Capítulo 9 - Não Vamos Falar Sobre o Passado

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Diego apareceu na saída do meu trabalho aquele dia.

Eu não estava esperando vê-lo tão cedo, ainda mais passando por ali sem me avisar. Mesmo assim, quando o vi parado com as mãos no bolso, esperando pacientemente que eu saísse, meu coração deu um pulo no peito. Me perguntava se algum dia aquela sensação ia passar.

Eu esperava que não.

Me aproximei meio sem saber o que fazer. Quero dizer, como você cumprimenta um ex-namorado que reapareceu depois de seis anos, e em quem você deu uns pegas na última vez que se viram? Não tinha manual me preparando pra isso.

Escolhi a opção mais patética. Parei na frente dele, levemente congelada, sem saber como agir, e disse:

- Oi.

Ele abriu um daqueles sorrisos maravilhosos que faziam seu rosto se iluminar inteiro. Não se tentou me abraçar nem me beijar, e fiquei na dúvida se ele não queria, se estava só respeitando meu espaço ou se apenas era tudo tão estranho pra ele quanto era pra mim. Um pouco de tudo, imaginei.

- Tá com fome? – ele perguntou, então.

- Sempre. – respondi, e nós dois rimos – Mas eu, hm, tenho janta pronta em casa.

Uma mentira deslavada. Acho que a única ocasião em que eu tinha qualquer coisa pronta em casa era quando minha mãe ia me visitar – porque ela cozinhava. Diego pareceu ponderar a proposta um segundo, e então sorriu timidamente.

- A gente pode ir pra lá, se você quiser.

- Então vamos.

Andamos timidamente lado a lado até o carro dele, estacionado a umas duas quadras dali. Ficamos um longo tempo em silêncio enquanto andávamos e depois, enquanto ele dirigia. Parecíamos mais distantes agora do que da última vez que havíamos nos visto, como se uma aura de estranheza estivesse pairando entre a gente agora que parte dos nossos sentimentos haviam sido expostos.

Talvez aquilo fosse um erro, pensei. Chama-lo para ir até a minha casa assim, do nada. Eu sabia o que ia acontecer, e não seria nenhuma conversa. Quanto tempo eu esperava aguentar na presença dele sem querer beija-lo? Eu devia ter deixado ele me levar pra algum restaurante, um território neutro onde a única opção fosse fazê-lo falar. Burra, Lolita, muito burra!

- Faz tempo que você trabalha na livraria? – ele me perguntou, de repente, quando já estávamos no carro há uns bons dez minutos em silêncio.

- Uns quatro anos. – respondi, um pouco envergonhada. Quatro anos trabalhando no mesmo lugar, onde meu único crescimento havia sido sair do caixa e ir para o atendimento ao cliente. Ridículo.

- E você gosta de lá? – Diego soava genuinamente interessado. Suspirei antes de responder.

- Gosto.

- Isso foi tipo um "gosto por falta de opção" ou um "gosto, mas estou cansada"?

Eu ri. Seis anos, e ele ainda conseguia ler minhas emoções pelo tom de voz.

- É um pouco dos dois, eu acho. – dei de ombros, remexendo minhas mãos impacientemente no colo – Não é bem o que eu me imagino fazendo daqui a dez anos, mas não é exatamente ruim também.

- Entendi. – ele fez silêncio por um instante, e então pareceu se lembrar de uma informação muito importante – Você ainda tá escrevendo?

Senti meu rosto corar e abri a boca sem conseguir emitir um único ruído. Diego era uma das poucas pessoas que sabia que eu escrevia. Ele havia lido alguns textos meus sem compromisso – muitos dos quais falavam sobre ele – e tinha ouvido algumas ideias malucas que eu tive no passado. Ele sempre dizia que eu devia sentar e escrever um livro, mas não dei ouvidos até depois que ele foi embora e já não estava mais comigo para compartilhar a alegria de um sonho realizado.

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