Walk in silence
Don't walk away, in silence
See the danger
Always danger
Endless talking
Life rebuilding
Don't walk away
• Joy Division - Atmosphere
ANGEL
Dor.
A gente nunca sabe como lidar com essa palavrinha pequena causadora de um efeito gigantesco.
Algumas pessoas desabam enquanto absorvem o impacto. Outras resolvem sentir raiva do mundo – sem citar nomes -, e então sobra eu. Cética e vazia, para não dizer desolada demais para ter uma crise "normal" de luto.
Eu me mantive passiva enquanto Robert dirigia sob um silêncio superestimado. As paisagens passavam diante dos meus olhos enquanto as lembranças do vovô me assombravam.
Timothy sempre fora tão sábio. Das palavras da vovó, seu marido era um homem que nunca cresceu, pois seu espírito era de uma juventude jamais perdida. Sonhador, alegre e grande amante da imaginação. Ele fez os quarenta anos ao lado de sua esposa uma maratona de cumplicidade, arte à beira da loucura.
Embora eu não tivesse tido um bom exemplo de "um grande amor" vindo dos pais, sempre respeitei o casamento dos meus avós e jurei para mim mesma: "o amor pode não ser tão ruim se for desse jeito, talvez. Talvez não será tão ruim se for assim."
Eu sonhava com aventura desde então, uma mente inspiradora e um coração cheio de amor. Alguém que me entendesse, me amasse por minhas qualidades, mas também por meus defeitos.
E pensar que, por um momento, achei ter encontrado isso...
Leduc era um típico aspirante a poeta ingênuo, sonhador, por ser também espírito livre, selvagem, estranho. Intenso e genioso, mas tão bondoso ao ponto de se sacrificar para o conforto do outro.
Eu o amava porque ele era o cara que me convencia a fazer o que tivéssemos em mente, sem preocupações de fazermos papel de loucos, porque ele via beleza na loucura. Era aquele que me fazia dançar na chuva e depois abria os braços para agradecer ao Criador por mais um dia de vida. Era aquele que me fazia rir como uma criança feliz e depois me fazia sua mulher debaixo dos lençóis.
Eu me apaixonei por ele loucamente todos os dias...
E teria que aprender a fingir que esse sentimento jamais existiu.
Não era apenas uma perda. Eram duas, pois uma parte do meu coração sabia que aquele louco sonhador não existia mais, assim como o falecido e amado velhinho que se parecia tanto com ele.
Fechei os olhos com força e me recriminei por lembrar dele. Tinha a certeza que o dito cujo estava ótimo sem mim, assim como eu teria que aprender a ficar sem ele. Além disso, precisava me concentrar em uma dor de cada vez. A dor do luto já era desmedida o suficiente para suportar "problemas com garotos".
— Não teve mais contato com Dorian?
Franzi o cenho e encarei Robert, que parecia desconfortável guiando o volante com apenas uma mão.
— Não.
— Ele ainda está chateado com você, não é?
— Eu acho que para ele é mais fácil culpar todo mundo — sussurrei casualmente. — E tudo bem.
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1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)
Romansa☆ Livro 1 da série Privilegiados: Memórias Ocultas Enviada para passar as férias de verão na casa do pai, Angel Levi não está disposta a conviver com a nova família do homem que desapareceu quando ela tinha nove anos. A garota impetu...