Capítulo 6 - Um convite inesperado

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É óbvio que, quando sai da livraria naquela noite, Diego não estava lá.

Nem sei por que me dei o trabalho de ficar animada. Meu coração desperdiçou preciosas doses hormonais mandando meu estômago se contorcer e meu coração se agitar, só para, a sair e olhar em volta, perceber que não havia ninguém ali. Tão rápido quanto me animei, também me deprimi, e fui para casa cabisbaixa, sem saber bem o que fazer.

Chegando no meu apartamento, troquei de roupa e fiz uma panela de brigadeiro para comer no jantar. Super saudável, eu sei – era de se esperar que uma adulta de quase 27 anos na cara já tivesse aprendido a importância de comer os vegetais ou qualquer coisa do tipo. Mas eu estava deprimida demais para comer salada, e exceto por um pé de alface lavado e alguns tomates, não tinha mais nada na minha geladeira.

Nota mental: ir ao mercado.

Enquanto mexia o brigadeiro, chequei meu feed do Instagram para ver se Lana tinha postado alguma coisa sobre sua incrível lua-de-mel em Nova York. Apesar de eu saber que ela preferia curtir a ficar se gabando, eu tinha feito Lana jurar que postaria pelo menos uma foto por dia para que eu pudesse curtir um pouquinho também. E ela não tinha me decepcionado. Já tinha postado uma clássica no topo do Empire State e outra agarrada ao Túlio no Central Park.

Suspirei vendo as fotos e imaginei se algum dia eu teria a mesma sorte. Eu tinha imaginado uma vida tão diferente para mim que às vezes não sabia exatamente como tinha vindo parar na que eu tinha agora. Era pra eu estar rica, tendo janta pronta todo dia e viajando pelo menos uma vez no ano pra algum lugar diferente. Era pra eu ter feito alguma coisa em vez de pular de emprego em emprego, não ter concluído nada e ter uma pseudo-carreira fracassada como escritora.

Ah, minha carreira! Eu precisava escrever!

Levei o brigadeiro pro quarto e liguei o laptop. Estava devendo o capítulo da semana, embora eu estivesse 100% sem ideia do que fazer com a droga da história. Possivelmente daria algum destino cruel aos personagens pra compensar o que a vida estava fazendo com isso. É, ótima ideia. Se você não pode se vingar de um conceito abstrato, vingue-se na ficção!

Abri o arquivo e tentei reler o que tinha acontecido nos capítulos anteriores. À Beira do Colapso relatava, em toda a sua glória de cinco volumes, a saga de uma garota, Hanna, tentando descobrir seu lugar no mundo ao longo dos anos, começando pelo seu nono ano do Fundamental, passando pelas peripécias do Ensino Médio até, agora, chegar na faculdade. Neste momento, Hanna estava surtando porque teria 4 provas num mesmo dia, que também era o dia da final do time de vôlei para o qual ela jogava, e ela não sabia para quê dar prioridade.

Eu sei, não é a história das mais brilhantes. Mas acredite, pessoas piram em histórias banais! Meus leitores estavam aí para provar.

Como não sabia ainda que caminho dar para Hanna, resolvi abrir a página do livro na internet e ler alguns dos comentários recentes. Eu quase nunca fazia isso, mais por falta de tempo que de interesse, e minhas notificações estavam explodindo de tanta gente. Não respondia a maioria – exceto mentalmente - mas gostava de ler para ter um termômetro da minha audiência. Abri uma a uma e comecei a ler.

@JKReader: Meu deus do céu seu livro é maravilhoso será que você pode por favorzinho arrumar um Mike pra mim obrigada

(Meu deus, querida, cadê a pontuação? Mas sinto dizer que Mike, como todos os homens que prestam, não é real.)

@Mila053: afff que vaca essa professora dela. Espero que ela morra engasgada com o café.

(Me parece uma boa ideia.)

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora