Eu ouço a voz dela
Chamando meu nome
O som é profundo
Na escuridão
•The Cure – A Forest
ANGEL
Desci do carro observando Dorian com cautela.
— Dorian...
— Sim? — Ele permaneceu de costas.
— Desculpa.
A palavra saiu estranha da minha boca, pois eu não me recordava quando foi última vez que a usei com alguém.
— Não fale do meu pai outra vez, entendeu? — Dorian se virou e eu me retesei, intimidada com seu olhar intenso. — Nunca mais o mencione dessa forma.
Acenei, engolindo o caroço na garganta. Dorian suavizou a expressão dura.
— Podemos entrar?
— Certo...
Tirei a chave reserva da bolsa e abri a porta. Dorian olhou ao redor, sorrindo pela simplicidade do ambiente. O sofá azul no meio da sala, as cortinas brancas, o piano e a estante com a tevê plana... Gritei pela minha mãe, sem receber resposta. Ela não estava.
— Quer beber alguma coisa?
— É claro.
Fui até a cozinha, encontrei duas longneck. Quando retornei, joguei uma delas na direção de Dorian e sentei no sofá.
— Obrigado.
— Sem problemas.
Dorian deu um gole na cerveja, os olhos percorrendo as fotos na estante. Sorriu para a coleção de LPs empilhados no móvel. The Smiths, Beatles, Fleetwood Mac, Talking Heads, The Clash...
— Desintegration! — Apontou para a capa esverdeada de The Cure.
Sorri.
— É o álbum da minha vida.
— Posso colocar para tocar?
Dei de ombros, dando a carta branca. Quando o disco começou a girar na agulha e a melodia atmosférica de Plainsong explodiu, Dorian moveu os pés, desastrado, girando o corpo ao ritmo nostálgico da música. A pouca iluminação não me impediu de observar a simplicidade na forma como o músico se agitava, os lábios soltando sussurros prolongados que quebrava, em momentos precisos, melisma em cascata.
— Essas lindas canções, a enxurrada de lembranças que elas trazem... — Ele se jogou ao meu lado. — Elas me assombram mesmo depois de tanto tempo...
— Eu sei.
Ele sorriu e fechou os olhos para sentir a canção, deixava a mente levitar por lugares da fantasia.
— Você está legal? — sussurrou.
— Na verdade, eu estou.
Olhamos um para o outro. A intensa troca deixou perceptível: Dorian sabia que eu não era indiferente a ele. Influência do álcool ou não, não importava, desejei beijá-lo tão mal.
Desviei o olhar, corando. Robert Smith começou a cantar Pictures of you enquanto crescia o constrangimento mútuo.
— Desculpa mesmo pelo o que eu disse sobre o seu pai. Quando estou com raiva, minha boca vira uma adaga pronta para matar.
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1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)
Romance☆ Livro 1 da série Privilegiados: Memórias Ocultas Enviada para passar as férias de verão na casa do pai, Angel Levi não está disposta a conviver com a nova família do homem que desapareceu quando ela tinha nove anos. A garota impetu...