Capitulo 32

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ANGEL

 Denise estava sentada no sofá quando parei na frente dela. Antes que ela pudesse perguntar o que aconteceu, eu implorei:

— Não conte para ele.

Ela piscou confusa.

— Eu sei, é confuso. Mas qual é o objetivo, afinal? Isso só vai fazê-lo sofrer e... — Abanei a cabeça. — As coisas não podem ser mudadas. Elas são desse jeito. Então eu acho que contar não vai fazer diferença nenhuma além de trazer sofrimento.

Ela não disse nada.

— Me desculpa se pareci indiferente a sua dor. Não era isso. — Desviei o olhar. — Só não sabia como lidar com tudo isso naquela noite.

— Acho que ninguém sabe, não é? Não fique se culpando.

Eu me sentei ao seu lado.

— É difícil? Estar perto dele e não poder dizer nada...

— Eu prefiro assim, se for para vê-lo feliz. Não quero vê-lo sofrer.

— Eu entendo. Se você contar apenas que é sua mãe biológica, ele vai querer respostas. Respostas as quais você não tem coragem de contar.

— Isso me tira o sono quase sempre. — Comprimiu os lábios. — Você o ama, não é? Eu vi que você dormiu no quarto dele esses dias...

Corei. Denise riu.

— Tudo bem, querida. Você sente falta dele aqui. Eu também sinto. As piadas, as conversas profundas...

— As cantorias pela manhã — completamos ao mesmo tempo e rimos.

— Dorian é um bom rapaz. Muito encantador, engraçado e gentil. Sempre tão doce com todos. — Denise gargalhou e eu sorri curiosa. — Deu muito trabalho também. Teve uma vez que Rick descobriu que ele estava namorando duas meninas ao mesmo tempo. Os pais delas foram até a casa deles e foi uma confusão. "Mas eu gosto das duas", se justificava o menino. Seu pai deu uma bronca para parecer firme na frente dos outros, mas quando ficaram sozinhos, não pôde deixar de rir. A verdade era que ninguém conseguia ficar bravo com Dorian por muito tempo.

Denise olhou para as próprias mãos, os dedos mexendo na barra do vestido. Eu adorava o seu jeito simplista de se vestir, sua elegância. Lembrava a minha heroína Audrey Hepburn.

— Confesso que nunca o vi desse jeito.

Franzi o cenho.

— De que jeito?

— Apaixonado. Claro que Dorian sempre foi muito sensível. Ele é um artista, e os artistas sentem tudo ao extremo. Mesmo que no caso dele fosse sempre algo volúvel. Porém agora é diferente. A forma como ele olha para você...

A mulher do Robert segurou a minha mão e seu rosto construiu uma expressão mais séria.

— Não ligue para o que seu pai disse. É apenas uma crise. Você é a única filha dele. Às vezes ele tem um conceito muito errado sobre as coisas, mas ama você.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Robert entrou em casa carregando a case de Dorian. Ele abriu em cima da mesa, revelando o violão consertado.

Toquei no corpo do instrumento e sentimentos esquisitos me invadiram.

— Por que fez isso?

Denise e eu olhamos para ele como se tivesse crescido três cabeças.

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Where stories live. Discover now