Fúria no olhar

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Levou poucos minutos para que o sinal tocasse, eu não queria voltar para a sala, não queria ter que enfrentar a mim mesma e segurar meus sentimentos fingindo estar tudo bem na frente de toda a turma, não queria ver ele, não queria ficar nem mais um instante ali. 

Anna: Precisamos voltar pra sala - se afastou no abraço.

Cecília: Eu não quero.

Anna: Não tem escolha, tem que enfrentar essa situação. A vida não é fácil, pessoas também não são e temos que aprender a lidar com isso. Vamos lá, você não esta sozinha, eu estou com você.

Olhei para ela e a abracei novamente, sorri de lado e sequei as lágrimas. Fomos as últimas a entrar na sala, evitei desviar o olhar, foquei apenas no meu lugar. 

Consegui me manter firme na primeira aula após o intervalo, mas depois não deu mais, minha cabeça estava latejando sem parar, meus olhos ardendo e visão embaçada pelas lágrimas, aproveitei a troca de professor e me encolhi na cadeira, abaixei minha cabeça na mesa e os braços ao redor tampando tudo daquela sala. Fechei meus olhos e respirei fundo, as malditas lágrimas insistiam em cair. 

Mesmo ouvindo o som da voz do outro professor, permaneci de cabeça baixa, por sorte, os outros dois professores que vieram me deixaram do jeito que eu estava, afinal a lógica deles é que se o aluno não quiser prestar atenção na aula, que não atrapalhe, quem vai se dar mal no final do ano somos nós não eles, então me deixaram quieta, eu não estava atrapalhando mesmo. 

Anna: Cecília.. - tocou meu ombro quando o sinal para irmos embora tocou e todos já haviam saído da sala - vamos?

Levantei a cabeça e a olhei, meu rosto estava encharcado, ela tirou da bolsa dois lenços e me entregou.

Cecília: Obrigada - disse enquanto me enxugava - não só pelos lenços mas pelo o que disse no banheiro e por tudo que esta fazendo por mim - guardei meu material.

Anna: Eu disse que queria ser sua amiga e...

Cecília: E esta sendo - complementei com um sorriso discreto.

Ela sorriu.

Anna: Ele ficou te olhando durante todas as aulas - disse enquanto caminhávamos para fora da escola.

Cecília: Quem? - respirei fundo.

Anna: Miguel.

Cecília: Ah..

Anna: Quer me dizer o que aconteceu?

Cecília: Fui falar com ele, saber se estava bem, o que estava acontecendo e ele me tratou na maior ignorância, pediu pra mim o deixar em paz...Ele foi tão grosseiro.. - respirei fundo.

Anna: Não é a primeira vez.

Cecília: Garotos são idiotas...

Anna: Nós mais ainda por nos importarmos com eles.

Cecília: É - a olhei - não vale a pena chorar por eles, mas eu não estava aguentando, tive que chorar.

Nem notamos que Jackson estava atrás de nós, ele na verdade estava me esperando no pátio para falar comigo, mas ficou quieto ao ouvir a conversa. Passou na nossa frente como um jato, parecia estar super atrasado para um compromisso muito importante pela maneira que saiu as pressas.

Anna: A quanto tempo ele estava trás de nós?

Cecília: Não sei, nem notei.

Anna: O que será que houve com ele?

Cecília: Também não sei, e sinceramente? Não me interessa.

Anna: Tem razão.

Notamos um grande tumulto na frente do colégio, havia um grupo de pessoas reunidos em rodinha, todos gritando sem parar, fazendo muito barulho.

O diário de Cecília..Onde histórias criam vida. Descubra agora