Capítulo 18

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Afonso levou Maria ao restaurante mais caro e mais bonito da cidade.

- Nossa! Que lugar mais lindo! - disse Maria olhando em volta, mas sem se impressionar muito. - Toda essa produção só pra me levar pra almoçar?

- E olha que eu ainda corria o risco de você não aceitar. - disse Afonso com um leve sorriso.

- E por que não aceitaria?... Você foi muito atencioso comigo no dia do jantar na casa do Estevão, correu o risco dele se indispor com você só pra me ajudar.

- Acredito que por uma beleza como a sua vale a pena correr certos riscos. - disse Afonso olhando para Maria.

- Ainda por cima, é um sedutor! - disse Maria sorrindo.

- Não. ... Não me julgo um sedutor. Mas um admirador da beleza feminina. E a sua, é digna de ser admirada. - disse Afonso.

- Eu agradeço o elogio. - disse Maria analisando Afonso. - Mas eu também aceitei vir por outro motivo. Além da sua companhia, é claro. - disse ela sendo gentil.

- E o qual é esse outro motivo? - pergunta Afonso.

- Você é amigo dos San Roman há muito tempo, não é?

- Sim. Bastante tempo, como eu ja lhe disse, Marcela conheceu Estevão através de mim. - disse Afonso.

- Você acompanhou todos os trâmites legais acerca do acidente da minha irmã? - pergunta Maria.

- Sim, acompanhei tudo de perto. Foi um momento muito difícil pra todos. - disse Afonso.

- O carro que ela dirigia, foi verificado? - pergunta Maria.

- Não entendo, Maria. Do que desconfia? - disse Afonso tentando disfarçar.

- Nada. Ainda. Só quero saber mais sobre a morte da minha irmã, só isso. - disse Maria, calmamente.

- O que eu sei é que Estevão cuidou dessa parte. - disse Afonso.

- Ah, foi o Estevão? - disse Maria.

- Sim. Ele era o marido, nada mais natural que ele cuidasse disso.

- Sei. - disse Maria com o olhar desconfiado.


Ver Maria com aquele olhar, principalmente em relação à Estevão, deixava Afonso contente. Ele não estava disposto a deixar que Maria e Estevão se dessem bem.


- Me diga uma coisa, Afonso. Quando minha irmã se casou com Estevão, ela recebeu algum direito em relação a empresa? - pergunta Maria.

- Bom... Estevão presenteou sua irmã com um pacote de ações. - disse Afonso. - Por quê?

- Nada em especial, só curiosidade. - disse Maria.


"Então, minha irmã tinha ações das empresas San Roman?... Interessante!" pensou Maria.


***

De volta às Empresas San Roman.

Sala de Estevão.

Estevão não conseguia parar de pensar em Maria. Ela estava mexendo com ele pra valer. E não era o fato de se parecer com a Marcela, era por outra coisa. Ele pega o telefone.


- Lupita, o Afonso já chegou do almoço? - ele pergunta.

- Ainda não, senhor. - responde Lupita.


Ele desliga o telefone aborrecido.


- Ainda não chegou!... Será que ainda está com a Maria?!


Estevão não pensa mais. Sai de sua sala.


- Lupita, remarque todos os meus compromissos pra amanhã, eu não volto mais hoje. - disse ele.

- Sim, senhor.


***

Mansão San Roman.

Carolina não era como Tereza, não sabia dissimular, fingir. Aquela conversa que escutara de Pedro, a deixou muito preocupada.


"E agora? O que eu faço?... Não posso contar pros tios, eles podem se preocupar mais que eu. Se eu contar pra Tereza, ela "pan" no ouvido do Estevão e ele pode se zangar com Pedro e lá se vai a confusão. Se eu perguntar pro Pedro, ele vai negar. Se eu contar pro Estevão, teremos confusão do mesmo jeito!... Meu Deus, o que eu faço?" pensava Carolina.


Ela pega sua bolsa e resolve sair.


***

Apartamento de Maria.

Estevão vai ao apartamento de Maria, quase que pedindo inconscientemente que ela estivesse em casa, que não estivesse com Afonso.
Ele toca a campainha. Maria abre e ele entra sem fazer cerimônia.


- Pode entrar, eu deixo! - disse Maria irônica.

- Me poupe da sua ironia, não estou com paciência pra isso agora! - disse Estevão.

- Olha só! Alguém parece que não almoçou!... Esse mal humor todo só pode ser fome! - disse ela.

- O que quer Maria? Me enlouquecer, é isso? Brincar comigo? Ou com Afonso? Ou com os dois?! - disse ele visivelmente alterado.

- Mas do que é que você está falando? - pergunta Maria sem entender.

- Estou falando de nós dois!... Olha, nos beijamos, você fez toda aquela cena com Alice hoje mais cedo como se estivesse com ciumes. E logo em seguida, você vai almoçar com Afonso?... Aposto que se beijaram também! O que foi Maria? Um só não chega?!... Precisa de dois pra encher o seu ego?! - disse ele se excedendo.


Maria se aproxima dele lentamente.


- Você nunca aprende, não é? - disse ela lhe dando outro tabefe.

- Sabia que desde que nos conhecemos você só sabe me bater?! - disse Estevão massageando o rosto. - Já tá começando a ficar dolorido!

- Por mim, a sua cara pode cair! É assim que vou te tratar cada vez que você me ofender e agir como um cretino! - disse Maria.


Estevão respira fundo. O seu maior inimigo sempre foi o seu gênio forte, e ele muitas vezes, num momento de raiva se excedia e dizia coisas sem pensar.


- Eu não estou brincando com ninguém!... - disse Maria. - Fui almoçar com Afonso em forma de agradecimento por ele ter concordado em me ajudar naquela noite do jantarna sua casa. E também porque precisava falar com ele sobre outra coisa.

- Que outra coisa? - pergunta Estevão.

- Isso é assunto meu! - disse Maria. - Se você esqueceu, sua noiva é outra. Ela é quem lhe deve satisfações, não eu!

- Existe algo entre você e o Afonso? - pergunta Estevão sendo bem direto.

- E se houver? É da sua conta? - pergunta Maria.


Estevão detestava quando Maria bancava a evasiva.


- Me responda uma coisa, Estevão.

- O que é?

- Você ama a Alice? - pergunta Maria.

- Eu gosto muito dela sim. - disse Estevão.

- Não perguntei se gosta. Perguntei se ama. - disse Maria bem direta.

- Por que quer saber disso? - pergunta Estevão.


Agora, ele era quem estava sendo evasivo.


- Por que é tão difícil de responder?... - disse Maria. - Sabe por quê? Porque você não a ama. Simples assim.

- Não conhece meus sentimentos, Maria.

- Tem razão, não conheço. Mas um homem apaixonado por sua noiva, não beijaria outra mulher, concorda? Principalmente da forma como me beijou. - disse Maria o fitando.

- Está dizendo que eu estou apaixonado por você? - disse Estevão.

- Não, Estevão. Estou dizendo que você não sabe o que quer. Você não ama essa mulherzinha, por que vai se casar com ela?


Estevão não responde. Não sabia o que responder.


- Mas, mudando de assunto, foi até bom que viesse aqui. Tenho algo a lhe perguntar sobre a morte da Marcela.

- O que é? - ele pergunta.

- Você mandou verificar o carro da Marcela depois do acidente?


Estevão pareceu desconfortável com aquela pergunta.


- Por que quer saber disso? - disse ele.

- Por que você não responde? - disse Maria. - Está escondendo alguma coisa?

- Eu não estou escondendo nada! - disse ele.

- Então por que não me responde?! Mandou ou não?! - insiste Maria.

- Não, eu não mandei!


Maria ficou espantada.


- Por que me olha assim?... Não está pensando que...! - disse Estevão chocado imaginando o que Maria pudesse estar pensando. - Maria, o que aconteceu com Marcela foi um acidente!

- Então por que não mandou verificar o que sobrou do carro dela? Pra ter certeza!

- Porque... Porque o carro em que ela se acidentou não era o dela, era o meu.


Maria fica surpresa.


- Seu carro?

- Sim. Marcela estava no meu carro quando o acidente aconteceu. Entende agora por que eu não quis mais mexer nisso?... Eu já estava me sentindo tão culpado... Saber dos detalhes da morte dela não iria traze-la de volta. - disse Estevão com os olhos marejados.

- Se sentia culpa, foi por tudo que fez a ela! - disse Maria.

- Pra você é muito fácil fazer acusações!... Você pensa que foi a única que sofreu e ainda sofre com a perda de Marcela?!... Acha que é fácil pra mim dormir e acordar todos os dias com o vazio da cama ao meu lado?!... Um vazio que inunda o meu coração até hoje desde que Marcela se foi e me deixou sozinho com meus filhos!... Como acha que eu fiquei ao ter que dizer a cada um deles que sua mãe não estaria mais com eles?!... Todos nós sofremos, Maria. Não foi só você.


Estevão não pôde segurar algumas lágrimas que caíram pelo seu rosto. E Maria se sentiu mal por vê-lo daquela forma. Exposto e frágil como ela um dia ficara em sua frente.
Ela se deu conta que todos esses anos na prisão a fizeram se tornar um pouco insensível a dor dos outros. Para ela, a única coisa que importava era a sua dor. Maria, com tristeza, percebeu que, sem querer, havia se tornado uma pessoa egoísta.
Ela toma uma atitude da qual pensa que poderá se arrepender depois. Mas o depois é depois. Maria vê Estevão daquele jeito, e faz a única coisa que sabia que ele estava precisando naquele momento. Ela o abraça.


- Eu sinto muito pela sua dor. - ela diz enquanto o abraçava.


Ele se surpreende com a atitude dela. Mas corresponde o abraço, pois realmente estava precisando dele. Estava precisando receber um abraço como aquele. Mas, acima de tudo, estava precisando do abraço de Maria.


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