Capítulo 8

750 57 3
                                    

Dia seguinte.

Como Maria havia combinado com o Padre Manoel, ela o encontra bem cedo na igreja.

- Por que fez questão que fosse tão cedo, Padre? - pergunta Maria.

- Porque assim, teremos chance de ver os meninos sem muita gente por perto. - disse o Padre.

- Me sinto como se ainda fosse uma criminosa!... Onde já se viu?! Ter que ver os meus sobrinhos as escondidas! - protestou Maria.

- Nós já conversamos sobre isso, Maria. E não seja exagerada. É só uma forma discreta. Pense que é só por enquanto.

- Está certo, Padre. E pra onde vamos?

- Vamos ficar nos arredores das Empresas San Roman. Lá esperamos e logo você vai conseguir ver o Henrique.

- Henrique? - disse Maria com entusiasmo.

- Sim. Ele é o filho mais velho do Estevão e de sua irmã.

Maria abre um sorriso de orelha a orelha ao pensar na possibilidade poder ver um de seus sobrinhos.


***

Mansão San Roman.

Todos estavam na mesa tomando café da manhã. Pedro foi o último a descer.


- Bom dia, querido. - disse Helena.

- Bom dia, vovó. - disse ele dando um beijo na testa de Helena.

- Bom dia, meu rapaz. - disse Emiliano.

- Bom dia, vovô. Bom dia à todos. - disse ele sério.


O fato de Pedro estar de óculos escuros chamou a atenção de Estevão.


- E esses óculos? Por que você não tira?

- Porque acordei com dor nos olhos e estou evitando muita claridade. - mentiu Pedro.

- Mesmo assim, é falta de educação. Tire esses óculos. - pediu Estevão.

- Pai, não começa. - disse Pedro.

- Pedro, tire esses óculos. Eu quero ver os seus olhos.

- Por favor, Estevão. Não vamos começar com uma briga logo de manhã, não é? - ponderou Helena.

- Eu não estou bringando, mãe. Só quero olhar para os olhos de um dos meus filhos. - disse ele calmamente, como se desconfiasse de alguma coisa. - Vamos, Pedro. Tire.

- Vamos, maninho, o que custa? - disse Luíza.

- Tira logo esses óculos, Pedro! Deixa de fazer birra! - disse Henrique.

- Tanta confusão por causa de um par de óculos! - disse Tereza.

- Não se meta, Tereza! - disse Carolina.


Pedro se zanga.


- Já que fazem tanta questão...! - ele tira os óculos deixando a mostra o olho roxo. - Tá aí! Tão satisfeitos?!

- Meu filho! - exclamou Helena. - Mas o que foi isso?! - disse ela se aproximando do neto.

- Não foi nada demais, vovó. Está tudo bem. - disse Pedro.

- Não! Não tá nada bem! - disse Estevão. - Como o seu olho ficou desse jeito??

- Isso é assunto meu! - rebateu Pedro.

- Como é assunto seu?! Eu sou seu pai! Tenho o direito de saber!

- Calma, Estevão. Se zangar não resolve nada. - disse Carolina.

- A tia Carol tem razão, papai. - disse Luíza.

- É, filho. Acalme-se. - disse Emiliano.

- Mano, conta o que houve. - pediu Henrique.

- Por que tá todo mundo se estressando comigo?! Já disse que não foi nada demais!

- Filho, - disse Estevão. - Eu juro que queria entender por que você ficou assim, arredio, arisco com todo mundo. O que foi que aconteceu com você?!

- Quer mesmo saber?... - perguntou Pedro. - Quer mesmo que todos saibam?

- Sim, eu quero. - disse Estevão.


Por um instante, Pedro quis abrir o jogo com todos, dizer o por que de uma hora para outra passou a evitar a família e, praticamente, odiar o próprio pai.

- Não. Meus irmãos não merecem isso. - disse ele se retirando.

- Pedro, volte aqui! - disse Estevão. - Pedro!


Pedro não dá ouvidos e sai.


- Pai, - disse Henrique. - Do que Pedro estava falando?

- Sim, papai. - disse Luíza. - O que é que Henrique e eu não merecemos saber?

- E por que vocês acham que eu sei?! - disse Estevão.


Ambos ficaram com a pulga atrás da orelha, com aquela conversa de Pedro.


***

Aos arredores das Empresas San Roman...


- Aqui está bom, Maria. Vamos esperar. - disse o Padre Manoel.

- Certo, Padre. - disse Maria um pouco ansiosa.


Eles não tiveram que esperar muito. Logo em seguida, chegam Estevão e Henrique, as portas da empresa.


- Ali estão eles, Maria. - disse o Padre.

- Aquele que está com Estevão é o...

- Aquele é o Henrique, Maria. O filho mais velho da sua irmã.


Maria sentiu seu coração se encher de alegria quando viu um de seus sobrinhos.


- Padre, ele é um belo rapaz! - disse Maria emocionada. - Tenho que admitir que se parece com o pai dele. Alto, bonito, e tem até um certo charme.

- Está falando do Henrique, ou do Estevão? - perguntou o Padre com um sorriso.

- Do Henrique, Padre!... Se Marcela pudesse vê-lo, aposto que ficaria toda orgulhosa! - disse Maria enxugando uma lágrima que caiu.

- Assim como você está agora. - disse o Padre. - Agora precisamos ir, antes que eles nos vejam.

- E o que tem se eles nos verem?! - disse Maria.

- Maria, nosso acordo não foi esse. Não esqueça.

- Está bem, Padre. - bufa Maria.- Me desculpe. Vamos. - disse Maria.


***

Algum tempo depois, Maria e Padre Manoel estavam aos arredores da Universidade onde Luíza estudava.


- E agora, Padre? - pergunta Maria.

- Agora, você vai ver sua sobrinha caçula Luíza.

- Luíza?

- Sim. ... E olha que sorte, Maria! Dois pelo preço de um! - disse o Padre.

- O que quer dizer, Padre?

- Olhe alí... - disse ele apontando para a porta da Universidade. - Aqueles ali são seus outros dois sobrinhos. Luíza, a caçula; e o filho do meio Pedro.

- Meu Deus, Padre! - admira-se Maria. - Luíza é igual a Marcela quando éramos jovens!

- Isso quer dizer que ela também é igual a você, filha! - disse o Padre.

- Mas ela parece ter a doçura dos olhos da Marcela. - disse Maria. - E o Pedro se parece... Lembra da única foto que Marcela e eu tínhamos dos nossos pais?

- Sim.

- Pedro se parece com o avô dele, o meu pai. - disse Maria sorrindo.

- Que bom que você está feliz, filha. - disse o Padre.

- Sim, Padre. Estou muito feliz, graças ao senhor.... Mas eu não vou ficar me escondendo pra sempre dos meus sobrinhos. Mais cedo ou mais tarde, Estevão vai ter que aceitar que eu me aproxime deles! - disse Maria.

- Vocês dois precisam se sentar com calma e conversar sobre essa situação.... Bom, precisamos ir.

- Sim, Padre. Vamos.


Maria e Padre Manoel vão embora. Enquanto isso, na porta da universidade...


- Obrigada pela carona, maninho! - disse Luíza. - Até o meu carro sair da revisão, vou ter que depender da carona de todo mundo. - brincou Luíza.

- Não se preocupe. E me ligue pra eu vir te buscar. Não quero que ande sozinha por aí. - disse Pedro.

- Você é um irmão e tanto!... Uma pena que você e o papai vivam brigando agora.... O que aconteceu com vocês, Pedro? - perguntou Luíza.

- Luíza, eu não quero falar disso, tá bom?

- Mas eu sinto. E o Henrique também. Você sabe de alguma coisa do papai e não quer nos contar!

- Porque eu não quero que vocês sofram! Basta eu!

- Pedro, mas somos irmãos. Lembra que prometemos sempre cuidar um do outro?... Por favor.

- Não insiste, Luíza. Agora vai, se não vai se atrasar pra sua aula. Anda, vai logo.

- Tá bom! Tchau! - disse ela dando um abraço e um beijo no irmão e saindo.


"Ah, irmãzinha!... Quisera eu poder te contar o que eu sei do papai, mas você sofreria demais. E o Henrique?... O Henrique já tem os próprios problemas!"


***

Mais tarde.

Apartamento de Alice.

A campainha toca.


- Henrique? - disse Alice.

- Você não presta, mesmo! - disse Henrique entrando de uma vez. - Como pôde?!... Aceitou o pedido de casamento do meu pai?!


***

Empresas San Roman.

Alguém também invadia a sala de Estevão nesse exato momento.


- Senhora, não pode entrar desse jeito... - dizia Lupita.

- Vamos ver se eu não posso entrar!


Ela abre a porta com tudo.


- Que história é essa de você me proibir de conhecer os meus sobrinhos, Estevão San Roman?! - disse Maria.


Estevão fica um pouco desconcertado.


- Mas o que está fazendo aqui?! - disse Estevão.







Coração Dividido Onde histórias criam vida. Descubra agora