Capitulo 5

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She moves like she don't care

Smooth as silk, cool as air

ohh, it makes you wanna cry

• Blondie - Maria

DORIAN

  Encontrei Denise regando seu cacto verde com uma caneca branca na cozinha. Eu a abracei. O cheiro de camellia sinesis e panquecas fez meu estômago reclamar.

— Sabe que eu te amo, querido. Mas assim você vai quebrar minha costela.

Eu ri e apoiei a cabeça em seu ombro.

— Ninguém mandou ser a minha pessoa favorita no mundo. Agora tem que aturar abraços e beijos.

— E a sua pessoa favorita no mundo teve seu pedido atendido?

— Que pedido?

— Você prometeu fazer uma revisão naquela moto. Morro de medo de você sair andando com ela por aí.

— Oh, esqueci.

— Sabia! Só não esquece a cabeça porque ela está agarrada no pescoço.

— Perdão. Prometo resolver isso logo. — Pisquei um olho, sorrindo.

— Esse charme ainda vai te colocar em problemas, viu? — Bateu duas vezes no meu ombro. — E você parece péssimo, querido. Voltou muito tarde ontem?

— Sim. — Roubei uma torrada da tigela. — Ah, droga! Esqueci de deixar meu xixi no banheiro.

— Acho que podemos romper com os testes, está bem?

Ergui uma sobrancelha.

— É sério?

— Você está sóbrio há tanto tempo. Confio em você. — Seguramos o olhar um do outro. Ela sorriu. — Vamos encarar isso como um novo teste de confiança. A não ser que você sinta que não está pronto.

Pensei na rotina humilhante de urinar dentro de um potinho para o teste antidrogas. Nas primeiras semanas após a desintoxicação, ela ficara tão apavorada com a possibilidade de recaída que fazia revista no quartinho como uma policial treinada, verificando meus bolsos, mochila, as gavetas, no interior do armário...

— Eu estou pronto.

Ela ficou feliz, deu para ver. Passou os braços ao meu redor e eu abracei de volta.

— Posso saber por qual motivo você está segurando a minha mulher? — Robert entrou na cozinha sorrindo.

Denise riu e se afastou.

— Bom dia!

Robert beijou a bochecha dela. Não usava terno para o trabalho como de costume, o que me deixou confuso.

— Vigiou a Angel como eu te pedi? — Roubou uma rosquinha da tigela também.

— Hum... sim. — Cocei a nuca, já sentado no banco do balcão. — Ela não fez nada demais. Apenas se divertiu, não se preocupe.

Maldita culpa. A ideia era cuidar da garota, não dar em cima dela. Em minha defesa, Angel parecia corresponder as investidas. Olhos não costumam mentir. Dava para sentir que estava... curiosa.

Se ela tivesse cedido, teríamos entrado em deleite com algo mais do que um simples flerte, onde diversão e prazer se misturassem. Eu a levaria a fantasias vivas, loucura, uma viagem celestial...

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Where stories live. Discover now