Capítulo 4 - Túnel do Tempo

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- Lolita? Tá tudo bem? – Edson me perguntou, entrando em meu campo de visão.

Terminamos nossa caminhada até a saída da igreja, mas eu ainda estava em choque.

Eu realmente tinha visto ele. Ele estava lá. Eu não tinha criado aquilo... tinha?

- Você viu o Diego no fundo da igreja? – perguntei rapidamente, e Edson franziu o cenho.

- O Diego? Não. Quero dizer, eu não reparei. – ele me olhou um segundo, confuso – Calma, achei que ele tivesse vindo com você.

- O que? – indaguei, surpresa – Por que ele faria isso?

- Ué, ele não é seu namorado?

Desatei a rir. Um riso, eu sabia, de pura histeria. Aquele tipo "rir pra não chorar".

- Nós terminamos, Edson. Já faz tempo. – respondi, entre risos. Lágrimas escaparam pelos cantos dos meus olhos, e eu senti meu coração apertar. Se eu chorasse, pelo menos podia fingir que era de riso. Ou por causa do casamento.

- Ah! – foi tudo que ele disse, e não tocou mais no assunto.

Os padrinhos terminaram de sair, e fizemos fila na porta da igreja, acompanhados pelos demais convidados. Eu não conseguia avistar Diego em lugar algum e comecei a me perguntar se eu teria imaginado. Era possível, não? Quero dizer, nas minhas histórias, minhas personagens já tinham imaginado ver seus pares românticos pelo menos umas dez vezes. Era super normal na ficção.

Não tive tempo pra pensar no assunto. Os noivos saíram e foram até o carro debaixo de uma chuva de pétalas de flores. Era hora de seguir para a festa.

- Você tá de carro? – Edson me perguntou, então. Ele parecia mais duro, percebi, meio... incomodado – Posso te dar uma carona até lá.

- Eu... – estava com Marina, tecnicamente. Mas, ora essa, que diferença faria? Estávamos todos indo ao mesmo lugar – Tudo bem.

Fomos até o HB20 preto (e sujo) de Edson e entramos. Era um alívio sentar, e um alívio ainda maior sair daquele calor infernal. Marina me mandou uma mensagem perguntando onde eu estava, e respondi dizendo que já tinha arranjado carona. Em seguida, ela disse pra eu ficar calma. Foi quando eu soube.

Não tinha imaginado coisa nenhuma. Ele estava lá. Ela também tinha visto.

- Então. – Edson pigarreou, e deu ré no carro para tirá-lo da vaga onde estava estacionado – Faz muito tempo que vocês terminaram? Eu nem estava sabendo.

- Faz seis anos. – respondi, um gosto amargo tomando a boca. Todos os traços do riso histérico que tinha me tomado na igreja haviam ido embora, e agora eu sentia os traços do pânico surgindo.

Ele estava lá. O que eu ia fazer? O que eu ia dizer?

- Certo. – Edson comentou, baixinho. Decidi que precisava mudar de assunto ou ia ficar louca.

- E você e a... menina lá? – perguntei, sem olhar em sua direção. Edson riu.

- Michele. – completou por mim – Pois é. A gente terminou não tem nem um mês ainda. Ela terminou comigo, na verdade.

- Ah, é? – disse, mas não estava realmente interessada. Só queria que ele continuasse falando pra que eu pudesse focar em outra coisa. Qualquer outra coisa.

- É. Falou que não gostava mais de mim como antes. – suspirou, recostando a cabeça no banco – A real é que ela gosta de outro cara, mas não teve coragem de contar pra mim.

O Diário (nada) Secreto - vol.4Onde histórias criam vida. Descubra agora