Capítulo 15 - Pro mundo ouvir

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— Divórcio? Sério mesmo?

Diego ficou tão chocado quanto eu e as meninas quando contei a ele as novidades naquela noite. Ele tinha ido me buscar na saída do trabalho, como aparentemente já tinha virado rotina, e quando chegamos, tinha descarregado compras de supermercado e se posto a fazer a janta. Quase brinquei que ele seria um excelente dono de casa, mas a verdade era que eu estava tão feliz apenas de ver ele ali, como parte da minha vida, que não tinha conseguido fazer muito além de observá-lo em silêncio.

Agora lá estávamos nós, embolados no sofá com a minha gata no colo, vendo televisão e falando sobre o dia. Quando cheguei às fofocas sobre a vida das minhas amigas, ele mal pode acreditar.

— Caramba, eu achei que eles estavam bem. — ele continuou, ainda surpreso — Quer dizer, eu não falei com o Daniel com muita frequência nos últimos anos, mas pelo menos desde que eu voltei a gente tem conversado bastante e tudo me pareceu... normal.

— Pra mim também! — exclamei — Ou tão normal quanto podia, né? Tipo, ela reclamava bastante dele, sobre as coisas que ele deixava de fazer, sabe, problemas de casal. Mas, meu deus, são dez anos.

— Uau. Faz tudo isso já?

— Pois é. Estamos ficando velhos.

Trocamos uma risadinha e ele me trouxe mais para perto.

— Não é engraçado isso? Parece que foi ontem que nós saímos do ensino médio e agora já vimos nossos amigos casarem e se separarem. — comentou, então.

— E agora a gente vai casar. — completei, corando só de dizer. Ele riu.

— Vamos virar adultos responsáveis!

Eu ri, mas tinha uma coisa me incomodando. Uma ideia que, como todas as ideias absurdas que eu tinha, viera de lugar nenhum e se instalara na minha mente de tal maneira que parecia anular todo o resto. Suspirei.

— O que foi? — Diego perguntou, sacando minha mudança de humor. Pensei em guardar pra mim, mas acabei desistindo; já havíamos passado dessa fase de ignorar as coisas, de guardar segredos.

— Você acha que vai ser assim com a gente também? — indaguei, então, soando um pouco insegura mesmo sem querer.

— Assim como?

— Que nós vamos ser o casal perfeito por alguns anos e aí a vida vai acabar separando a gente?

Pra minha surpresa, ele riu. Riu mesmo, a ponto de chacoalhar de tanto gargalhar. Olhei pra ele sem entender.

— Bom, é um pouco tarde pra isso, né? — ele disse, entre risos — Quero dizer, a gente já foi o casal perfeito e já se separou. Então, por um lado, é, acho que vai acontecer com a gente, porque já aconteceu.

Eu ri também, embora não com tanta força. Seu riso foi morrendo, até só sobrar um sorriso. Ele me deu um beijo na testa e continuou.

— Eu não sei como vai ser, amor. Mas o futuro pra mim não importa. Importa o hoje, o agora. Os dias que eu vou ter com você, as coisas que nós vamos fazer juntos. Quero fazer cada dia contar.

Assenti, e então deixei os pensamentos para lá. Ele estava certo. Eu precisava me concentrar no agora.

— Falando nisso... — ele suspirou, me lançando um olhar de soslaio — O que você acha de uma festa de noivado?

~*~

Eu achava a ideia de uma festa de noivado péssima, mas acabei cedendo. Agora que as pessoas mais importantes já sabiam, fazia sentido anunciar pro mundo. Então combinei com a minha mãe e avisei a família e os amigos do meu lado, enquanto o Diego fazia o mesmo com o pessoal do lado dele. Marcamos pra dali duas semanas, sem pressa. Eu não fazia questão de nada grande, mas minha mãe reservou o salão de festas do prédio dela e tratou de encomendar mais coxinhas e risoles do que eu seria capaz de comer em uma vida inteira. O que era pra ser só uma reunião acabou se transformando no Godzilla das comemorações.

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora