ANGEL
"Quero ouvir a sua voz," foi o que eu enviei para ele. Então se passaram minutos e nenhuma resposta.
A minha cabeça racional dizia "tudo bem", mas o meu coração retrucava: "o que diabos ele está fazendo de tão especial que não pôde responder uma miserável mensagem?"
Eu sabia que a ideia de dar um tempo tinha sido minha, contudo, doeu a falta de interesse da parte dele. Me sentia patética ali, sentada na cama usando uma camisa negra folgada, que ele esqueceu no chão do meu quarto. Porque me dava conforto difícil de desapegar, ainda cheirava a ele.
Acendi um cigarro e apoiei meu notebook no colo. A minha caixa de mensagens do Instagram estava cheia de pendências, consequência da inatividade. Mas surpresa mesmo foi encontrar os caras da banda no meio de solicitações de amizade.
Encontrei a conta do Leduc na conta do Alex. Mordi um sorriso inevitável, porque a sua foto do perfil agitou algo em meu peito. Seu cabelo estava uma confusão caótica e havia aquele sorrisinho cafajeste típico dele. A pessoa que capturou a imagem pegou Dorian no seu melhor momento, distraído e risonho.
Como ele conseguia ser tão bonito?
Havia muitos comentários lá. Muitos sem respostas, o que indicava que ele não entrava naquilo há muito tempo. Recadinhos picantes em sua maioria de garotas. Se ao público existia aquele tipo de coisa, imagine o que não deveria ter no privado?
Passei por fotografias dos rapazes em shows, bares, sorveteria... Adorei a deles em Abbey Road, caminhando na faixa de pedestre mais famosa do mundo, imitando os Beatles. Porém foi outra foto que chamou mais atenção...
Dorian estava sem camisa no muro, apenas com a calça surrada e suas inseparáveis botas de combate. Segurava o cigarro e abraçava Alex, os dois rindo para a pessoa que bateu a foto. E então havia a garota loira ao lado deles...
Michelle era linda mesmo. E ria olhando para a dupla de primos, vestindo shortinho jeans e uma camiseta preta folgada. Oh, a camiseta dele...
Fechei o notebook antes que o ciúme me engolisse. Nenhuma resposta de Dorian. A esta altura eu já estava imaginando mil cenários diferentes que envolvia bebedeiras, garotas, drogas... Ou talvez eu só estivesse paranoica. Ele dirigiu por longas horas, provavelmente foi dormir.
Decidi verificar se Denise já tinha acordado. Eu a encontrei com as costas apoiadas na cabeceira, segurando um livro no colo. A pele pálida, as olheiras profundas... Ao menos tentou esboçar o melhor sorriso que conseguiu.
— Como você está, Angel?
— Eu estou bem... — Tomei a liberdade de sentar na beirada.
— Fiquei preocupada com tudo o que aconteceu. — Apertou gentilmente a minha mão. — Eu sinto muito, querida. Eu deveria ter ido encontrar vocês...
— Não se preocupa. Você está passando por muita coisa. Robert já chegou?
— Ele teve que ir ao hospital.
— E como você está?
— Eu vou indo como posso.
Observar Denise tão triste era demais para mim. Por que coisa ruins aconteciam com pessoas boas? Ela era uma das almas mais gentis que eu já tinha conhecido, e me deu mais atenção nesse tempo curto do que os meus pais a minha vida inteira.
— Eu estava com ele.
A frase saiu de súbito. A boca dela tremelicou e seus olhos brilharam.
— Você esteve com ele? — sussurrou. — Esteve com o meu menino?
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1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)
Romansa☆ Livro 1 da série Privilegiados: Memórias Ocultas Enviada para passar as férias de verão na casa do pai, Angel Levi não está disposta a conviver com a nova família do homem que desapareceu quando ela tinha nove anos. A garota impetu...