Capítulo 16

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A emoção tomou conta da sala. Maria não sabia o que dizer, ficava olhando para os sobrinhos com os olhos marejados e um sorriso que iluminava tudo ao seu redor.

- A tia Carol tinha razão. - disse Henrique. - Ela é igualzinha a mamãe.

- Tia Maria! - disse Luíza abraçando Maria.

Maria não pôde evitar a surpresa e a emoção que aquele gesto lhe causara. Ela abraça Luíza.


- Luíza, querida! - disse Maria. - Deixa eu te ver. Você é igual a sua mãe. Os mesmos olhos reluzentes e cintilantes que ela tinha!

- Sério? Acha que sou parecida com a mamãe? - disse Luíza.

- Olhar pra você... Pra mim, é como voltar no tempo. Tempo em que sua mãe e eu estávamos juntas. - disse Maria deixando algumas lágrimas caírem.

- E vocês dois? - disse Luíza aos irmãos. - Vão ficar aí pensando que estão vendo um fantasma?! Venham aqui dar um abraço na tia Maria!


Henrique e Pedro se aproximam.


- Seja bem vinda, tia! - disse Henrique abraçando-a.

- Obrigada, filho.

- É um prazer te conhecer, tia! - disse Pedro dando um abraço bem apertado em Maria.

- Obrigada, meu querido. ... Não sabem o quanto significa pra mim estar aqui, perto de vocês, poder falar com vocês!

- Ai, tia! - disse Luíza. - Temos tantas perguntas pra te fazer. Sobre você e a mamãe.

- Luíza, filha, devagar. - disse Estevão. - Deixe a Maria se recompor primeiro.

- Não se preocupe, Estevão. Eu estou bem. - disse Maria sorrindo. - Pode perguntar o que quiser, Luíza.


Estevão nunca vira os filhos tão empolgados, tão felizes, como naquele momento. Até Pedro, que evitava jantares em família, aceitou ficar e participar.


- Sem dúvida, a Maria é uma mulher cativante, não é primo? - disse Carolina percebendo que Estevão não parava de olhar para Maria.

- Sim. Ela é. - disse Estevão sem perceber o sorriso bobo que tinha.

- Uma mulher assim, é quase impossível que esteja sozinha, não é?

- O quê? - disse Estevão voltando do transe.

- Eu disse que uma mulher assim, é quase impossível que esteja sozinha.

- Pois acho que está. - disse Estevão.

- Mas e o Afonso? Na outra noite, ele pareceu cheio afeto com ela. - disse Carolina.

- Quanto a isso, eu não sei. E nem me interessa. - chegou a ser ríspido e saiu.


"Como eu imaginava! ... A Maria mexe com ele!" pensou Carolina com um sorriso.


Helena foi buscar o álbum de família para que Maria pudesse ver.


- Olha, Maria!... Olha como os meninos eram uns pimpolhos! - disse Helena toda derretida.

- Ah, vovó!... Mostrar as nossas fotos de bebês é covardia. - disse Pedro.

- Como se não soubesse como é sua avó, Pedro. - disse Emiliano. - Ela adora mostrar essas fotos pras visitas!

- Por mim, não tem problema, Seu Emiliano. - disse Maria. - Adoro fotos de criança.


De repente, Maria observa a foto de sua irmã.


- Marcela.

- Essa foi uma das últimas fotos que ela tirou, antes do... Você sabe. - disse Helena.


O clima ficou melancólico. Foi então que Carolina resolveu salvar a situação.


- Tia, por que a senhora não vai pegar as fotos do Estevão, quando ele era criança pra Maria ver?

- O que?! - disse Estevão. - Nem pensar!

- Por que papai? - disse Luíza. - Qual é o problema?

- Pra quê? Pra vocês rirem aí, as minhas custas?! Sem chance! - disse Estevão.

- Ora, Estevão, o que é isso!... - disse Maria. - Tenho certeza que você era uma criança adorável! - disse ela com um sorriso provocativo.

- Não liga não, Maria. - disse Carolina. - Ele tá assim porque quando ele era criança ele era gordinho. - disse Carolina sorrindo.

- Sério, Carolina? - disse Maria rindo.

- As duas aí, querem parar com isso! - disse Estevão.


O clima estava maravilhoso. Era como se Maria já conhecesse os San Roman há muito tempo. E eles a ela. Estavam rindo, estavam felizes. Até que esse momento é interrompido por uma voz.


- Ouvi tantas risadas que não poderia ficar de fora dessa alegria. - disse Tereza.

- Tereza! - disse Estevão indo até a prima. - Como você está? Carol me disse que estava indisposta.

- Realmente, estava mesmo. Mas já estou melhor. E eu não poderia perder esse jantar que foi feito especialmente pra você, Maria.

- Como vai, Tereza? É bom ver que já está melhor. - disse Maria tentando ser educada, mas já havia percebido a falsidade de Tereza.

- Estava bom demais pra ser verdade! - sussurrou Luíza.

- Luíza! - advertiu Emiliano em voz baixa.


Foi quando Rebeca, a empregada, apareceu anunciando o jantar.


- O jantar está servido.


Todos se encaminham para a mesa. Carolina havia contado os lugares certinho, fora a cadeira que era de Marcela, pois achou que Tereza não viesse.


- Ah, Maria. Você ficou sem lugar! - disse Tereza com falsidade. - Vou pedir que Rebeca coloque mais um lugar a mesa pra você.

- Não se incomode, Tereza! - disparou Luíza. - A tia Maria pode se sentar aqui. - disse ela puxando a cadeira que era de sua mãe.


Todos olharam com espanto. Ninguém se sentava naquela cadeira. De todos, o mais espantado era Estevão.


- Mas essa é a cadeira da...! - disse Tereza.

- Eu sei muito bem de quem ela é, Tereza! - disse Luíza. - Era da minha mãe. E como a tia Maria era irmã da minha mãe, eu gostaria que ela se sentasse aqui.

- Eu agradeço, Luíza. - disse Maria. - Mas eu não posso aceitar. Esse lugar era da Marcela. ... Seus irmãos e seu pai podem não gostar, eu...

- Por mim não tem nenhum problema. - disse Pedro.

- Nem por mim. - disse Henrique.

- E o senhor papai? O senhor se importa? - perguntou Luíza.

- Claro que não, filha. - disse Estevão se levantando e ele mesmo ajeitando a cadeira para que Maria sentasse.

- Por favor, Maria. Sente-se. - disse ele com um leve sorriso.

- Obrigada. - disse Maria.


Ver Estevão e Maria trocando olhares deixou Tereza quase que possessa. Então, ela resolveu provocar.


- Maria, por que você não fala mais de você? Por onde andou todos esses anos? Nós sabemos tão pouco!

- Eu não colocaria dessa forma, Tereza. Acho que vocês sabem o suficiente. - disse Maria sutilmente.

- Ah, mas nesse ponto, eu concordo com a tia Tereza. - disse Henrique. - A senhora quase não falou de você. Por que, tia?

- Eu não gosto muito de falar de mim, Henrique. Não há nada de interessante pra contar. - disse Maria disfarçando.

- Mas isso eu duvido! - disse Tereza. - Uma mulher que passou tanto tempo no exterior deve ter muitas histórias pra contar!


Maria percebeu o jogo de Tereza. Ela queria de alguma forma a constranger, provavelmente já percebera que Maria escondia alguma coisa e queria de qualquer forma descobrir. Mas Maria não era nada boba. Mulheres do tipo de Tereza ela conheceu aos montes na prisão. Ela sabia como lidar com gente assim.


- Não são tão interessantes quanto as suas com minha irmã Marcela. Vocês eram muito amigas? - pergunta Maria.

- As melhores! - disse Tereza. - Eu era como uma irmã pra ela. - provocou.


Para Maria, ouvir aquilo doeu. Mas ela não deixou transparecer. Saiu por cima.


- Fico muito contente em saber que minha irmã era muito amada por vocês. Que ela sempre pôde ter alguém em quem confiar! - disse ela com uma pitada de ironia e olhando para Estevão. - Um marido fiel, uma prima quase irmã, uma mãe, um pai... Era tudo o que sonhávamos quando estávamos no orfanato. E ela conseguiu tudo isso. Definitivamente, minha irmã tirou a sorte grande! - disse ela mais ima vez em tom ironico que só Estevão percebeu.


Apesar do clima estranho que ficou depois do aparecimento de Tereza, correu tudo bem no jantar. Mas a hora passara rápido e era o momento de Maria ir embora.


- Tia Maria, por que a senhora não dorme aqui, essa noite? - pergunta Luíza.

- Não posso, querida. Preciso ir mesmo.

- Eu te levo, Maria. - disse Estevão.

- Não precisa se incomodar, Estevão. Está tarde.

- É por isso, mesmo. Eu te trouxe, eu te levo. - insistiu Estevão.

- Eu prefiro pegar um táxi, obrigada. Não quero te dar trabalho.

- Deixa ela, Estevão. - disse Tereza. - Ela não quer.

- Maria, filha. - disse Helena. - Deixe o Estevão te levar. Assim ficamos mais tranquilos.

- Uma mulher não deve andar num táxi sozinha por aí. - disse Emiliano.

- Concordo com a vovó. Deixa o coroa te levar. - disse Pedro.

- É melhor, Maria. - disse Carolina.


Todos insistiram, menos Tereza.


- Está bem. - disse Maria. - Parece que sou voto vencido! - ela sorri. - Tudo bem, Estevão. Pode me levar.


***

No caminho de volta, Maria estava calada, pensativa.


- Estava tão falante durante o jantar, e agora está calada. - disse Estevão.

- Estava pensando em quantas coisas eu perdi todo esse tempo. Você tem uma família maravilhosa, Estevão. Tirando a Tereza, é claro. - disse Maria.

- Tereza?... Por que fala assim dela?

- Porque ela é falsa e dissimulada.

- Não fale assim da Tereza. Ela tem me ajudado a cuidar dos meninos desde que Marcela morreu.

- Só Deus sabe com que intenções! - disse Maria.

- O que quer dizer? - perguntou Estevão.

- Que ela está apaixonada por você. Dá pra perceber à quilômetros. Mas vocês homens não enxergam nada mesmo.

- As mulheres é que vêem maldade em tudo. - disse Estevão.

- Sei.

- A verdade é que você se sentiu acoada com as perguntas dela sobre o seu passado misterioso que não quer que ninguém saiba. - disse Estevão.

- Acoada?! - disse Maria com uma risada de deboche. - Escute bem, Estevão San Roman, ninguém me deixa acoada. - disse ela disparando um olhar fulminante para Estevão.


"Já veremos isso!" pensou Estevão com um sorriso.


Eles chegam ao prédio de Maria.


- Obrigada por me trazer. Boa noite. - disse ela saindo do carro rapidamente.


Mas Estevão é mais rápido e consegue alcançá-la. E a segura pelo braço.


- Espere, Maria.

- O que você quer Estevão? Que mania de me puxar pelo braço! - exclamou Maria.

- Desculpe, é que você sempre se afasta assim, parece que está fugindo de alguma coisa, ou de alguém. - disse Estevão.

- Se acha que estou fugindo de você, está muito enganado. Eu não fujo de ninguém. - disse Maria.

- Eu só quero te agradecer. - disse Estevão.

- Me agradecer? "Essa é nova!" pensou Maria.

- Meus filhos estavam muito felizes hoje. E eu devo isso a você. Obrigado.

- Eu é que devo te agradecer por ter reconsiderado e ter me deixado conhecê-los. - disse Maria sorrindo.

- Ué? Pensei que tivesse dito que não iria me agradecer. Que eu estava fazendo somente a minha obrigação, e tal e coisa... - disse Estevão sorrindo.

- É, eu disse. Mas acho que posso te dar esse crédito. - disse Maria ainda sorrindo.

- Você fica ainda mais linda quando sorri. - disse Estevão acariciando o rosto de Maria.


Maria não sabia o que estava acontecendo, aquele homem se aproximava dela e ela não conseguia resistir e se afastar. Ela olhava para aqueles olhos e se perdia neles completamente. E Estevão olhava para aqueles lábios de Maria, lábios os quais tinha uma vontade quase que insana de beijá-los.
Ele se aproxima dela e a beija. Um beijo que começa delicado, carinhoso e depois se intensifica tornando-se apaixonado e cheio de desejo.
Estevão segurava Maria pela cintura e a apertava contra o seu corpo num abraço forte do qual Maria não conseguia e parecia não querer se soltar. Ela colocou seus braços em volta do pescoço de Estevão como se quisesse traze-lo para mais perto de si, como se quisesse sentir aquele beijo um pouco mais. A necessidade de fôlego torna-se maior e eles se separam mas continuam com suas testas juntas uma na outra.


- Me desculpe, eu não pude resistir. - disse Estevão.

- Isso foi um erro. Um grande erro. - disse Maria se soltando dele e entrando no prédio.


Estevão fica lá, parado, perdido.


"O que você está fazendo comigo, Maria?" pensava ele.


Maria entra em seu apartamento, passa a tranca na porta, desaba no sofá e fica olhando para o teto.


"Maria, sua idiota! O que foi que você fez?!" pensava ela colocando as mãos no rosto.

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