O dia seguinte chegava aparentemente bem rápido. Elise dormiu muito bem a noite anterior, o contrário do marido que, no meio da noite, acordou assustado por causa de um pesadelo. No café da manhã, quando ela perguntou qual foi o pesadelo, ele disse que não sabia, ele não se lembrava. Alaric podia até não se lembrar do sonho, mas ele tinha vaga ideia do que poderia ser e resolveu manter consigo. Depois que ele terminou o café da manhã foi para o trabalho.
Elise terminou de comer e foi se arrumar. Ela também tinha ido para o trabalho. Ficou na editora respondendo emails como de costume, criando postagens sobre o meio literário na rede social da empresa e ajudou Denis sobre outras capas de livros que viriam a ser lançados. Um deles brevemente seria lançado na sexta-feira daqui a dois dias. Seu chefe a convidou para o lançamento do livro e ela ficou muito contente em aceitar. Quase não tinha tempo para diversão ou algum evento e esse parecia ser bem interessante.
Alaric como de costume ficou no escritório digitando documentos, colocando-os em ordem de prioridade. Embora isso fosse tão chato quanto assistir ao baile beneficente de idosos — pensava ele —, ele estava dando tudo de si para ganhar a devida promoção que achava que merecia. E merecia! A julgar pelas suas qualidades, todas conduziam verdadeiramente com o seu caráter. Nunca se ouvia um mal dito argumento contra seus ideais, postura e caráter. Decerto, ele era um homem excepcional no trabalho e todos sabiam que seu amor era Elise.
Ao anoitecer, ele recolhera toda a papelada que ficava para digitar para o dia seguinte e guardou na gaveta da própria mesa. Fora ao banheiro lavar o rosto para acordar um pouco, antes de dirigir. Ele não havia dormido direito na noite anterior.
Molhou o rosto duas vezes e ficou olhando o espelho por alguns segundos, de modo a parecer vidrado. Estava olhando pro nada a não ser o seu próprio reflexo. Um pequeno barulho irritadiço começou, o trincar de um espelho, e era o que acontecia. O espelho estava começando a trincar novamente como da última vez que ele estivera ali.
O barulho irritava. Poderia ser comparado a uma pequena mosca voando e fazendo um zumbido bem fininho e pequeno perto do ouvido com o seu bater rápido de asas. Ele colocou as duas mãos uma em cada orelha tapando o som, tentando evitar escutá-lo. Ele estava virando para a parede oposta e o barulho continuava. Ele foi se abaixando como uma criança pequena que vira algo e se assustara.
O barulho irritante cessou. Ele se levantou e virou novamente para o espelho. Três letras em maiúsculo estavam gravadas no objeto, as mesmas letras da noite passada "ARK". Lavou o rosto novamente e gritava como se estivesse falando com alguém: "O que você quer de mim?". Não foi respondido. Tudo estava num completo silêncio. Resolveu sair dali imediatamente.
Foi para o elevador e chegou à garagem. Entrou no carro e começou a dirigir pensando se o banheiro da empresa seria assombrado. Ou se ele estava ficando louco. Dirigia como louco pela rua, quase atravessou dois sinais vermelhos. Talvez ele estivesse realmente ficando louco. Talvez...
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