Capítulo 3 - O Casamento

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Nem preciso dizer que passei a semana inteira pensando naquilo.

Saber que havia a mais ínfima possibilidade de ver o Diego de novo havia aberto uma ferida enorme dentro do meu peito. Eu tinha passado anos colocando curativo em cima de curativo naquilo, até chegar a um ponto em que eu quase não sentia mais nada, mas agora... agora o estrago estava feito. Viesse ele pro casamento ou não, eu já tinha aberto a temporada de lembranças.

Acho que chegou a hora de contar pra vocês o que aconteceu, né? Então vamos lá.

Como vocês se lembram, depois de muita, muita, muita enrolação, eu e o Diego havíamos nos acertado há dez anos. E depois do fim daquele ano maldito onde tudo deu errado, as coisas de fato começaram a dar certo. E continuaram dando certo.

Por quatro anos. Ok, três anos e dez meses, mas dá na mesma.

Depois desses praticamente quatro anos juntos, num namoro firme e planejando o futuro, aconteceu o que geralmente acontece com os casais que namoram durante muito tempo:

Nada.

Isso aí, nada. O motivo pelo qual 90% dos namoros acabam. Num momento está tudo bem, e no outro vem a rotina, as brigas por nenhum motivo, o estresse conjunto e, quando você vai ver, um relacionamento perfeitamente bom se transformou em uma perfeita porcaria sem que nada acontecesse.

E foi no meio desse nada que Diego veio com a brilhante ideia de estudar fora. "Um ano nos Estados Unidos", ele disse, fazendo especialização ou sei lá que diabos você precisa pra se tornar piloto de avião. Ele ia embora.

E queria que eu fosse junto.

Seria tudo muito romântico e lindo, não fosse pelo pequeno detalhe: eu não tinha um único centavo. Eu estava trabalhando numa loja de shopping, pagando curso de francês e ajudando com as contas em casa. Eu não tinha a menor condição de ir pros Estados Unidos com ele.

Aí foi só fazer as contas. Nosso namoro estava por um fio, ele estava indo embora, eu ia ficar... optamos por terminar tudo.

Como vocês já devem ter entendido a essa altura do campeonato, Diego não voltou nunca mais. Terminou um curso, emendou outro, começou a trabalhar pra alguma companhia aérea de lá e se ajeitou. Arranjou uma namorada, até onde eu sabia. Estava com a vida encaminhada, assim como todos os nossos amigos.

Encaminhada sem mim.

E em seis anos sem ver a cara dele, sem falar com ele e sem ter notícias diretas dele, era isso que mais me doía. Era isso que eu nunca tinha conseguido superar. Nós éramos perfeitos, eu e ele. Melhores amigos, amantes, duas pessoas que realmente se amavam. A gente tinha tudo pra dar certo.

Mas não demos.

E eu não sabia por quê.

Me peguei pensando nisso novamente enquanto passava a compra de um cliente (Cinquenta Tons de Cinza, a trilogia completa) e tive uma súbita vontade de chorar. O casamento era dali a dois dias e, de repente, eu só queria não ir. Queria ficar em casa, chorando as minhas amarguras e lambendo minhas feridas. Queria morrer.

Claro, existia a chance de que ele não aparecesse. É, ele provavelmente não iria de qualquer forma. Ele não tinha por que ir. Estava lá nos States com a vida feita, há anos sem pisar aqui e sem falar com nenhum dos ditos amigos de infância. Pra que ele viria ao casamento da ex-namorada, certo? Não fazia sentido.

Estava decidida a não pensar mais nisso quando, no final do meu turno, meu chefe me encurralou na saída da livraria.

- Então, quando é mesmo que você vai ter que faltar? – ele me perguntou. Gabriel era o nome dele, um cara de trinta e tantos anos, barbudo e de cabelos compridos que ele amarrava num rabo de cavalo, alto como um poste. Toda vez que eu olhava pra ele, só conseguia me perguntar: por que diabos eu achei que ficar com ele seria uma boa ideia?

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora