal?

Tinha, pensei, e não tinha, ao mesmo tempo. Nosso namoro tinha terminado e nós tínhamos nos distanciado, mas o amor não tinha acabado. Eu achei que tinha enfraquecido, mas foi só o Diego voltar para eu perceber que nada tinha mudado. E cá estávamos nós, próximos de novo, tentando reatar.

Mesmo assim, não conseguia deixar de pensar que tudo estava indo muito bem, bem demais, e que isso só podia significar que tudo ia desmoronar na minha cabeça. Afinal, o que foi que eu fiz de bom para merecer tudo que estava acontecendo nessas últimas semanas? Não doei dinheiro aos pobres, não fui casta, não ajudei ninguém – exceto se você contar conselhos às minhas amigas. Se a lei do carma existia, era pra eu estar me ferrando agora, e não me dando bem.

Por isso, não dei resposta imediata ao Diego. Não disse nem que sim nem que não, e apesar de ele aparecer na livraria após o turno e dormir em casa todas as noites, ele não me pressionou. Essa sempre foi uma das coisas que mais admirei no Diego, para ser sincera; ele é tão incrivelmente paciente, mesmo com coisas importantes. Ele me conhecia bem a ponto de saber que me apressar não resolveria nada.

Uma semana depois, acordei para uma cama vazia. Estranhei de início, acostumada como já estava a tê-lo do meu lado todos os dias ultimamente, e sentei, ainda meio grogue, procurando por ele. Escutei o som do chuveiro e me tranquilizei: ele não tinha ido embora.

Levantei e liguei o computador. Vinha negligenciando meus leitores há vários dias, e mesmo recebendo as notificações todos os dias pelo celular, não tinha nem coragem nem condições de responder. Diego estava comigo o tempo todo em que eu estava em casa, e no restante do tempo, eu estava na livraria. Era muito difícil dar conta da vida assim.

Então, aproveitando que ele estava no banho, peguei o computador e abri meus e-mails, e em uma outra aba, abri o site onde postava meus livros para responder pelo menos uma parte dos comentários. Haviam 299 notificações, além de 17 mensagens privadas. Eu certamente seria massacrada pelo meu atraso.

Comecei lendo alguns comentários, que iam desde leitores fiéis que estavam relendo os últimos capítulos para lidar com a espera, até leitores novos descobrindo as primeiras páginas. Passei vários minutos compenetrada nisso, tentando responder todo mundo. Estava tão concentrada que nem vi Diego entrar.

- Trabalhando? – perguntou, me pegando de surpresa. Dei um pulinho na cama e olhei rapidamente para ele antes de voltar minha atenção de novo para a tela.

- Respondendo uns recados.

- Dos seus leitores? – ele se abaixou até sua cabeça estar no mesmo nível que a minha, espiando a tela.

- É. – respondi, distraída. Diego plantou um beijo na minha bochecha e foi se trocar.

Quando já tinha respondido pelo menos as notificações mais antigas, passei para a aba do meu e-mail. Nenhuma super novidade. Ofertas de lojas diversas, algumas piadinhas que minha mãe me encaminhava, e então...

- Lolita?

- Oi? – pisquei, afastando o computador um pouco. Diego, agora completamente vestido, me lançou um olhar engraçado.

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