Capítulo 11 - Em Família

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Não disse nada ao Diego de imediato. Na verdade, não disse nada a ele por longos minutos, e quando finalmente voltamos a falar, foi pra ele me dizer que precisava ir embora – mas que iria voltar.

Nos despedimos, e passei a maior parte do dia num silêncio que fez todos os meus colegas de trabalho se sentirem incomodados. Mas eu não conseguia falar. Eu não conseguia pensar direito. Eu só conseguia repetir a pergunta de novo e de novo, milhares de vezes em looping, até meu cérebro ameaçar derreter.

Casa comigo?

Ele tinha falado sério? Era difícil de saber. Quero dizer, tinha parecido sério, na hora, com aqueles olhos verdes olhando pra mim, e com a expressão serena dele. Além do mais, quem é que pede alguém em casamento de brincadeira? Não era como as minhas leitoras, que pediam meus personagens em casamento a cada três parágrafos. Isso era real!

Então, ok, vamos presumir que ele tivesse mesmo falado sério. Que o Diego tivesse mesmo me... pedido em casamento. Como ele podia achar que aquilo era uma boa ideia? Depois de todos aqueles anos separados, depois de tudo que tinha acontecido...

Eu não podia aceitar. É claro que não podia.

Mesmo assim, me fantasiei dizendo sim. Imaginei uma cena de novela em que ele me abraçava e girávamos de alegria, e aí eu planejava cada detalhe do casamento. Me vi escolhendo vestidos de noiva e dando pitacos nos vestidos das minhas madrinhas. Me vi entrando na igreja.

Não, Lolita, não. Para com isso. Foco.

Liguei pra minha mãe mais tarde naquele dia, pra saber se podia ir jantar na casa dela. Uma das coisas mais engraçadas que acontecem na vida adulta é que, mesmo tendo muitos amigos pra quem pedir conselhos, sua mãe acaba se tornando uma das suas melhores amigas. Se alguém podia me ajudar a fazer algum sentido daquilo tudo, era ela.

Então lá fui eu, depois do meu turno, pegando um Uber até o apartamento que um dia tinha sido meu também. Entrei direto, autorizada pelo velho porteiro, e subi até o sétimo andar. A porta estava aberta, e entrei sem bater.

Encontrei meu padrasto na sala, vendo TV. Ele me deu um oi distraído, sem tirar os olhos do seu futebol. Deixei a bolsa na mesinha do telefone ao lado da porta, e entrei direto na cozinha.

Muita coisa tinha mudado desde que eu tinha saído de casa. Minha mãe tinha redecorado boa parte do apartamento, e gostava de jogar na minha cara que agora conseguia fazer coisas bem mais úteis com o dinheiro dela do que me sustentar. A cozinha, por exemplo, estava toda diferente. Ela tinha arrancado todos os armários velhos e substituído por gabinetes novos e reluzentes, daqueles que a gente vê em catálogos e acha que nunca vai comprar. A nossa antiga geladeira tinha desistido de funcionar e sido trocada por um modelo que mais parecia uma nave espacial, com filtro na porta e tudo. O fogão era de última geração. Parecia cozinha de novela. Uma pena que só era utilizada pra fazer arroz e feijão.

- Oi, mãe. – disse, assim que entrei, e mamãe se virou da pia, onde picava um tomate, para me ver.

- Oi, filha. – respondeu. Me aproximei e dei um beijo no rosto dela, e ela imediatamente franziu o cenho pra mim – Ih, você tá com uma cara...

- To? – torci o nariz, e então tentei sorrir. Minha mãe não se deixou enganar.

- Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. Você nunca pede pra vir jantar aqui. – comentou, jogando o tomate picado numa vasilha com alface e cebola para a salada.

- Considerando a hora que eu saio do trabalho, não é nenhuma surpresa.

- Humpf. E então. O que foi?

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora