Apenas chore

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Posso dizer que nunca andei tanto na minha vida quanto dessa vez. Andamos para todos os lados da região e não o encontramos, resolvi ir pra casa pois já estava anoitecendo. 

Anna: Vejo você amanhã - acenou enquanto entrava na rua dela.

Sorri e acenei também.

Estava tão preocupada, meus pensamentos estavam me matando, estava torcendo para que quando eu chegasse em casa, minha mãe me dissesse que Melissa ligou avisando que Miguel já havia chegado. Mas não foi o que aconteceu.

Lucy: Graças a Deus você chegou, achei que fosse sumir também.

Cecília: Alguma noticia de Miguel? - ignorei o comentário dela.

Lucy: Não, nenhuma. Acabei de ir lá na casa dele pra saber como eles estavam, Melissa não para de chorar.

Cecília: Compreensível - caminhei até as escadas.

Justin: Cecília espera, precisamos conversar com você.

Cecília: O que foi? - o olhei.

Justin: Você esta diferente ultimamente, o que esta acontecendo?

Cecília: Diferente como?

Justin: Mais séria, quieta, não aparenta mais ser aquela garota doce e alegre, não conosco.

Cecília: Talvez seja apenas os efeitos colaterais de viver - subi a escada.

Justin: Espera eu ainda não acabei! 

Parei no penúltimo degrau e virei-me para ele.

Justin: Tome cuidado com as amizades, com o que faz e fala, nessa idade achamos que tudo não tem solução, ficamos deprimidos e solitários, não seja assim, para tudo há uma saída, ainda mais nessa idade, tem muito que viver e aprender ainda.

Cecília: Não sou uma Amy Winehouse, não se preocupe - rolei os olhos - quero ficar sozinha, estou com dor de cabeça e não vou ficar em paz enquanto eu não souber que Miguel esta bem, com licença.. - continuei andando.

Lucy: Amor, deixa - segurou meu pai que já ia se levantando para continuar com o sermão - ela só esta aflita com o sumiço dele, temos que ter paciência.

Justin: Esta bem.. - respirou fundo e sentou-se no sofá novamente.

Quando cheguei na escola, falei pouco com Anna, inventei novamente a desculpa que estava com dor de cabeça para evitar falar com quer que seja que quisesse puxar assunto comigo. Fiquei acordada até as duas e meia da manhã, só dormi porque desci pra cozinha e tomei um remédio para dar sono, se não, teria passado a madrugada toda acordada. Desde cedo não tive notícias nenhuma dele, passei em frente a casa de Miguel enquanto ia para a escola e estava tudo fechado.

Entrei na sala e a primeira pessoa que procurei foi por ele, mas não havia chegado ainda, ou nem iria. Jackson me olhava a todo instante, estava me irritando, quase mudei de lugar para a primeira carteira de qualquer uma das fileiras, pena que estavam todas ocupadas. Para piorar o dia, Jennifer dando aquele sorriso irônico, nunca tive vontade de voar no pescoço de alguém tanto quanto tenho vontade de pular no dela.

O professor chegou na sala e minhas esperanças de que Miguel também chegasse foram por água a baixo. A aula era de matemática, não consegui prestar atenção em absolutamente nada que ele dizia, fui apenas copiando o que estava na lousa e na hora dos exercícios? Simplesmente não fiz.

Após cinco minutos do sinal da segunda aula tocar, enquanto a professora fazia a chamada, alguém interrompeu a aula, duas batidas na porta, olhei e vi duas sombras, duas pessoas aguardando.

A professora levantou-se, caminhou até a porta e abriu. Lá estava ele, Miguel, mas não estava só, acompanhado da vice-diretora. Ele estava péssimo, para ser sincera. Seus olhos estavam cansados, com pequenas olheiras, como se não tivesse dormido a dias, a roupa um pouco amassada, um semblante de exausto. 

Vice-diretora: Ele teve que entrar na segunda aula por problemas familiares, tudo bem?

Professora: Claro, pode entrar. 

Ele entrou de cabeça baixa e dirigiu-se para seu lugar, todos estavam olhando para ele, mas logo a atenção foi desviada para a professora que continuou a chamada. 

Estava finalmente tranquila por telo por perto e saber que ele estava de certa forma bem, mas ainda existia aquela pequena preocupação pelo jeito que ele estava, totalmente diferente, pra ser mais clara, estava estranho. 

Fiquei me segurando a aula toda para não falar com ele, mandar um bilhete ou mensagem no celular para saber o que havia acontecido e como ele estava se sentindo. 

Quando o sinal do intervalo tocou, todos foram rapidamente para fora da sala pro refeitório, falei com Anna enquanto saíamos da sala e disse que iria conversar com Miguel sozinha, ela levou numa boa e disse que estaria no pátio com as outras garotas, concordei e fui procurar por ele.

Miguel estava no ginásio, sentado no último banco da arquibancada olhando os garotos jogarem futebol, caminhei em sua direção e ele logo percebeu que eu me aproximava.

Me sentei ao seu lado e não disse nada, ele também permaneceu quieto olhando a quadra. Respirei fundo e acariciei sua mão com o polegar, mas ele logo encolheu os dedos e a colocou para dentro do bolso do moletom que vestia.

Dobrei as pernas e me sentei de frente para ele, o olhei nos olhos, mas ele insistia em desviar o olhar.

Cecília: O que eu fiz de errado? - disse com voz de choro.

Ele ficou quieto.

Cecília: Miguel o que eu fiz de errado?! 

Ele engoliu em seco, permaneceu olhando os garotos jogarem mas dessa vez se pronunciou depois de um breve silêncio.

Miguel: Nada - foi curto na resposta.

Cecília: Mas que droga, o que esta acontecendo com você?! 

Miguel: Nada, eu to bem.

Cecília: Não, não esta, ta visível que você não esta bem.

Miguel: Só me deixa em paz, ta? - finalmente me olhou.

Cecília: Não, não vou te deixar em paz. Porque é o momento que você mais precisa de alguém.

Miguel: Esse alguém não é você, esse alguém, não é ninguém! Eu não preciso de ninguém entendeu?! - se levantou - me deixa Cecília, eu não quero te magoar - me encarou.

Cecília: Tarde de mais - me levantei.

Olhei para ele mais uma vez e me afastei, resolvi ir até o banheiro para que eu pudesse finalmente chorar em paz sem ninguém para me perturbar. Eu estava chorando de raiva e ao mesmo tempo por estar chateada, talvez fosse idiota estar derramando aquelas lágrimas, mas eu não estava mais aguentando segurar aquilo dentro de mim, eu não estava entendo nada o que acontecia, por que dessas atitudes dele, por que do sumiço, por que dessa mudança toda, por que de estar me tratando dessa maneira tão fria, era como se eu estivesse me sentindo culpada por algo que nem eu sabia o que era, mas simplesmente me sentia assim. 

Anna me viu correndo para o banheiro, se despediu das garotas e foi até lá. Por sorte, estava vazio, parei em frente ao espelho e fiquei me olhando enquanto chorava sem parar, era uma mistura de sentimentos que nem mesmo eu conseguia explicar. 

Anna: Cecília o que houve? - parou ao meu lado assustada - espera, não diz nada - me abraçou.

Aquele abraço com certeza foi o ideal pro momento, Anna não precisava dar o melhor conselho do mundo, brigar comigo por estar chorando por um motivo tão bobo ou me incentivar a secar as lágrimas e sorrir, apenas seu abraço, era o melhor conforto e a melhor decisão a ser tomada.

Anna: Não diz nada, apenas chore, faz bem chorar, melhor do que guardar para sí. Não precisa me dizer o que houve o que você acha que deve dizer, apenas chore e me abrace forte. 

Cecília: Você é a melhor - foi tudo que consegui dizer enquanto chorava e a abraçava.




O diário de Cecília..Onde histórias criam vida. Descubra agora