Capítulo 7 - Uma nova chance

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Quando meu turno acabou, eu estava suando frio. Não porque estava doente, mas simplesmente porque estava nervosa. Ansiosa. Apavorada. Dentro de alguns minutos eu encontraria o Diego, e não sabia se estava preparada ou não pra isso.

Troquei de roupa tentando me acalmar e me olhei no espelho me amaldiçoando por não ter trazido nem um rímel na bolsa. Depois ralhei comigo mesma; aquele era o mesmo cara que tinha passado quatro anos comigo, e que já tinha me visto maquiada, sem maquiagem, saudável, doente, vestida pra uma festa ou sem nada no corpo. Não fazia sentido ficar obcecada em tentar me arrumar para alguém que já me conheceu de todas as formas, né?

Mas aí é que estava. Conheceu. Eu não tinha certeza se ele me conhecia agora, nem se eu sabia quem ele era. Seis anos mudavam muita coisa, e eu não tinha acompanhado nenhuma dessas mudanças. Ele podia ser uma pessoa totalmente diferente agora. E era isso que me deixava tão nervosa.

Depois de muito mais tempo que o necessário surtando no banheiro, saí. Conforme o combinado, Diego estava ali, me esperando. Ele estava de costas quando saí, e aproveitei para ganhar um tempo extra. Me perguntei no que ele estava pensando, e por que queria sair comigo agora, depois de tanto tempo. Então ele se virou e sorriu, e todas as minhas preocupações escorreram pelo ralo – por um instante, éramos eu e ele, e nenhum tempo havia passado. Eu estava em casa.

- Oi. – ele disse, se aproximando.

- Oi. – falei. Me perguntei se devia dar um beijo no rosto dele, mas achei que a chance de constrangimento era muito grande, então só fiquei parada ali.

- Então... vamos?

- Claro. Onde você quer ir?

- Na verdade eu esperava que você tivesse alguma sugestão em mente. Eu não conheço muita coisa por aqui.

- Tem um bar ótimo a umas quadras daqui.

- Perfeito.

Assenti e então tomei a dianteira. Diego me acompanhou, e descemos a rua em silêncio. Não era aquela quietude desconfortável, de quem não consegue pensar em nada pra dizer, mas apenas o silêncio que se ergue entre duas pessoas que se sentem suficientemente a vontade pra não precisarem dizer nada uma pra outra. Me parecia ótimo.

O bar em questão ficava há três quarteirões do meu local de trabalho. Tinha um banheiro limpo, comida decente e uma cerveja a um preço aceitável, o que eram meus três pré-requisitos para um bar perfeito. Diego e eu nos sentamos numa mesa do lado de fora, e quando o garçom se aproximou e ele pediu um refrigerante, percebi que talvez fosse a hora de eu honrar aquele meu antigo compromisso de parar de beber pra me esconder na vida e pedi uma coca.

- Fui lá na casa da Suellen entregar o presente do Bernardo. – Diego disse, de repente, assim que o garçom se afastou.

- Ah, é? E aí?

- Ele gostou muito. Você acertou em cheio. – ele sorriu – Eu nem sabia que ele gostava de ler. Não achei que a Suellen ou o Daniel fossem incentivar outra coisa que não TV e videogames.

- Ah, eles não fizeram nada. Foi tudo obra minha.

- Imaginei. – ele fez uma pausa e moveu o porta guardanapos de lugar, como se só para ter algo pra fazer com as mãos – Eu me sinto meio culpado de ter sido tão ausente da vida dele. Quando cheguei lá ele nem me reconheceu.

- Não foi sua culpa. – falei, mas sabia que era da boca pra fora. É claro que era culpa dele. Ele tinha escolhido ir embora.

- Foi sim. – Diego suspirou, e o garçom chegou com os dois refrigerantes. Nos servimos e ele deu um gole demorado – Ele tá enorme. Passei um tempo conversando com ele hoje, mas sei lá. É esquisito. Era pra ele ser tipo meu sobrinho, mas a gente mal se conhece.

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora