Elise fora acertada forte e brutalmente por um taco de beisebol que Alaric pegara no canto direito entre a parede e o guarda-roupa, uma fresta. Ela acordou muito tempo depois. Estava amarrada em uma cadeira ainda no quarto. Sentiu um cheiro de gasolina e ao olhar para o chão, lá estava o líquido e por toda a casa.
— Porque está tão assustada Elise? Parece que viu um fantasma. — Disse irônico.
— Eu sei quem você é! — Ela respondeu.
— Eu sei disso. Infelizmente, era uma coisa que você não poderia saber.
— Eu vi o cadáver no porão.
— Imagino que sim. E para evitar suas inúmeras perguntas e me aliviar desse segredo, eu digo a você o que aconteceu exatamente.
Arkin, agora sendo ele mesmo, foi até o espelho da cômoda de madeira que tinha no quarto. Depois de anos, o segredo tão guardado seria finalmente revelado, por ele mesmo. Colocou as lentes verdes que sempre usava no passado, atrapalhou o cabelo. Droga, eu não preciso disso, dissera a si e pegou os óculos jogando-os no chão, pisou em cima. Por fim, pegou um cigarro e soltou a fumaça, achava um conforto e alívio ao mesmo tempo. É através da fumaça cinza que ele recordou de seu passado sombrio.
— Eu sempre amei o meu irmão. Alaric sempre fora o mais inteligente, o melhor de nós dois na maioria das coisas, fazia amizades facilmente, mas com os nerds, aqueles que jogavam cartas, jogos de tabuleiro e xadrez. Mas que merda, eu odeio xadrez! De tudo, isso não é o pior das coisas.
"Alaric conquistou muitos alunos naquela época, até os professores, pela sua inteligência, gentileza e educação. As pessoas já não simpatizavam por mim, pareciam ter nojo. E quando me confundia com ele, eu explodia de raiva. Foi aí que decidi mudar meu visual, drasticamente.
"Resolvi deixar o meu cabelo crescer, coloquei lentes verdes, usava roupas pretas e descobri o maravilhoso rock n' roll. As pessoas começaram a olhar diferente para mim naquela época. Eu me senti um novo cara, como se não tivesse um irmão gêmeo chato, irritante e idiota. E claro, arranjei algumas brigas, mas isso é superficial, não tem importância. Mas ainda sim, eu amava o meu irmão.
"Foi nesse exato momento que ele viu você. Merda, merda, merda, merda! Eu avisei pra ele que você era demais. O tipo de garota loura, popular, bonita e que todos gostavam, tal como o Oliver, lembra-se dele? Oliver Turner, o mito inesquecível das garotas, eu queria ser como ele. Enfim, mas Alaric como sempre, não me escutou. Ele tentou fazer você gostar dele várias vezes, até te deu um desenho, você lembra disso melhor do que eu. O seu namorado e a gangue dele iam acabar com o meu irmão, quando ele percebeu. Eu tinha que defendê-lo, Alaric não sabia brigar, saiu com dois hematomas quando eu ainda não estava lá. Fiquei com um hematoma e outro, mas acabei com todos eles. E mais uma vez fui parar na direção.
"Nós brigávamos muito, eu sei bem disso, mas na maioria das vezes, ficávamos bem. Alguns dias depois daquele, como de costume, eu estava esperando ele para irmos embora, mas o Jeff, aquele que você citou, disse que ele tinha ido embora sozinho. Quando cheguei em casa, havia uma grande mala e duas pequenas na sala, eu não entendi aquilo."
[FLASHBACK]
— Alaric? Alaric? — Arkin subiu as escadas e encontrou o irmão pegando o resto de suas coisas e colocando em outra mala pequena. — Alaric, o que você está fazendo?
— Adivinha! Eu sei que você é bem esperto. — Respondeu com uma voz triste enquanto levava a mala para sala.
— Eu não entendo, você vai viajar?
— Eu vou embora Arkin. — Subiu novamente as escadas e Arkin acompanhou.
— O que? Como assim?
