ANGEL
Denise voltou para casa. Dorian e Ed preparam uma surpresa para comemorar a sua chegada, com direito jantar, bolinhos e trufas.
Dorian e Denise começaram a fazer terapia juntos e passaram o final de semana fazendo caminhadas e pintando flores e figuras estranhas no ateliê dela. O relacionamento deles não era como antes, mas eles estavam recomeçando de novo, reconstruindo um novo jeito de lidar com tudo. Contar a verdade para Ed foi um grande passo.
Isso aconteceu quando estávamos sentados na mesa para jantar. Denise não contou a violência, pois concordaram que ele era muito novo. Apenas contaram que Dorian era seu irmão.
Todos pareciam alarmados sem receber qualquer reação dele. Dorian manteve o olhar fixo na taça de vinho, sua expressão cheia de hesitação, medo de rejeição. Mas Ed surpreendeu todo mundo quando olhou para ele e simplesmente disse "legal". O alívio foi quase palpável.
A banda tocou para uma casa lotada na sexta. Eu e as meninas pedimos bebidas no bar e Jane ficou quase ofendida quando Chloe optou por um refrigerante.
— É a sua primeira noite de diversão de verdade. Vamos lá, pede algo decente! — A ruiva incentivou.
— Mas eu nunca bebi... — Chloe explicou enquanto o barbem alternava o olhar entre as duas.
— Assim como também nunca mentiu para sair escondido, mas aqui está você! — Jane colocou a mão na cintura. — Faça o trabalho completo.
Chloe mordeu o lábio e olhou para mim.
— A decisão é sua. — Dei ombros.
Jane pediu uma bebida especial para a novata, uma vodka com limão para todas e um shot especial para Chloe. Foi um pouco engraçado vê-la erguer o copo e beber o líquido de uma vez só, o rosto se contorceu inteiro, provocando nossas gargalhadas. Depois de um tempo, ela já estava toda sorridente, dando "oi" para todo estranho que passava e dançando de um jeito... fofinho. Tudo o que eu conseguia pensar era que, antes de subir no palco, Dorian tinha me pedido para ficar de olho nela.
A verdade era que todos estavam um pouco bêbados. E a banda estava matando. A sintonia entre o vocal do Dorian e a guitarra do Jhonny, as alternâncias do baixo do Alex - ele assumiu o baixo após o falecimento de Leo -, e a bateria energética do Will...
Completamente exausto, suado e com um sorriso idiota, Dorian pediu um minuto ao público. Os rapazes encontraram tempo para improvisação enquanto o vocalista circulava pelo meio. O acompanhamento instrumental rolava suavemente, criando um clima, esperando o sinal dele. E então ele começou a divagar:
— Vamos cantar uma música autoral recente. Então espero que sejam generosos. — disse com a boca colada no microfone, empurrando os cachos selvagens para trás com a ponta dos dedos. — Ela se chama "vestido branco".
O lugar foi preenchido pela introdução instrumental etérea de guitarra e baixo, o que me fez sorrir em reconhecimento. Era uma das melodias gravadas no Cd que Dorian me deu, mas desta vez a peça de rock alternativo/hard rock estava finalizada. Jhonny dedilhava riff recheado de reverberação com sua Fender enquanto o bumbo constante de Will parecia imitar batidas de um coração partido. Por fim, Alex entrou com o baixo. Todos caíram a toca do coelho, sendo levados à magia da década de setenta.
Dorian se posicionou no pedestal e começou a cantar sobre como se encontrava aliviado pelo fim do romance, comparando o término com a morte metafórica da ex amante. As letras construíam cenas cinematográficas; a sua procura por distrações "no submundo" sob efeitos de drogas, desesperado para esquecê-la. Afinal, ela "morreu" dentro dele. Não precisava mais da sua "graça, beleza e fúria", garantindo que estava melhor sozinho ao dizer "eu tenho os meus cigarros, a poesia, meu whisky e minhas linhas brancas sobre a mesa".
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1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)
Romance☆ Livro 1 da série Privilegiados: Memórias Ocultas Enviada para passar as férias de verão na casa do pai, Angel Levi não está disposta a conviver com a nova família do homem que desapareceu quando ela tinha nove anos. A garota impetu...