— Eu estou cansado.
— Cansado de que?
— De você. Você controla a minha vida, não quer que eu faça os meus próprios amigos, se intromete no que não é da sua conta. Você me irrita e eu não aguento mais. Não vamos reparar dessa vez.
— Engraçado você mencionar isso, porque eu estou cansado de você. Eu enfrentei aqueles caras por você, que gosta de alguém que não pode ter...
— Não posso por quê? Elise é bonita demais pra mim? Ou como você diz, ela é muito areia pro meu caminhão? É, você tem razão. Você é o mais belo de nós dois com essas lentes verdes falsas. Por que não fica com ela então? O que está tentando fazer? Chamar atenção? Você está fingindo ser alguém que não é!
— Não. As pessoas querem que eu seja como você, mas eu não sou.
— O problema é delas Arkin, você precisa ser você! Sempre vou gostar de você de qualquer jeito, com olho verde ou não. Eu gosto do Ark, o meu irmão. Você é bom Arkin, é inteligente e sei que tem um bom coração aí dentro de você. Mas está se tornando outro homem e eu não o conheço. Eu estou assustado e nunca achei que diria isso, mas estou com medo de você!
— Rick, você não pode ir! — Disse Arkin gritando e com raiva.
— Não me chame mais assim.
— Você não pode ir embora assim, Alaric. — Arkin repetiu gritando mais uma vez.
— Não pode mais me controlar, Arkin.
— Sabe qual é o seu problema? — Alaric estava pronto para descer novamente, mas foi interrompido pela pergunta do irmão. Ele teve que parar no vão da escada. — Você sempre se achou perfeito, o mais inteligente, o mais esperto, sempre melhor do que eu. Mas perceba, Elise não te quis, você não faz o tipo dela, idiota.
— Arkin...
— Você não é o mais inteligente, nem o mais esperto. Você não é mais bonito do que eu e fica me culpando por isso.
— O que você está fazendo?
— E você também não é perfeito, irmãozinho. Nunca me agradeceu por tudo que eu fiz pra você!
— Arkin, para de se aproximar!
— Você pode enganar a todos com a sua educação e gentileza falsas, a mim você não engana. Eu conheço você.
— Arkin, eu vou cair!
— E tudo o que eu fiz por você? Você não é perfeito.
— Arkin!
— Você é um péssimo irmão... Um idiota... E egoísta!
— Não!
— Alaric!
[MOMENTO ATUAL]
"Quando eu gritei o nome dele, não durou mais tempo enquanto ele rolava cada degrau. Foram três lances de escada e só depois, percebi que não fora um acidente. Eu havia o empurrado escada abaixo. As minhas mãos empurraram Alaric na escada, mas eu sentia que sem ele na minha vida, tudo seria mais fácil, eu queria aquilo. Portanto, eu fiz. Quando cheguei perto dele, não senti pulso algum e atrás da cabeça, o sangue rubro e vívido começara a escorrer.
"Desde então, eu fiz tudo parecer como ele havia planejado antes de eu o empurrar. Tive que sumir com as roupas dele e as coisas que o pertencia. Coloquei o corpo na caixa com gelo e limpei o chão. Escrevi um bilhete dizendo que sairia de casa por um tempo, mas que em uma semana voltaria, fiz isso parecendo ser ele. Coloquei em baixo de um vaso onde qualquer pessoa burra acharia. Liguei para a polícia e disse que meu irmão havia sumido. Eles olharam a casa toda, não acharam o porão — onde estava o corpo escondido —, mas acharam o bilhete. Embora tentassem procurar pelo Alaric após as 48 horas, eles "presumiram" que ele voltaria em uma semana.
"Uma semana se passou e eu fui à polícia novamente. Eles procuraram o Alaric por mais duas semanas e constaram definitivamente que ele havia desaparecido. A noticia do desaparecimento de Alaric correu rápido. Tudo saiu como eu havia planejado, ninguém saberia do meu segredo. O segredo perfeito. E eu fui a vítima perfeita."